quinta-feira, março 09, 2006

Aviso

Somente para dizer que, para os que não podem ver as fotos que eu tirei (conforme eu falei não levei máquina digital) eu devo estar incluindo nos próximos dias (mais provável semanas) algumas fotos digitais que meus amigos e companheiros de trabalho tiraram, além de algumas que eu tirei do meu celular e dar uma organizada na ordem dos dias.

De modo que antes de tirarem dos favoritos, dêem uma passada aqui de vez em quando ao longo do mês de março e um pedaço de abril para ver algumas fotos exclusivas do blog.

EDIT (16/03): Conforme prometido, estou colocando as fotos relativas aos respectivos dias, ou seja, tem coisa que está lá no início. Além disso, tem os comentários 'construtivos' do Márcio, que trabalhou comigo lá em Sestriere. Ainda terão várias outras fotos, aguardem.

Cerimônia de Encerramento


Muito bem, agora depois que a poeira baixou, vamos ao balanço final da viagem.

Antes de mais nada, a fatídica pergunta: e ai, Salt Lake ou Torino?

Torino, com certeza, mas achei que teria mais convicção ao escrever isso. Talvez pelo fato de achar que Salt Lake era uma cidade muito parada e que Torino seria mais animada, mas na prática Torino não mudou muito durante o dia e a noite. Ou talvez porque Torino durante o dia parece mais triste por conta da névoa de fumaça que cobre a cidade (a qualidade do ar é horrível, pelo menos durante o inverno).

Ainda assim, Torino é melhor pelo fato das pessoas não aceitarem simplesmente os Jogos do jeito que eles são. Se houve um prejuízo (pequeno) para os cofres públicos, isso foi (incansavelmente) discutido nos anos anteriores e a prefeitura local fez de tudo para melhorar a cidade. Isso sem falar que as obras continuam mesmo depois dos Jogos, o que tornou as Olimpíadas apenas mais um motivo para seguir com as melhorias.

O meu trabalho talvez tenha influenciado um pouco. Ao invés de ficar o tempo inteiro em uma enorme tenda, dessa vez pude ficar no meio da ação, no momento em que ela estava acontecendo, e não apenas acompanhando pela TV. Tanto que deu para ter história para contar quase todos os dias, enquanto a 4 anos atrás os dias pareciam se repetir no final das Olimpíadas.

Mas valeu a pena. Valeu a espera, o esforço para conseguir um lugar para ficar, o tempo de viagem para trabalhar, o frio e a neve (que não estava tão ruim assim), o cansaço, as roubadas, entre outros obstáculos. Podia ser melhor, claro, mas nunca vai existir uma viagem onde tudo deu 100% certo. Talvez por isso sempre dá saudade na hora de partir, desejando voltar o mais rápido possível.

Obrigado aos leitores (fiéis ou nem tanto) que acompanharam durante todo o período. Espero que tenham gostado, apesar de não poder atualizar todos os dias, das notícias e espero que tenha conseguido mostrar como é interessante e divertido trabalhar no meio dessa loucura que virou os Jogos Olímpicos, em especial os de Inverno. Outros 'causos' de outros voluntários eu conto pessoalmente ou só com os próprios.

Antes de encerrar, só duas histórias rápidas que (coincidentemente aconteceram no mesmo dia) servem para ilustrar um pouco o espírito italiano de ser:

1 - A equipe italiana feminina de revezamento do Short Track conquistou uma medalha de bronze depois de uma decisão dos juízes de desclassificar a equipe chinesa, que chegou em terceiro na final, mas acabou atrapalhando a equipe italiana.

Depois da prova, mas antes da decisão final, segundo o jornal 'La Stampa', "O Palavela (ginásio onde a prova foi disputada) enfurecido gritava e vaiava a plenos pulmões. Só faltava Russell Crowe e os leões..."

2 - Na prova de revezamento feminino do biathlon, a Itália começou bem na primeira passagem, mas a segunda atleta italiana complicou-se na hora de atirar. No final, acabou que a equipe italiana terminou lá atrás, mas ainda havia esperança quando chegou a vez da terceira atleta da equipe. Quando ela se aproximou para a primeira série de tiros (5 alvos por série), foi (mais ou menos) assim que o narrador da RAI descreveu a cena enquanto ela atirava:

- Itália 2 acertos em 2 tiros
- Erro da França
- Itália 3 em 3
- Erro da Bielorússia
- Polônia acertou mais uma
- Noruega completou a série
- Itália 4 em 4
- França completou a série
- Erro da Polônia...
...(silêncio)...
- VAI NATHALIE!!!!!!!!!!!!!!!

Ci sentiamo! Arrivederci!

segunda-feira, março 06, 2006

Dia 26: Última parada - Aeroporto de Malpensa (Milão)

(Terça de Carnaval, 28 de fevereiro) Depois de uma noite de pouco sono, pois fiquei até tarde tentando botar tudo na mala (que depois no aeroporto ainda tive que tirar um pouco porque tinha passado do limite permitido) peguei minhas coisas e parti pela última vez para a Porta Nuova. De lá, peguei o trem para Milão para fazer uma rápida visita a cidade antes de ir para o aeroporto (de onde partiu meu vôo de volta ao Rio).

Chegando lá, foi o tempo de deixar a mala no guarda volumes e ir visitar o tão falado Duomo, pois já tinha passado da hora do almoço. Felizmente, o que não falta em Milão é metrô. Pode não ser tão grande quanto Londres ou Paris, mas funciona direitinho.

Chegando na estação, a ansiedade começou a tomar conta, afinal de contas é o Duomo. Fui subindo as escadas em direção a praça do Duomo até chegar a superfície, todo animado, pensando: "Vou ver o Duomo!, Vou ver o Duomo!, Vou ver o...."

Só que, na hora em que eu chego na praça, vem a surpresa: A fachada do Duomo estava em reforma!!!!!!!!!!!!!! Um enorme pano branco cobria a frente da igreja, que sei lá quando vai ficar pronta, só sei que não seria naquele dia. Foi um balde de água fria (a foto ao lado, o pessoal que subiu comigo do Metro para fazer propaganda do PSP em plena Piazza Duomo).

Porém, somente a fachada estava em reforma. Assim, ao invés de entrar por um portal, os turistas passam por uma portinha quase escondida por conta do tamanho do lugar. E quando você entra dentro do Duomo...mas como aquilo é grande! É de cair o queixo por uns 15 minutos antes de você começar a ver o lugar com calma. É enorme, é monumental, é absurdamente grande. A nave central, com estilo gótico, parece não ter fim, as capelas nas laterais parecem pequenas igrejas separadas. Cada vitral (e devem ter milhares deles) com uma imagem diferente. É de tirar o fôlego.

Depois do susto, ainda tem o extra de poder subir até o terraço. Tem duas opções para subir: 6 Euros de elevador e 4 Euros se for de escada. Como eu estava sem tempo, foi de elevador mesmo. Chegando lá, dá para prestar atenção em todas as estátuas que de baixo nem dá para ver que existem. Além disso, tem a possibilidade de ter uma visão total da cidade (que parece ser bem melhor que Torino, ou era apenas um dia atípico na cidade).

Depois da visita ao Duomo, a visita continua ao lado, na Galeria Vittorio Emmanuele, onde o guia diz que só tem grife cara, mas não é bem assim. Tem de tudo um pouco, mas é claro que não tem lojinha de artesanato local (até porque artesanato não existe lá). O lugar também é impressionate, com um teto de vidro muito alto e bastante largo para o pessoal andar a vontade.

Também tem uma tal tradição de dar um giro de 360 graus, em um pé só, em cima das partes íntimas (que aliás não foi retratada) da imagem de um touro que fica na frente de uma das entradas da galeria. Para dar boa sorte, dizem. Sorte eu não sei se traz, mas é engraçado de ver (e fazer também, ainda mais todo paramentado com o uniforme de voluntário e com uma mochila pesada nas costas).

Depois disso, foi voltar para estação, pegar o ônibus até o aeroporto e de lá começar a minha longa noite até chegar aqui no Rio, na manhã de quarta-feira de cinzas, totalmente virado dos últimos dias e, a tarde, voltar a trabalhar.

Para quem está lendo até agora, amanhã eu faço um último post com minha avaliação geral sobre a viagem e as Olimpíadas (curta, eu prometo).

sexta-feira, março 03, 2006

Dia 25: Ressaca Olímpica

(Segunda de Carnaval, 27 de fevereiro) Como eu contei no início do blog, Salt Lake parecia uma cidade fantasma. Segunda-feira em Torino não estava tão diferente, embora tinha um pouco mais de pessoas na rua. A única diferença era que, segunda de manha, o comércio não abre em Torino, então o movimento nas ruas era igual ao de qualquer outra segunda.

E como eu já também falei em posts anteriores, se o comércio não abre de manhã, os museus simplesmente não abrem. Isso significava adeus às visitas a Armeria Reale, Borgo Medievale e Jardim Real (o Palácio Madama só abre no segundo semestre).

Além dos museus, os centros de esqui também estavam meio de ressaca e simplesmente não deu para experimentar o esqui cross-country porque os poucos lugares simplesmente não atendiam o telefone. Na foto ao lado, o pessoal da NBC empacotando as coisas.

O jeito então foi visitar o Duomo (Catedral) de Torino, onde está o polêmico Sudário de Jesus Cristo, devidamente fechado em uma caixa. O Duomo por fácil dedução, foi a igreja mais antiga que eu já visitei, pois data do século XV (considerando que os outros lugares que eu já visitei, além do Brasil, foram Argentina e Estados Unidos, fica fácil concluir), só que esse 'recorde' durou apenas 24 horas, como vocês vão ver. O lugar é bonito e tem um subsolo reformado onde tem uma exposição sobre o Sudário, explicando por A + B que esse negócio de Carbono 14 não está com nada.

Depois do Duomo, fomos a Biblioteca Real onde estava tendo uma micro-exposição (que só descobrimos depois de pagar os 6 Euros de entrada) sobre esboços e desenhos de Leonardo da Vinci, onde só valeu mesmo pelo fato de ter entendido quase tudo o que a guia explicou.

A tarde, acabei dando uma volta pela cidade para fazer algumas compras e depois ir até a estação da Porta Nuova para se despedir de mais alguns colegas de fórum, jantar e fazer a mala, já que no dia seguinte, antes de voltar para o Rio, ia fazer uma visita a Milão, que valeu a pena.

Dia 24: Pragelato (Cross Country 50 Km Masc.) - O "outro" Giorgio

(Domingo de Carnaval, 26 de fevereiro) Depois de muita comemoração, não deu muito tempo para descansar porque as 10 da manhã eu e o Marcio tínhamos que estar em Pragelato para ver a prova de 50 Km de Cross Country (porque jogar dinheiro fora depois de ter comprado o ingresso nunca). Por causa da noite anterior, não voltamos para Torino, mas ainda estávamos com muito sono.

Como eu já contei lá em baixo, uns 10 dias antes eu já tinha ido para Pragelato, e já sabia que tinha que andar muito até o lugar da prova, mas com pouquíssimas horas de sono, a caminhada foi longa e quieta até o lugar da prova.

Chegando lá descobrimos porque o lugar se chama Pra-gelato: Embora o céu estivesse azul, o sol não tinha chegado no lugar da prova, pelo fato da pista ficar no fundo de um vale.

Assim, cansado e com frio, fomos caminhando até ficarmos em cima de um morro, onde os esquiadores também passam e tinha uma visão melhor da pista. O único problema era que, uma vez começada, era impossível cruzar a pista para ver de outros lugares, porque o caminho dos espectadores era também o ponto dos fotógrafos. Desse jeito, acabamos ficando presos no lado do morro, que foi o último onde o sol bateu.

O lugar estava cheio, embora não superlotado porque é muito difícil lotar um circuito de 10 km. A organização, com bastante antecedência, botou mais ingressos a venda e anunciou na imprensa, de modo que mesmo antes de começar a prova tinha gente comprando ingressos.

A prova, felizmente, não demorou tanto quando esperado, mais ou menos o tempo de uma maratona. Os italianos, depois do fiasco do dia anterior, estavam torcendo desesperadamente por uma vitória de um italiano, depois da equipe ter ganho o revezamento 4x10 km no domingo anterior (empatando o duelo com a Noruega nas últimas 4 Olimpíadas). Então, os italianos, representados por Di Centa, Piller Cottrer, Santus e Valbusa eram praticamente carregados pelos gritos dos italianos cada vez que passavam subindo o morro, e isso foi assim durante a prova toda porque a largada foi em massa (todo mundo largando junto) e um grupo grande ficou praticamente junto a prova inteira.

A chegada foi quase apoteótica, mesmo para quem estava vendo de longe como eu. A única coisa que eu consegui descobrir era que um italiano escapou no sprint final e um segundo italiano quase conseguiu a prata, o que seria a glória total para os italianos, mas acabou perdendo o gás nos últimos 100 metros. No fim, a vitória ficou com Di Centa...Giorgio Di Centa, irmão de uma outra esquiadora de fundo famosa (que entregou a medalha de ouro durante a cerimônia de encerramento) apagando um pouco a tristeza do dia anterior.

Só que não acabou por aí. Enquanto íamos descendo o morro, os torcedores, talvez tão revoltados como eu, ou somente pela farra de invadir a pista para comemorar, começaram a pular a cerca. Nessa hora eu falei com o Márcio "Já pensou se tem alguém ainda competindo?".

Não demorou mais que 10 segundos depois do comentário quando aparece um esquiador de Andorra retardatário que estava ainda subindo o morro (ele ainda tinha que descer e completar o circuito). Os torcedores, respeitando o competidor falava "Abre! Abre!" e lá foi o esquiador subindo o morro no meio do corredor formado pelos tifosi, que começaram a incentivar o atleta.

Provavelmente quem está lendo não deve ter muita noção da cena ou não descobriu através da descrição que eu fiz a semelhança com um outro evento esportivo, mas a situação criada naquela hora era igualzinha a uma subida do Giro D´Italia ou do Tour de France.

Parecia que ia ficar só nisso, mas poucos segundos depois do esquiador de Andorra subir o morro surge na contramão, pela rampa de descida, o Valbusa segurando uma bandeira da Itália. Pronto, acabou qualquer chance de ter um mínimo de organização na saída. Invasão geral da pista, da ponte, da linha de chegada. Parecia vitória da Ferrari em Monza (só faltava as bandeiras da equipe).

A festa foi geral. Hino cantado (não teve entrega de medalha então o hino não foi tocado), paraquedistas (planejado) soltando fumaça com as cores da Itália, alegria geral.

Depois, foi voltar cambaleando para casa para dormir um pouco, ver a cerimônia de encerramento e dormir mais um pouco para aproveitar os últimos dias na Itália.

quinta-feira, março 02, 2006

Dia 23: Sestriere Colle (Slalom Masculino) - Meeeeeeeengooooo!

(Sábado de Carnaval, 25 de fevereiro) Sábado de Carnaval era o dia mais aguardado dos Jogos. Ao menos para os italianos. Era o dia do slalom masculino, onde o então mais badalado atleta italiano, Giorgio Rocca, vencedor de 5 provas consecutivas da Copa do Mundo, ia competir. Além do fato de que o slalom masculino é uma das provas mais aguardadas em todos os Jogos. Aproveitando o fato de que era o último dia de trabalho, fui com a camisa do Flamengo por baixo do colete para fazer presente o Manto Sagrado em Sestriere uma vez embora o time não esteja indo bem há muito tempo.

Sestriere estava em polvorosa. Os italianos chegaram em massa para ver o ídolo competir. A arquibancada, maior do que em Borgata, estava totalmente tomada (pelo menos o trânsito não estava caótico como no dia do Downhill). O pessoal em pé se aglomerava ao lado da pista. Era para ser um dia especial.

Era. Rocca era o primeiro a sair na primeira descida porque era o primeiro do ranking na modalidade. Ele passou pela primeira parcial, passou para a segunda, com o que seria o melhor tempo da descida, e na hora em que eu abaixei a cabeça para ajeitar a câmera, ouve-se um "Ohhhhhh!". Giorgio tinha errado (um erro até meio infantil) e tomou um senhor tombo.

O silêncio tomou conta do lugar. Primeiro para ver se estava tudo bem com ele, depois pela incredulidade de saber que a emoção da prova para grande parte do público durou menos que 40 segundos.

Como consolo, Rocca não foi o único. Dos 20 primeiros, metade caiu ou perdeu uma porta, inclusive o campeão da prova combinada, Ted Ligety, e o Bode Miller, que ainda foi sarcástico na hora que foi filmado. Aliás, Miller foi a grande decepção dos Jogos, com 3 desclassificações e sem medalhas. O que se sabe é que Miller foi curtir a 'night' em Sestriere, como foi flagrado pelo pessoal na véspera da prova Combinada.

A decepção dos italianos continuou. Veio o segundo italiano, que estava indo bem até que também caiu. O italiano que veio logo em seguida também caiu. E a carnificina continuava. Teve gente que não passou da primeira porta. Estava ficando ridículo. No final, um terço dos 97 participantes não completou a primeira descida.

Na segunda descida, mais quedas. O recorde de persistência foi um dos japoneses que caiu na primeira descida, voltou escalando para recuperar a porta perdida, chegou em último, caiu na segunda descida, voltou de novo para recuperar a porta perdida e finalmente chegou em último, mas melhor do que metade da prova que abandonou por queda ou perda de uma porta.

No final, domínio austríaco, que ficaram nos 3 primeiros lugares, liderados por Benjamin Raich, melhor esquiador dos Jogos, com 2 ouros e uma prata. E pelo vistou eu dei sorte para o meu time, que enquanto acontecia a prova ganhava o clássico contra o Botafogo. Só para constar, meu trabalho do dia foi evitar que o pessoal da imprensa começasse a pular as cercas para invadir o local de trabalho dos outros, fato que foi extremamente facilitado depois de 40 segundos de prova.

Depois da prova, festa para os voluntários, com direito a descida múltipla de espuma morro abaixo. Mais tarde, fomos para a cidade para comemorar o fim dos trabalhos na cidade. Boa música (nada de axé, pancadão, forró, sertanejo e não senti falta!) e ZERO de consumação para entrar nos lugares, como deve ser. Pena que isso não dê certo por aqui.

Dia 22 (Parte 2): Cesana Pariol (Bobsleigh de 4) - Surreal

Dois dias antes nós conhecemos o André, que era supervisor de Cesana Pariol, onde acontece as competições de Bob, Luge e Skeleton. Ele disse que arranjava uma forma de botar a gente para dentro para ver a prova de Bobsleigh de 4.

Então, logo após o trabalho, fomos os três (Eu, Márcio e Henrique) para ver a prova de Bobsleigh de 4 pessoas.

Depois de alguns desencontros, conseguimos entrar e pegamos uma carona para chegar até a largada.

Os minutos seguintes foram algo quase indescritível, quase surreal. Assim que chegamos ao local de largada, vimos o pessoal do Brasil numa sala se preparando para a primeira descida. Logo depois, chega o Bassan com o celular falando: "Vamos falar agora com o pessoal do Brasil" e lá vai ele esticar o braço para o pessoal da equipe dar uma entrevista de última hora. Enquanto isso, o clima ali perto era selvagem. Todos as equipes que saíam tinham uma torcida, que berrava alucinadamente. Engarrafamento de gente, confusão, de repente, quando eu vejo, está um monte de gente da delegação brasileira entre atletas e dirigentes assistindo a prova em uma TV na arquibancada.

Uns 5 minutos depois, chegou a vez do Brasil. Fizemos a nossa parte, eles partiram e foram descendo a pista de Cesana. Curva 1, 2, 3...,7...12, de repente, na Curva 14 o bob vira e eles vão se arrastando até a chegada.

Ficou todo mundo mudo. Claro que a chance de algum problema muito grave era pequena, mas enquanto ninguém visse os 4 inteiros não se falava uma palavra. Só depois que estava tudo (mais ou menos) bem, é que deu para ficar mais aliviado.

Depois do susto, resolvemos descer e ver a prova do meio da pista. A diferença para a prova de 2 pessoas é impressionante. A começar pelo bob, que é maior e ocupa ainda mais espaço na pista. Por isso, impressiona quando ele vai tão alto.

Mas o público parece ainda mais agitado na prova de 4. Mais torcida, mais animação, mais alegria. Não imaginava que a diferença seria tão grande.

Depois da 2a descida, a única em que eles não caíram, acabei parando na Zona Mista, onde os brasileiros tiravam fotos e davam entrevistas. A imprensa italiana no dia seguinte não perdoou a virada do bob, mas tem uma explicação: o pessoal da equipe da Jamaica, derrotada pelo Brasil nas eliminatórias para os Jogos, é patrocinado pela FIAT e a empresa fez vários anúncios metidos a engraçados com os (atores) jamaicanos. E com a notícia do doping de um dos integrantes da equipe do Brasil, havia a possibilidade da equipe da Jamaica, que estava em Torino para cumprir acordos publicitários, competir na prova caso o Brasil fosse desclassificado. Pode-se dizer que não estavam torcendo por nós.

Mas aqueles minutos na linha de largada foram simplesmente surreais.

Dia 22 (Parte 1): Sestriere Colle (Slalom Gigante Feminino) - O Porteiro

(Sexta, 24 de fevereiro) Depois de ser runner, faltava ainda trabalhar no meio da Zona Mista, que fica entre os atletas e o pessoal de TV e imprensa. Foi o que aconteceu na Sexta, dia do Slalom Gigante Feminino, que é disputado em duas descidas, sendo que a primeira aconteceu muito cedo (o que me fez acordar as 6 da manhã). Aliás, se eu participasse de alguma prova dessas, seria a de Slalom Gigante, porque a velocidade não é estúpida e também não fica naquele negócio de ficar batendo nos postes a cada meio segundo.

Os voluntários ficam basicamente fazendo o papel de porteiro, barrando jornalistas que não trabalham na imprensa e mantendo a ordem nos cercadinhos reservados para a imprensa escrita.

A minha função era ficar controlando a passagem entre o local reservado para a imprensa e o local para o pessoal da televisão. No meio da passagem, cruzam os atletas que acabaram a prova saindo por trás da área da televisão para passar pela frente do pessoal de jornal e rádio.

Considerando que essa posição ficava exatamente em frente a linha de chegada, basicamente eu tinha um dos melhores lugares para ver a prova. Dessa vez, ser porteiro tem suas vantagens.

Dessa vez, não teve (tanta) névoa, mas MUITA neve (sim, o que vocês estão vendo é um pouco de névoa, mas acreditem que era só por conta das nuvens carregadas de neve), principalmente na segunda descida. Todo mundo estava encasacado até o pescoço por conta da quantidade de neve que caía. A vencedora foi a Julia Mancuso, americana que não estava cotada para vencer, de modo que foi mais uma surpresa dos Jogos. A Mirella, única brasileira no esqui alpino, chegou em último porque foi muito cuidadosa para não cair (não foi um festival, mas houve algumas quedas antes dela) e chorou muito porque era a última prova dela.

O resultado dela era tão previsível que ela só precisou ser entrevistada pela Globo no intervalo entre as duas descidas, embora seria quase impossível fazer uma segunda entrevista com toda aquela neve caindo. Aliás, o João Pedro me entrevistou de novo (junto com o Henrique), e de novo não foi utilizado. Pelo visto vai demorar um pouco mais para aparecer na TV....

quarta-feira, março 01, 2006

Dia 21: Ma dovè eravamo? (Clique aqui para saber)


(Quinta, 23 de fevereiro) Como deu para notar, na quinta-feira foi um dia muito tranqüilo, tanto que durante o dia eu aproveitei para atualizar o blog no computador do Help Desk.

Então aproveitando o dia meio parado (antes de começar o tumulto dos dias seguintes) para mostrar aonde era (seria aonde estamos, mas como já voltei...) o apartamento e um pouco da cidade.
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O apartamento

Nosso apartamento ficava na rua Giovanni Roveda, homenagem a um ex-prefeito de Torino, já morto (não é que eu seja tão curioso, mas é que essa informação está na placa da rua). O prédio, como quase todos do bairro, lembram os prédios da Cruzada São Sebastião aqui no Rio, só que mais afastado. Então, como vocês podem imaginar, na noite em que eu cheguei e vi os prédios, fiquei meio assustado por causa do estereótipo na cabeça (porque o daqui não é la muito seguro). A foto ao lado é de um anexo ao lado da igreja que ficava na esquina da rua do nosso predio (a figura, para quem nao conhece e do Senhor dos Aneis). Ao fundo um exemplo de como era os predios (o meu ficava logo depois do predio da direita).

Porém, como eu fui descobrir mais tarde, o bairro de Mirafiori é muito tranqüilo. A razão é que fica ao lado da fábrica da FIAT (aliás normalmente a FIAT é a primeira coisa que vem na cabeça das pessoas quando se fala em Torino). Na década de 60, época da construção, a empresa construiu os prédios para os funcionários morarem. A fábrica já foi uma das maiores do mundo. Agora, com a globalização, tem somente um terço dela em operação, mas os funcionários, aposentados ou não, continuam morando lá. Os apartamentos à venda (um sala e 3 quartos) está saindo por 170 mil Euros, segundo a propaganda no ponto de ônibus. Nada mau.

A fábrica antiga, um pouco mais ao norte, na região de Lingotto, onde o pessoal da FIAT fazia do último andar uma pista de provas para os carros (a fábrica era grande) virou um enorme centro comercial, onde tem um hotel Meridien, um centro de convenções (que virou o centro principal de imprensa dos Jogos em Torino) e um shopping, que foi nosso ponto principal nos primeiros dias. Na foto ao lado, tem o enorme viaduto construído para os Jogoso, que liga a antiga fábrica a Vila Olímpica (embaixo a esquerda, bem ao fundo, a ex-fabrica, hoje shopping e centro de convençoes). O arco vermelho foi construído, além de ajudar na suspensão do viaduto, para dar um pouco de cor para a cidade (opiniao minha) e torna-lo um marco.

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A cidade

Torino pode ser considerada uma cidade grande, até nos problemas. O trânsito no final de tarde é bem problemático. Embora tenha avenidas largas, o resto das ruas da cidade são muito estreitas e fechadas. A qualidade do ar, divulgada todos os dias, é péssima. O céu fica na maior parte do tempo nublado ou com uma névoa de fumaça, de modo que ver os Alpes só em dias especiais. A cidade está tentando criar outras atividades econômicas, dado os problemas que a FIAT, principal empresa da cidade, está enfrentando. Enfim, não é uma cidade que as pessoas pensem em morar.

O resultado é que, mesmo na Via Roma e na Via Pó, as ruas mais chiques da cidade, inclusive com calçadas de mármore, os negócios não estão indo muito bem, com algumas lojas fechando nos últimos anos, daí a necessidade de buscar novas atrações, como o turismo.

O transporte público é bastante organizado. Parada de ônibus tem nome e sobrenome e em quase todos tem um mapa com todas as linhas da cidade (ao invés de só ter propaganda como os do Rio). As linhas estão bem distribuídas, o que permite que se pegue no máximo dois onibus para chegar ao destino. Os ônibus, entretanto, andam muito devagar para os padrões brasileiros, de modo que no trecho que está marcado no link acima (uns 9 kms), demorava uns 40 minutos pela manhã para chegar na Porta Nuova, a principal estação de trem da cidade. O metrô tem previsão para acabar em 2010, mas o que foi construído até agora liga o "nada a lugar nenhum" porque foi construído apenas o trecho mais fácil que chega na Porta Susa, outra das estações de trem.

Minha única reclamação ficou pela promessa da prefeitura de que a linha de ônibus que eu tomava, o 63, ia ser "potencializado" (de acordo com o anúncio em italiano) no número de linhas, mas no fim continuamos a não poder ficar até muito tarde porque os ônibus a noite só vinham a cada 30 minutos e acabavam lá pela 1:30 da madrugada.

E uma das coisas menos agradáveis da vida é ficar parado no frio de quase zero grau esperando pelo ônibus.

Dia 20: Sestriere Colle (Slalom Feminino) - Vôo Cego

Ciao, já estou de volta e aproveito para fazer a atualização final dos ultimos dias de viagem (antes que esfrie) com o teclado brasileiro (já que o italiano não é igual ao nosso).

(Quarta, 22 de fevereiro) Quarta-feira passada foi o dia do Slalom Feminino em Colle. O dia já começou animado, porque o ônibus onde eu estava quebrou pouco antes de chegar até Sestriere. O motorista fez um remendo até chegar a Vila Olímpica de Sestriere e depois foi caminhando mesmo.

O Slalom tem duas descidas, sendo que a segunda, por conta de televisão, é a noite, porque é o único evento que consegue ser todo iluminado (porque o traçado é mais curto e menos perigoso) sem atrapalhar os esquiadores. Na primeira descida, fiquei de plantão no Help Desk, sem ter muito o que fazer. (Como tirar fotos, na foto nao aparece, mas na tela so tinha caracteres japoneses, e o teclado era o QWERTY que nos conhecemos)

Na segunda descida, as coisas melhoraram, e finalmente consegui trabalhar dentro da Zona Mista. A função era de Press Runner que, como o nome sugere e como fui orientado (como se isso fosse preciso), tem que correr. Nesse caso, o correr significa ir até o Help Desk, pegar a lista de partida, e entregar para os jornalistas. Depois, voltar mais três vezes para pegar a parcial depois de 15, 30 e todos os esquiadores. E tem que ser rápido porque não pode demorar para entregar os resultados entre as parciais (de que adianta ter um resultado velho?). Então o jeito era sair oferecendo resultados para todo mundo que aparecia pela frente. Os japoneses (sempre eles) eram os que pegavam tudo, o resto nem tanto.

Sobre a prova, não há muito o que comentar...porque não se via nada. Na hora da segunda descida, uma névoa tornou impossível de ver qualquer coisa além de 50 metros da linha de chegada. O melhor seria ver pela televisão (com a vantagem que em casa é bem mais quente) e todo mundo via a prova pelo telão.

A vencedora da prova foi a Anja Paerson, sueca que era uma das favoritas, com duas austríacas em segundo e terceiro. A vitória foi fácil porque a vantagem que a Anja tinha na primeira descida era muito grande e só precisou adminstrar o resultado. Depois da prova ainda fiquei lá para bater fotos e ver a medalha de perto. E como aquela medalha é grande, parece um CD. Com certeza, a maior medalha entre todos os Jogos.