sexta-feira, março 03, 2006

Dia 24: Pragelato (Cross Country 50 Km Masc.) - O "outro" Giorgio

(Domingo de Carnaval, 26 de fevereiro) Depois de muita comemoração, não deu muito tempo para descansar porque as 10 da manhã eu e o Marcio tínhamos que estar em Pragelato para ver a prova de 50 Km de Cross Country (porque jogar dinheiro fora depois de ter comprado o ingresso nunca). Por causa da noite anterior, não voltamos para Torino, mas ainda estávamos com muito sono.

Como eu já contei lá em baixo, uns 10 dias antes eu já tinha ido para Pragelato, e já sabia que tinha que andar muito até o lugar da prova, mas com pouquíssimas horas de sono, a caminhada foi longa e quieta até o lugar da prova.

Chegando lá descobrimos porque o lugar se chama Pra-gelato: Embora o céu estivesse azul, o sol não tinha chegado no lugar da prova, pelo fato da pista ficar no fundo de um vale.

Assim, cansado e com frio, fomos caminhando até ficarmos em cima de um morro, onde os esquiadores também passam e tinha uma visão melhor da pista. O único problema era que, uma vez começada, era impossível cruzar a pista para ver de outros lugares, porque o caminho dos espectadores era também o ponto dos fotógrafos. Desse jeito, acabamos ficando presos no lado do morro, que foi o último onde o sol bateu.

O lugar estava cheio, embora não superlotado porque é muito difícil lotar um circuito de 10 km. A organização, com bastante antecedência, botou mais ingressos a venda e anunciou na imprensa, de modo que mesmo antes de começar a prova tinha gente comprando ingressos.

A prova, felizmente, não demorou tanto quando esperado, mais ou menos o tempo de uma maratona. Os italianos, depois do fiasco do dia anterior, estavam torcendo desesperadamente por uma vitória de um italiano, depois da equipe ter ganho o revezamento 4x10 km no domingo anterior (empatando o duelo com a Noruega nas últimas 4 Olimpíadas). Então, os italianos, representados por Di Centa, Piller Cottrer, Santus e Valbusa eram praticamente carregados pelos gritos dos italianos cada vez que passavam subindo o morro, e isso foi assim durante a prova toda porque a largada foi em massa (todo mundo largando junto) e um grupo grande ficou praticamente junto a prova inteira.

A chegada foi quase apoteótica, mesmo para quem estava vendo de longe como eu. A única coisa que eu consegui descobrir era que um italiano escapou no sprint final e um segundo italiano quase conseguiu a prata, o que seria a glória total para os italianos, mas acabou perdendo o gás nos últimos 100 metros. No fim, a vitória ficou com Di Centa...Giorgio Di Centa, irmão de uma outra esquiadora de fundo famosa (que entregou a medalha de ouro durante a cerimônia de encerramento) apagando um pouco a tristeza do dia anterior.

Só que não acabou por aí. Enquanto íamos descendo o morro, os torcedores, talvez tão revoltados como eu, ou somente pela farra de invadir a pista para comemorar, começaram a pular a cerca. Nessa hora eu falei com o Márcio "Já pensou se tem alguém ainda competindo?".

Não demorou mais que 10 segundos depois do comentário quando aparece um esquiador de Andorra retardatário que estava ainda subindo o morro (ele ainda tinha que descer e completar o circuito). Os torcedores, respeitando o competidor falava "Abre! Abre!" e lá foi o esquiador subindo o morro no meio do corredor formado pelos tifosi, que começaram a incentivar o atleta.

Provavelmente quem está lendo não deve ter muita noção da cena ou não descobriu através da descrição que eu fiz a semelhança com um outro evento esportivo, mas a situação criada naquela hora era igualzinha a uma subida do Giro D´Italia ou do Tour de France.

Parecia que ia ficar só nisso, mas poucos segundos depois do esquiador de Andorra subir o morro surge na contramão, pela rampa de descida, o Valbusa segurando uma bandeira da Itália. Pronto, acabou qualquer chance de ter um mínimo de organização na saída. Invasão geral da pista, da ponte, da linha de chegada. Parecia vitória da Ferrari em Monza (só faltava as bandeiras da equipe).

A festa foi geral. Hino cantado (não teve entrega de medalha então o hino não foi tocado), paraquedistas (planejado) soltando fumaça com as cores da Itália, alegria geral.

Depois, foi voltar cambaleando para casa para dormir um pouco, ver a cerimônia de encerramento e dormir mais um pouco para aproveitar os últimos dias na Itália.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu estou convencido de que a invasão teve motivos puramente catárticos, afinal já estava fazendo sol lá naquele pedaço onde a gente estava. Foi pra comemorar mesmo.

Anônimo disse...

Aparentemente, o unico cara que realmente queria atravessar acabou fazendo isso na maca. O resto estava la feliz e contente vendo a prova. So eu mesmo que queria atravessar.