quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Dia 19: Coisas de Torino

(Terça, 21 de fevereiro) Terça feira (assim como hoje) estava um clima de fim de festa aqui em Sestriere (muitos esportes ja tiveram a maior parte das competiçoes), dado que nao houve nada de muito interessante no dia. Antes de viajar para cá, estava previsto no calendario do esqui alpino um treino para o Slalom feminino, que nao aconteceu. Assim, a coisa mais emocionante foi ver, na TV, o ouro do Enrico Fabbris, italiano, na patinaçao de velocidade.

Assim, vamos a algumas notas rapidas dos ultimos dias:

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Os americanos invadiram Torino depois da cerimonia de abertura. Nao ha dia que eu nao entre no trem que nao haja alguem falando ingles. O curioso é que eles so andam em bandos, nem mormon anda com tanta gente junta, e sempre parecem meio perdidos.

Pelo que eu pude ver, muitos sao universitarios que estao fazendo algum tipo de intercambio aqui na Italia, mas muitos também aproveitaram as férias nos States para dar um pulinho aqui.

Para se ter uma idéia de como tem americano por aqui, a Target, loja norte americana que nao existe na Italia, patrocinou os trens que vao até as montanhas e todo dia entregam algum negocio que faz barulho (mini corneta, apito, sino, deu para entender). Isso as 8, 9 da manha, quando a ultima coisa que eu quero é ouvir alguma coisa barulhenta, dado a hora que eu acordo para chegar até o onibus



Na foto acima, a Piazza San Carlo, onde ficava o pessoal do 'NBC Today' (da para ver um pedaço do estúdio no canto esquerdo), o programa que passa nas manhãs americanas (e que tem tantos tentando imitar no Brasil).

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Cambista aqui nao tem vez. A policia daqui acabou com a festa poucos dias depois do inicio dos jogos. Quando começaram a pegar os cambistas, os outros que ainda estavam ativos começaram a vender a preço de custo. So que isso também nao pode, senao seriam vendedores oficiais.

Assim, os carabinieri pegaram todos os ingressos que ainda tinham e aplicaram uma multa aos cambistas. Fui um dia depois em uma das lojas e os caras estavam uma arara. O problema é que como eles compraram muitos ingressos, muitos estadios nao estavam cheios, embora os ingressos tivessem sido vendidos.

O comite entao resolveu vender os ingressos resgatados a um preço muito barato (3 Euros) para os voluntarios. Sabendo disso, os cambistas menores começaram a sondar os voluntarios, mas como o anuncio de quais eventos estao disponiveis para os voluntarios é quase sempre em cima da hora, o prejuizo foi muito grande.

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Outro dia comentei que a estrada de Sestriere parece a Niemeyer. Fui injusto, a Niemeyer é muito mais larga e muito menos sinuosa do que as estradas aqui, com muitos grampos. Claro que a velocidade tem que ser mais baixa e nao da para tentar nenhuma grande ultrapassagem, mas ainda assim é muito complicado andar pelas montanhas. Dessa forma, o motorista de onibus tem que ser muito bom. Mas outro dia teve um que se superou. Enquanto dirigia, ele ainda falava no celular (com fone de ouvido) sem que nada o atrapalhasse.

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Valentino Rossi é um motociclista varias vezes campeao do muito. Para quem nao conhece, ele costuma ter um cabelo meio largado, usa brinco e tem sempre a barba meio por fazer. Embora ele ja nao tenha mais 18 anos, esse é praticamente a descriçao de um adolescente italiano. Com a diferença de que, além do que ja descrevi, ainda abusam do gel no cabelo e sempre tem uma roupa de griffe, com uma inscriçao BEM grande para que todos saibam que ele esta usando. Enfim, um visual meio metrossexual, a la David Beckham.

Como o desemprego entre os jovens é um problema sério por aqui, eles normalmente nao tem muito o que fazer. Costumam sempre se encontrar nos pontos de onibus e andam sempre meio sem rumo.

Logo nos primeiros dias, vi uma briga em um ponto de onibus e achei que ia ter problemas com alguns deles, mas foi so impressao. Alias, eles estao meio revoltados porque a prefeitura tinha prometido férias, mas depois de verem que nao ia mudar muita coisa durante o dia (quando as provas sao nas montanhas), desistiram da idéia. Ainda bem, porque se tivessem duas semanas sem ter o que fazer, ja tinham arrumado encrenca.

Mas se pudesse descrever em uma frase, seria: Mas como sao marrentos!!!!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Dia 18: Pinerolo (Curling Fem.) - Rodada de Fogo (Acreditem..)

(Segunda, 20 de fevereiro) Ja esta virando rotina: um esporte desconhecido no pais vira uma febre. Isso é o Curling. O mesmo ocorreu em 2002 e agora também chama atençao aqui em Torino. Aqui na Italia acabou ganhando espaço porque lembra a boa e velha bocha e a equipe masculina nao fez feio (quase se classificou para as semifinais). A Rai, TV italiana, antes de começar a transmissao do Curling, bota a musica de abertura dos Flintstones (porque as pedras do jogo sao de granito).

Assim, ao invés de curtir uma mesa redonda de segunda a noite, la estava eu no Palaghiaccio, em Pinerolo, para assistir a ultima rodada da fase classificatoria do torneio feminino. A data que eu escolhi para ver foi proposital, porque eu sabia que teria muita gente disputando alguma vaga. E todos os jogos valiam alguma coisa, pois quatro paises (Inglaterra, Japao, Canada e Russia) estavam brigando, cada um em uma partida diferente. E eu NAO vou dizer que varrer o chao é algo que as mulheres sabem fazer bem porque também existe a versao masculina.

Antes, a tarde, depois de algumas tentativas frustradas de encontrar uma loja de bicicleta, dei uma passada na Piazza Solferino, onde estao os estandes dos patrocinadores da Olimpiada. Entre todos, o melhor era o da Coca-Cola, que tinha varias atraçoes diferentes, o resto era muito sem graça ou tinha uma fila quilométrica.

Sobre as partidas de Curling, foram todas muito disputadas. A unica equipe que dependia dela mesma era o Canada. Se perdesse, ia disputar o desempate caso uma das outras tres ganhasse (nao existe saldo de pedras para classificar). Assim, as quatro partidas foram disputadas de forma aberta, com pontuaçao em todos os ends (cada partida tem 10 ends).

Quem fez o dever de casa mais rapido foi a Inglaterra, que encerrou a partida com os Estados Unidos em 6 ends (se o time que esta atras quiser, ele pode achar que nao ha mais o que fazer na partida e declarar encerrada). O Japao, que também estava brigando, bobeou em 2 ends e decidiu encerrar apos o 8o end contra a Suiça. Na foto de cima, a torcida japonesa "estilosa", na de baixo a torcida suiça. Elas ficaram lado a lado durante a partida. A Russia brigou até o final, mas ganhou na ultima pedra da Noruega.

So que nada disso adiantou, porque mesmo com alguns erros, o Canada ganhou da Dinamarca, também na ultima pedra e um lançamento mais dificil, e se classificou. Pode parecer meio entediante pela TV, mas quando se ve quatro jogos simultaneos faz 3 horas passarem muito rapido.

Agora sao 5 dias de trabalho seguidos em Sestriere (3 com provas), até ver o proximo evento no domingo.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Dia 17: Cesana Pariol (Bobsleigh de 2 Masculino) - Novo esporte

(Domingo, 19 de fevereiro) Depois do fiasco da noite anterior, nao me restou muito a nao ser dormir até mais tarde. Até porque nao tinha trabalho (e se tivesse nao teria entrado nessa furada) e a prova de Bobsleigh era so no final da tarde.

Quando fui pegar o trem, as 2 da tarde de domingo, começou a nevar em Torino, mas muito fraco. Isso ja era sinal do que estava por vir la em cima. Quando cheguei em Oulx para pegar o onibus até Cesana, nevava muito, e até o final da prova o tempo foi implacavel, como dá para ver na foto, embora o frio nao fosse tao intenso quanto esperado.

Ao ver uma prova de bob, voce tem idéia de que a pista foi feita para um bob e nao para um micro-luge ou skeleton. E da para ver melhor até a prova. Talvez por isso estivesse mais cheio do que a prova de luge na semana passada.

Durante o intervalo da terceira para a quarta descida, encontrei o Marcio, que esta na equipe brasileira de bob de quatro. Fomos até a largada e ficamos conversando sobre o bob e a prova enquanto o pessoal fazia a ultima descida.

A prova foi dominada do inicio ao fim pelos alemaes, que lideravam desde o dia anterior (cada dia sao duas descidas). O piloto canadense, o Pierre Lueders, bem que tentou, mas nao conseguiu, enquanto os suiços ficaram em terceiro, para a felicidade os torcedores e os seus sinos enormes (imagino o tamanho da vaca que usa aqueles troços).

Na volta, como tinha nevado muito, nao tinha onibus que subia até o estacionamento, e o teleférico de descida estava lotado. Entao, surgiu um novo esporte, "descida de publico", para pegar o onibus la embaixo.

O onibus desceu até o trem em uma velocidade de tartaruga, por conta da neve, e quando cheguei em Torino, quase meia noite, a cidade também tinha uma camada de neve, que ja derreteu hoje.

Dia 16 para dia 17: Roubada "bianca"

(Sábado a noite, 18 para 19 de fevereiro - Exatamente no mesmo horário estava acontecendo o show dos Rolling Stones em Copa, qual foi a maior roubada?) Quando cheguei de Sestriere, acabei me convencendo de me juntar aos italianos do forum para participar da "notte bianca". E uma noite onde, segundo a lenda, o comércio e os bares ficam abertos até tarde.

Como diz aquele ditado: "Em Torino, faça como os torineses" (depois eu descobri que nao era bem esse). E la fui eu andar com o pessoal.

Entao nos andamos, e andamos, e andamos, e andamos (acreditem foi muito tempo), e parecia que nada estava aberto. Muita gente fazendo a mesma coisa, porém durante o tempo todo, apesar da multidao, devia ter um milhao de pessoas andando (OK, é um pouco exagerado, mas eu estou na Italia, ora), nao vi um sinal de tumulto ou de empurra-empurra.

Voltando a caminhada, andamos por todo o centro de Turim, que nao é grande mas da para passar um bom tempo andando. Finalmente vimos alguns bares abertos, mas com 15 pessoas juntas, era impossivel entrar.

E continuamos a caminhar no friozinho agradavel de uns 3 graus (acima). Depois de umas 2 horas e meia caminhando, zonzo de fome, os italianos resolveram parar em um pub, que eu ja tinha ido antes, um pouco mais longe da multidao e comer alguma coisa.

Quando saimos, era 4:30 da madrugada e nao havia um onibus na rua. Lembrem-se que muitos eram turistas e também nao tinham a facilidade de trabalhar para o COI ou para a imprensa (que tem onibus exclusivos 24 horas por dia). Ah, taxi também nao aparecia e os poucos nao paravam. E os nossos colegas italianos que moram em Torino também nao estavam muitos dispostos a dar carona para gente.

A soluçao foi caminhar (mais um pouco) até a Porta Nuova (a estaçao de trem) e esperar na fila do taxi para chegar em casa, as 5:30 sem entender até agora qual o motivo dessa tal "notte bianca".

Dia 16: Sestriere Borgata (Super G Masculino) - Neve, MUITA neve, e sol

(Sabado, 18 de fevereiro) Como no dia anterior eu tinha sido escalado para trabalhar até tarde da noite, eu sabia que eu ia dormir em Oulx, logo nao ia precisar fazer todo o caminho de volta. Assim, eu tinha pedido para trabalhar na manha seguinte.

So que como eu NAO trabalhei no dia anterior, la fui eu acordar as 6 da manha para chegar as 9:30 no Help Desk, na "cidade" (Sestriere oficialmente tem menos de mil habitantes) e ficar até o final da prova de Super G masculino.

Enquanto eu estava chegando, eu vi que a coisa nao ia ser facil, porque o tempo estava piorando de novo. Uma hora depois que eu cheguei, começou a nevar, e depois começou a nevar MUITO, durante a prova de Super G. Resultado: prova suspensa.

Umas 4 horas depois, o sol reapareceu e a prova finalmente foi reiniciada (as condiçoes estavam muito mais favoraveis e os resultados até o momento estavam totalmte de pernas para o ar).

Com neve fresca e o sol, finalmente apareceu um favorito, o noruegues Kjetil Aamodt, veterano de 5 Olimpiadas, e ganhou a prova. Em segundo, outro favorito, o austriaco Herman Meier (alguns podem se lembrar de uma chamada antiga dos Jogos de Inverno, onde um esquiador despenca de um morro...era ele), enquanto que o Bode Miller errou de novo (deve ter entornado muito antes da prova*).

O meu trabalho no Help Desk foi tranquilo, porque estavam todos em Borgata, mas ainda bem que nao estava na Zona Mista porque senao ia ficar soterrado de neve.

A foto abaixo foi tirada na estação de Oulx. Esta meio fora de foco (foi tirada as pressas), mas foi um boneco de neve que o pessoal que trabalhava lá fez a partir do casaco amarelo que estavam distribuindo junto com o panfleto de informações sobre os horários. Já estava meio derretido nessa hora, entao fica como se fosse o abominavel guia das neves.

*OBS: O Miller deu uma entrevista uns dois meses atras dizendo que antes de uma prova tinha tomado alguma bebida alcoolica que eu nao me lembro, e o pessoal da federaçao de esqui criticou muito. Também, para descer aquele despenhadeiro, so bebado mesmo.

Dia 15: Tarde livre para compras

(Sexta, 17 de fevereiro) Sexta feira era dia de trabalho. Era, porque o tempo nas montanhas virou e começou a nevar muito forte. Estava perto da estaçao do trem quando recebi o telefonema: nao precisa vir até aqui porque esta nevando muito e a prova Combinado Alpino feminino nao deve ser realizada.

Entao, sem muita opçao, fiquei com a tarde livre, como se tivesse sido programado em uma excursao. Me juntei ao Marcio e o Henrique e fomos vistar a Basilica de Superga. Superga fica em um morro ao norte de Turim. Foi construida para pagar uma promessa feita por um dos Savoia (que mandavam por aqui no seculo XVIII) apos vencer uma batalha contra os invasores franceses. Fica no alto de um morro muito ingreme, que pode ser alcançado de bondinho ou de onibus. Claro que o de bondinho é mais divertido porque a subida é muito mais ingreme e a vista panoramica da cidade fica mais impactante(também demos sorte porque o dia estava claro, talvez o primeiro desde a sexta anterior). Na estação debaixo tem uma pequena exposição contando a historia da empresa local de transporte publico, inclusive com uma réplica em Lego da própria estaçao.

Ventava muito no dia, mas como o ceu estava bastante claro pudemos tirar fotos da parte de cima da Basilica, que é alcançada após subir uns cento e sei lá quantos degraus. La em cima, além da Basilica, que é jovem para o padrao italiano (muito bonita no estilo barroco, criada por Felipe Novara, no século XVIII), existe um anexo. No terreo, tem uma sala so com os quadros de todos os papas (quer dizer, até 1500, sao esboços do que deveriam ser os papas) e no subsolo ficam os tumulos dos restos mortais dos Savoia. Havia ainda um outro anexo, com o museu dedicado aos jogadores do Torino que morreram em um acidente de aviao em 1949, quando bateram no morro onde fica a basilica, mas infelizmente so abria no final de semana (afinal de contas, mais uma vez, nao tinha nenhum evento importante na cidade e nenhum turista na cidade interessado em ver, nao é mesmo?) .

Na volta, esperando pelo bondinho para descer, vimos pela TV que a parte de slalom, que seria disputada em Sestriere, e que eu ia trabalhar na Zona Mista (minha unica prova que estava programada para eu ficar la) estava sendo realizada. Paciencia...

Dia 14 (Parte 2): Pragelato Plan (Combinado Nórdico - Equipes) - Paisagem Lunar

....para chegar até o lugar onde a prova estava sendo realizada, tinha que caminhar uns 2 km, na neve, de bota (que aguentou bem, por sinal). Como 1) A prova tinha sido remarcada, logo ja tinha menos gente e 2) A prova tinha acabado de começar, basicamente so tinha eu andando aquele trecho todo, tomando um ventinho gelado gostoso de frente.

A paisagem lembrava algo como a superficie da lua, tudo branco, com o sol na frente, so faltava tirar as arvores e o céu estar preto. O jeito foi andar o mais rapido possivel e chegar, quase sem folego, até o lugar da prova, que ja tinha passado um terço dela (durava uns 50 minutos).No resto da prova, fiquei me recuperando perto da chegada.

Sobre a prova, um revezamento de4 x 5 km (sao sempre as melhores de se ver), na hora em que eu cheguei ja estava animada. O Japao estava tentando (sem sucesso) passar para o 3o lugar e o pessoal atras estava embolado. So que quem surpreendeu foram os austriacos, que estavam em 2o, quietinhos, até que no ultimo atleta, na subida final, deu uma arrancada e ultrapassaram os alemaes, que estavam tranquilos na liderança, e venceram a prova.

Depois da prova, a caminhada de volta e so me restou chegar em casa e dormir.

Dia 14 (Parte 1): Cesana San Sicario (Biathlon) - Legal mas....quem ganhou?

(Quinta, 16 de fevereiro) Depois de varios dias de sol, o tempo começou a virar, ao menos nas montanhas. Torino amanheceu sob forte névoa e o medo de reviver 2002 e morrer de frio me fez botar uma camisa do Bordeaux que é impossivel de ser usada no Rio.

Era para ser um dia tranquilo, porém ao abrir o jornal, a noticia: a prova de Combinado Nordico tinha sido transferida do dia 15 para o dia 16, ou seja, logo apos a prova de Biathlon, que acabava pelas 13:30 tinha que correr para Pragelato para ver a parte de Cross Country as 15 horas (os frouxos resolveram continuar a saltar as 9 da manha).

Assim, um dia que seria para atualizar o blog, lavar a roupa, fazer compras, ja estava totalmente comprometido. Enfim, ao meio dia estava la em Cesana para ver a prova de Biathlon. Nas montanhas estava nevando, massomente até a hora que eu cheguei em Cesana, quando o sol abriu e ficou assim até o fim do dia.

Ao contrario das provas de Cross Country, as provas de Biathlon sao sempre contra o relogio. Assim, se voce nao tem um narrador ou um telao, acompanhar a prova fica meio dificil. E, no melhor lugar para ver a provade pé (o ingresso menos caro) fica longe do telao e dos auto falantes.

Dessa forma, quando eu cheguei e até acabar a prova, eu nao sabia quemestava na frente e quem ganhou. No final, na hora da cerimonia das flores (as medalhas sao entregues a noite), é que eu vi que foi uma francesa que ganhou. Mas bem que eles poderiam dar mais luz para nos que ficamos na neve.

Depois disso, foi sair correndo para chegar ate Pragelato. Consegui chegar as 15 horas no portao de entrada, so que....

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Dia 13 (Parte 2): Torino Palavela (Short Track) - Eu e os Chineses

Como a prova de Combinado Nordico tinha sido suspensa, fiquei ser ter muito o que fazer durante a tarde porque estava em Pragelato e tinha outra prova para ver a noite, em Torino, e quase duas horas de viagem. Isso porque dia 15 era dia de folga no esqui alpino e, por isso, eu tinha comprado ingressos para a parte de dia e a de noite, em Torino. Por isso, acabei tendo uma tarde devagar.

A competiçao de Short Track é muito agitada. As provas sao sempre eliminatorias e normalmente sao decididas na base do patins (a chegada é sempre medida pelo primeiro patim que cruza a linha).

Fui eu e o Henrique ver a prova, além do Alberto, italiano que finalmente se juntou a nos no apartamento (por motivos familiares ele nao pode ir antes) e acabamos sentando ao lado de uma brasileira, dois mexicanos duas senhoras canadenses, uma sueca (que tem um namorado frances que participava da Olimpiada), e um monte de chineses (um monte é quase uma obviedade), que estavam torcendo pela patinadora chinesa que ganhou o ouro na prova de 500 metros. O Henrique, que é mais descolado, saiu conversando com eles, ganhou bandeirinha, enfim era quase um deles.

As provas sao normalmente rapidas, exceto o revezamento, que é uma loucura para quem ve pela televisao, mas ao vivo até da para entender por causa do angulo de visao. As duas semifinais masculinas foram emocionantes. Na primeira, os Sul Coreanos cairam, estavam em ultimo e recuperaram para garantir a classificaçao. Na segunda, as quatro equipes (EUA, Italia, Japao e China) estavam disputando metro a metro quando o Japones derrubou o Italiano. A regra nesse caso é clara e a Italia também se classificou para a semifinal.

(OBS: por conta de problemas de acesso ao blog, os outros dias eu devo atualizar no domingo)

Dia 13 (Parte 1): Pragelato (Combinado Nordico Equipes) - Agora vai...espera, nao deu...mais um pouco

(Quarta, 15 de fevereiro) Como eu falei la embaixo, o combinado nordico mistura salto com esqui nordico. E eu estava muito curioso para ver a parte de saltos, tanto que acabei pagando o ingresso mais caro para ver a prova de combinado, ao invés de comprar somente para uma prova de salto, porque era a unica prova que tinha salto que encaixava no meu horario fora do trabalho.

Assim, as 10 da manha já estava eu sentado em Pragelato, na rampa de salto de esqui (aquilo la é uma ribanceira, nao uma rampa). O tempo começava a virar, e o sol tinha sumido, o que significa uns 5 graus a menos de sensaçao térmica, mas a roupa segurou bem (resquicios de 2002, inclusive a bota aguentou bem).

No entanto, a prova de salto é digamos, monotona. Todo mundo saltando, cada um com um estilo um pouco diferente, mas quase todos iguais e aterrizando na neve um pouco na frente, um pouco atras, mas quase tudo igual.

Porém, o problema maior é que, na rampa de salto, nao pode ter vento. E quando eu digo vento, não é nenhum vendaval, é algo em torno de 10 Km por hora. Uma brisa e o saltador recua da entrada da rampa. Dizem que é por questão de segurança ou para dar igualdade de condiçoes, mas para mim, leigo, era frescura mesmo. Resultado: varias interrupçoes, varios atrasos e, por fim, a suspensao da prova (para o dia seguinte, mas isso eu so consegui saber na manha do dia seguinte).

Enfim, nao teve muito o que comentar nesse dia, porque a prova de salto parou na metade e muita coisa estava indefinida. Acabou ficando para o dia seguinte mesmo.

Dia 12: Sestriere Colle (Combinado Alpino Masculino) - Lama, gelo e mais uma zebra

(Terça, 14 de fevereiro) Depois de dois dias bastante agitados, chegar mais tarde em Sestriere foi uma bençao. Ainda mais ficando so no HelpDesk e no dia do combinado alpino masculino.

O combinado alpino é composto de uma descida de downhill e duas de slalom. E a prova mais "longa" porque começa ao meio dia e acaba la pelas 9 da noite (com um longo intervalo entre as descidas). E uma prova cansativa até mesmo para os jornalistas.

O trabalho no Help Desk foi tranquilo. Animado mesmo estava a prova. Como nao tem nevado por aqui (pelo menos até esse dia), o resultado era que a neve estava derretendo. Assim, ou tinha lama onde as pessoas passam ou a neve fica dura que vira gelo. Longe daquele paisagem branca e tao linda da neve recém caida (chamada de powder em ingles). Caminhar fora do asfalto e onde tinha neve é andar em uma poça de lama continua.

E a condiçao da neve influenciou muito no resultado final. Na primeira descida do slalom, que é bem mais técnico do que o downhill, varios favoritos ficaram pelo caminho (Miller, Kjus, entre outros menos conhecidos) deixando de passar pelas portas (aqueles postes de plastico que os esquiadores ficam batendo). O Nikokai foi uma das vitimas do percurso.

Assim, a prova estava totalmente aberta. Eu, por sua vez, depois de concluir meu turno, antes de ir jantar (a 3 minutos do lugar da prova) fui assistir a segunda e ultima descida perto do pessoal da Zona Mista (chato né, foi mal). O favorito da casa, o Rocca, decepcionou e ficou so em quinto, embora a especialidade dele é so o slalom e um americano, Ted Ligety, ganhou a prova com uma segunda descida impressionante, fazendo com que o lider da prova até entao, o austriaco Benjamin Raich, cometesse um erro durante a sua descida.

Depois da prova, voltei para Torino e encontrei o pessoal do forum italiano em uma pizzaria, porque dia 14 de fevereiro é dia de San Valentino (dia dos namorados), e o pessoal se reuniu para falar bobagem. Cansado da viagem de volta, fiquei esperando com o Marcio até quase 1 da manha pelo onibus para voltar para casa. Sem falar que tinha que acordar cedo no dia seguinte (porque tinha duas provas para assistir).

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Dia 11: Sestriere Borgata (Treino Combinado Masculino) - Treino Sem Bola

(Segunda, 13 de fevereiro) Se 8 horas de transito nao fosse o suficiente, ainda tinha que acordar no dia seguinte, novamente as 6 da manha, para voltar a Sestriere para trabalhar na Zona Mista.

A Zona Mista, o lugar onde os jornalistas entrevistam os atletas, tem que estar preparada mesmo durante os treinos, porque sempre tem alguem querendo fazer uma entrevista.

Hoje seria o meu dia de experiencia para saber o que fazer no dia 17, dia em que vou trabalhar na Zona Mista durante um dia de prova. Entretanto, parece que estava todo mundo de ressaca, inclusive os atletas, porque estava muito tranquilo. Era o treino para a prova Combinada Masculina (soma uma descida de Downhill com duas de slalom), que vai ser amanha. Fiquei praticamente o tempo inteiro assistindo o treino pelo simples motivo que nao tinha o que fazer.

No treino, comecei a entender o porque de que alguns esquiadores fazem tempos ruins. A ordem de largada é definida de acordo com o tempo do treino. Os 30 primeiros largam em ordem invertida do resultado (o restante segue a ordem da classificaçao) e, segundo as declaraçoes dos técnicos, a neve esta melhor para quem larga primeiro. O que eles fazem para fazer um tempo alto é dar tudo até praticamente a ultima curva. Nessa hora, eles simplesmente... freiam! Chegam devagar, quase parando (para quem estava andando a 120 por hora). Teve um hoje que tentou fazer isso e chegou tropeçando pela linha de chegada). Por isso, o resultado do Downhill do frances foi ainda mais impressionante. Ele ficou sempre entre os primeiros nos treinos e no "treino oficial" ele foi o mais rapido, o que fez com que ele largasse em 30o no dia da prova, o que nao seria bom pelo tipo de neve.

Nao sei quem é que acha que essa forma de determinar a largada funciona, mas é bom ver que, nem sempre quem banca o esperto acaba ganhando.

Dia 10: Sestriere Borgata (Esqui Alpino - Downnhill Masculino) - Passa uma tarde....engarrafado em Sestriere

(Domingo, 12 de fevereiro) Tudo bem, eu pedi por isso, mas nao precisava exagerar.

Dia 12 nao era meu dia de trabalho quando recebi o horario, mas eu pedi para trabalhar simplesmente porque era o dia da prova mais tradicional do esqui alpino, o downhill, ou como os italianos falam, "descida livre".

Basicamente, é velocidade pura, uma chance so, uma descida so, e o mais rapido ganha. Porém, ao contrario do que parece (e voces vao ler o porque no proximo dia), tem um pouco de estratégia.

O dia começou cedo, as 6 da manha. Me arrumei correndo, cheguei as 6:30 (prestem atençao no horario) no ponto de onibus mas, como era domingo, o onibus demorou quase meia hora para chegar (o maximo que dizia no ponto era 20 minutos). Cheguei na estaçao central da cidade, a Porta Nuova, e peguei o trem das 7:40...que so saiu as 8:05 (nas outras vezes que eu subi, sempre saiu no maximo com 5 minutos de atraso). Cheguei na estaçao de Oulx 9:10 para pegar o onibus dos volutarios, que a essa altura ja nao se sabia qual era o dos volutarios ou o dos turistas. A regra era: vai para Sestriere Borgata, entra. Mais 45 lentos minutos para chegar a praça de Kandahar (nao faço a menor idéia porque da homenagem) em Sestriere, para esperar o onibus circular que desce até Borgata, uns 5 minutos de viagem. Mas a muvuca era tanta que tinha uns 30 voluntarios tentando pegar o onibus (torcedores pegavam o teleférico). Mais alguns minutos chega o "pullmino" (também conhecido como van) para os voluntarios, que fez com que, depois da revista de segurança, quase as 10:30, eu chegasse para o trabalho.

Quando cheguei, a sala de imprensa estava no agito total. Gente sem cadeira para sentar, reporteres assistindo a outra coletiva de imprensa (a patinadora Michelle Kwan anunciando a sua desistencia), o diretor do centro de Borgata andando para tudo quanto é lado, uma loucura. Como eu nao estava oficialmente escalado, fiquei ajudando na sala de imprensa, ficando de plantao para alguma duvida ou pedido de jornalista, o que nao foram muitos, mas até o inicio da prova o lugar estava muito agitado.

Durante a prova, no entanto, a sala fica praticamente vazia, o que nao signfica que fica todo mundo quieto. Ainda mais quando o frances Deneriaz, que largou em 30o (uma posicao muito baixa para um concorrente forte), surpreendeu todo mundo, inclusive o austriaco Walchhofer, que ja achava que tinha ganho a prova, e colocou mais de 7 décimos de vantagem e ganhou a prova. O frances que estava distribuindo as fotos, parou bestificado e soltou um alto e sonoro "YES" e os reporteres que estavam la começaram a procurar no sistema quem era o tal cara que saiu la atras e ganhou a prova.

No final, o Nikolai, brasileiro que disputou a prova, ficou em 43o (de 55, nao foi tao ruim). Apos a prova, a sala volta a encher para a coletiva de imprensa dos primeiros lugares. Enquanto isso, quando eu vejo, chega o Pedro Bassan, vermelho de frio depois da prova, depois de entrevistar o Nikolai durante um bom tempo.

Parece que acabou, mas tem a volta.... Chegando no ponto do onibus, umas 4 e pouco da tarde, ficamos esperando pelo tal circular que nao aparecia, acabamos pegando carona com um brasileiro que trabalha no controle de doping e tinha um amigo italiano que estava dirigindo. No meio da subida, parou tudo, parecia engarrafamento na Niemeyer (sem as favelas). Contudo, ninguém bancou o esperto para furar fila. O jeito foi sair do carro e caminhar para pegar o onibus que ia para Torino pela rota alternativa (aquela que eu falei no dia 3, que vai por Pinerolo). No meio do caminho, eu e o Henrique pegamos o onibus direto para Torino e, la pelas 8 horas, estava chegando em Torino.

Valeu a pena ter trabalhado, mas nao imaginava que seria essa confusao.

Dia 9: Cesana Pariol (Luge Simples) - É rapido, nao foi?


(Sábado, 11 de fevereiro) Quem leu como foi a minha experiencia de 4 anos atras em uma pista de luge/bob/skeleton (vide os primeiros posts) viu como foi problematico. Neve, muito frio, sem lugar direito para ver a pista, enfim nao foi a melhor competicao que eu ja vi.

Sabado, felizmente, a coisa foi diferente. Se nao estava fazendo efetivamente calor, ao menos o sol estava la. A pista também é bem melhor do que a de Park City, porque permite ver boa parte do percurso final, coisa que para uma pista dessas (onde a subida é muito forte) é algo raro.

Logo que eu cheguei, a primeira pessoa que eu vejo é o Joao Pedro Paes Leme entrevistando o Renato Mizoguchi, que se classificou mas nao pode participar por conta de um acidente muito sério. Fui la dar um alo e quando eu vi, tinha um microfone na minha frente. Me lembro de ter falado alguma coisa mas nao sei se pode ser aproveitavel na TV.

Sobre a prova, comparando com o skeleton, o luge é um pouco mais rapido, mas parece maior, porque dava para ver mais do luge na pista mesmo de longe. O segredo do esporte (pelo pouco que eu percebi) é entrar o mais alto na curva para depois aproveitar o embalo nas retas. O problema é quando tem gente que acha que consegue ir alto e acaba batendo nas paredes, como aconteceu algumas vezes.

Tirei fotos de varios lugares da pista inclusive da largada, que dessa vez so pode entrar na arquibancada se tiver um cracha como o meu, que tem o "4". Alias, o cracha esse ano parece que esta abrindo mais portas do que em 2002.

A prova de sabado foi o primeiro dos dois dias da prova de luge simples (1 atleta). Cada dia tem duas descidas. Quem sobrou na pista no dia foi o italiano Armin Zoeggler (que tem fa clube com onibus e tudo mais), que no dia seguinte confirmou o favoritismo e defendeu o titulo de 2002. Mas ele, de fato, parecia fazer tudo mais facil do que os outros.

No intervalo entre uma descida e outra, fizeram um palco com DJs e banda de rock (ou algo parecido) para entreter e nao matar o publico de frio, porque a segunda descida foi feita totalmente a noite, e quando o sol some aqui, ainda mais no meio das montanhas, faz frio.

sábado, fevereiro 11, 2006

Dia 8: Nao é Mole nao

(Sexta, 10 de fevereiro) Estou aproveitando o fim de festa aqui no Soundtown para as ultimas do dia.

Hoje foi dia de visitar o ponto principal da cidade, a Mole Antonelliana. E a construçao mais alta da cidade e dentro tem o Museu Nacional (Italiano) de cinema. A paisagem de cima é a melhor coisa do lugar, ainda mais como hoje que dava para ver toda a cidade E os alpes, fato nao muito comum devido a nevoa de fumaça (conhecido como 'smog' em ingles) que assola a cidade.

Dentro, no museu do cinema, tem uma parte dedicada a historia do cinema, como chegou até os irmaos Lumiere (com todos os tipos de ilusao de otica e instrumentos utilizados no seculo XIX). Eles fazem uma nota importante ao mencionar que teve gente que inventou o cinematografo mas nao patenteou a invençao, enquanto quem tinha dinheiro acabou ganhando mais ainda.

Na saida, "encontrei" com a tocha olimpica, que estava dando uma passada pela Mole. Como nao pude ver ontem a noite a chegada na cidade valeu a pena os empurroes e o frio.
A noite, conforme o combinado nos dois foruns, nos encontramos para ver a cerimonia em um bar daqui chamado "Soundtown". E quando estavamos preparando para ver o Brasil entrar no estadio, entra o comercial da RAI, que so voltou quando era a vez do Canada. Tinhamos até a bandeira brasileira aqui, que acabou fazendo sucesso. O lugar agora deu uma esvaziada, mas estava bem cheio ate bem pouco tempo atras, nos dois andares, sendo que o subsolo tinha um telão na parede e a sala cheia de cadeiras. Foi a unica oportunidade de reunir todo mundo porque a partir de agora cada um vai ter um trabalho diferente em lugares diferentes e horarios diferentes.

Amanha tem as primeiras provas e vou ver a de Luge. Depois conto mais.

Arrivederci

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Dia 7: Cesana - Claviere: SAI DA FRENTE!

(Quinta, 9 de fevereiro) Ir para trabalhar em Sestriere é meio demorado, mas vale a pena, ir para o mesmo lugar (ou um pouco antes) para esquiar, vale ainda mais.

Tinha combinado com um pessoal do Forum Internacional para esquiar, e apos algumas mudancas de planos, ficou para essa quinta. A regiao de Sestriere é chamada de Via Lactea e tem varias cidades interligadas, de modo que voce pode esquiar so em algumas delas. O meu passe dava direito a regiao de Cesana e Claviere. Chegando la, aluguei os esquis e avisei que so tinha esquiado 4 dias na minha vida (em tres lugares diferentes, modéstia a parte).

Pois bem, entramos no teleférico que começou a subir...




E a subir.....




E a subir.....





E a subir um pouco mais.....




Quando chegamos la em cima o pessoal disse "Vamos". Como assim, vamos? Nao entenderam a parte do "4 dias"? Aqui as pistas sao divididas em 4 niveis. Eu so tinha esquiado nas duas primeiras na vida e, 4 anos depois da minha ultima descida, me botaram para encarar a segunda mais dificil.

O que se seguiu foi um festival de tombos e escorregoes, felizmente sem nenhuma gravidade, embora teve umas aberturas de perna que me fizeram lamentar nao me alongar um pouco mais antes de subir. O pessoal foi extremamente paciente e diante da minha experiencia prévia, fui bastante elogiado, como se tivesse alguma escolha na hora (a regiao nao é muito boa para iniciantes).

Ao final, morto de cansado, tinha uma ribanceira que eu disse "Chega" e desci sem os esquis. Quando chegamos la, o teleferico que ia levar a gente de volta ja tinha parado e fizemos a longa descida pela estrada de neve, que nao foi de todo muito ruim.

Ao chegar em Torino, a unica coisa que eu queria era comprar alguma coisa para comer em casa e dormir. Durante o jantar, fiquei vendo alguns minutos do "Grande Fratello 6". Sim, a versao italiana do Big Brother. Vocês acham que ver o Bial por 90 minutos é muito? Imaginem que o programa de eliminaçao daqui dura nada menos que 3 HORAS!!! E a eliminação ocorre no MEIO do programa!!!

Dia 6 (Parte 2): Meninos eu vi, ma che spetacolo!!

Saindo correndo do museu, fui para o ensaio geral da cerimonia de abertura, pois o horario maximo de entrada que tinham avisado era as 18:30. Quando cheguei la, uma fila enorme ainda estava se formando. A diferença para as filas do Maracana é que ninguém fica dando uma de espertinho ou fica tentando sair correndo achando que vai perder alguma coisa. Além disso, como "A Marcha dos Pinguins" mostrou muito bem, muita gente junta no frio gera um certo calor (e na hora eu me sentia como um), o que tornou a espera menos complicada.

O Stadio Comunale é um estadio antigo, e por isso nao tem as modernidades de uma "arena" multiuso, mas esta impecavel e isso é o que importa. Depois da fila, fui ao meu lugar marcado....que nao existia!!!! Tinha uma escada no lugar. Prevendo isso, o pessoal botou uma seçao inteira para esses casos, o que para mim foi uma vantagem porque o outro lugar era muito baixo.

Bom, nao vou adiantar muito do que vi, mas foi uma cerimonia muito boa. Nao vai ser nada marcante, a nao ser que alguma das surpresas façam alguma diferença. Mas teve de tudo: criancinha cantando, painel humano, peças meio surreais. A simulaçao é quase completa porque afinal de contas é o ensaio geral. Tem algumas coisas engraçadas porque, por exemplo, quando chamam o presidente do COI, aparece um voluntario (e o pessoal aplaude assim mesmo). O unico que falou (mas nao foi o discurso que vai ser feito hoje) foi o presidente do TOROC, o comite organizador, que jogou para a platéia.

O Brasil entrou ao som de Michael Jackson (podia ter sido pior, 30 segundos antes tocava "I will survive"), enquanto o estadio veio abaixo quando veio a "delegaçao" italiana, a unica que tinha muitos voluntarios entrando no estadio, ao som de YMCA. Alias, a trilha sonora estava muito boa. No mais, teve simulaçao da tocha (o que deu para descobrir é que o Alberto Tomba, famoso esquiador italiano nos anos 80 e 90) NAO vai ser quem vai acender a tocha, "revoada" das pombas (uma forma artistica para substituir a revoada das pombas, que foi proibida depois do "churrasco" em Seul 88), contagem regressiva, enfim, quase tudo igual.

A experiencia foi unica, depois do fim do ensaio fiquei caminhando mais um tempo no gramado (que tem lugares pagos) olhando para o lugar. Para quem puder ver hoje, ou ao menos gravar, a primeira meia hora e mais interessante.

OBS 1: Tenho que dar razao ao Schumacher, nao da para nao reger o hino da Italia.
OBS 2: Nunca batam palmas no frio sem luvas.

Dia 6 (Parte 1): Turismo Torino

(Quarta, 8 de fevereiro) Quarta foi dia de fazer um pouco de turismo na cidade. A primeira parada, antes de qualquer coisa, foi o Museu do Automovel (Voces achavam que eu ia aonde sendo aqui a fabrica da FIAT?).

O lugar é muito interessante para quem gosta de carro, mas pode agradar so quem esta de passagem pela historia da regiao. No inicio do Seculo XX tinham varias fabricas de carro aqui na regiao, mas so a FIAT sobreviveu.

Mas o melhor mesmo esta no ultimo andar, com os carros de Formula 1. Tem Ferrari do Schumacher, Sauber do Pedro Paulo Diniz, mas os destaques sao a Ferrari de 1980 do Villeneuve (pai), a Ferrari 156 de 1961 e a Mercedes do Fangio de 1954. Desnecessario dizer que cansei de tirar foto, pena que nenhuma de dentro do carro (mas o pessoal da NBC que estava la tirou, e so para quem pode mesmo)

Nas fotos abaixo, primeiro o Piquet de Pirelli, o depois fotos da Mille Miglia e por fim fotos do Giro. As duas ultimas da primeira metade do século passado. Fazem parte da exposição temporária que tinha no museu sobre a evolução dos pneus.



A tarde, foi a vez do Museu Egipcio. Para quem nao sabe aqui e o segundo maior museu, depois do Cairo, pelo menos e o que dizem. E como uma visita ao Egito esta longe de acontecer, serve esse aqui. No inicio parecia ser uma enganacao, com uns vasos que poderiam muito bem ter sido comprados na Ilha de Marajo, mas a partir da sala das estatuas a coisa muda. Muita gente importante estava la: Ramses, Amon Ra, a esfinge (um primo mais pobre). So Tutancamon nao apareceu. Além disso tem Papiros, Mumias (muitas), e uma parte que conta como foi o fim da civilizacao egipcia, com a entrada do imperio romano (algo que nunca tinha entendido nos livros de historia). No geral, valeu a pena.

Dia 5: The Twilight Zone

(Terça, 7 de fevereiro) Terça foi o meu primeiro dia de trabalho para valer. Quer dizer, ainda nao é aquele movimento, mas ja estava em ritmo de Olimpiadas. Antes do trabalho, fomos para a parte de Borgata (Sestriere tem duas subsedes, Colle e Borgata) para termos um mini-treinamento na zona mista, que é o lugar onde os atletas saem depois da prova e os jornalistas ficam se matando para conseguir uma declaraçao.

Logo ao chegar, vi uma coisa meio estranha. Sentados em um morro, tinham uns 6 caras com cara, e vestidos como, do pessoal que serve de guia para quem vai ao Himalaia. A sensaçao, com o frio e tudo, ao ver a cena, era de estar indo ao Everest, e nao para uma tenda em Borgata (ao invés da Mixed Zone, a cena estava mais para a Twilight Zone - "Além da Imaginaçao" no Brasil)

Na regiao da Zona Mista (que é onde todos os voluntarios querem ir, inclusive eu, mas tem até lista de espera) tivemos algumas explicaçoes e depois fizemos nosso primeiro trabalho: retirar os plasticos da empresa que fez as cercas de proteçao, que nao é "fornecedor oficial" (para voces verem como é a coisa por aqui).

Depois do almoço, fui para o Help Desk, onde a funçao principal agora é ajudar os jornalistas que estao chegando, distribuindo kits, entregando chaves de armario e preparar o lugar para os proximos dias (colocando avisos, caixas de recebimento, etc...)

Foram cinco horas doidas, porque a cabeça tinha que trocar de lingua a todo momento: de italiano para ingles para frances (e uma hora até Portugues com um argentino que tambem esta trabalhando la). No final, estava com dor de cabeça mas extremamente satisfeito, porque era isso mesmo que eu estava esperando.

Domingo volto para Sestriere, desta vez ja com as coisas andando a pleno vapor.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Dia 4: Quem é o responsavel?

(Segunda, 6 de fevereiro) Aparentemente, Torino nao parece estar ligando muito para os Jogos. Digo isso porque segunda eu tentei visitar qualquer coisa aqui na cidade, depois de dormir até um pouco mais tarde, e simplesmente NENHUM museu ou palacio estava aberto na segunda. Nao sei o que o secretario de turismo daqui pode fazer a respeito, mas realmente acho um absurdo.

O jeito foi dar uma caminhada a pé pelo centro, depois de ter tentado uns dois ou tres lugares. Assim, finalmente pude constatar o que eu achava antes de chegar aqui: quase todos os lugares turisticos estao a 15 minutos de distancia, no maximo, uns dos outros.

O centro é a regiao historica, com os prédios mais antigos, mas a cidade parece ser monocromatica (esse negocio de so ouvir italiano da nisso). Algo entre o bege e o marrom. A cidade é muito sem graça, apesar dos esforços e das obras. Alias, obra aqui nao é so para os Jogos. O metro, que esta sendo inaugurado essa semana, so vai acabar em 2010, e outras obras nao estao nem ai para os Jogos, ja faziam parte do cronograma e pronto.

A visita turistica ficou para depois. A noite, fomos encontrar com os italianos do forum Amici Noi, um dos dois forums que eu entrei para me informar sobre a cidade e os Jogos. No dia seguinte, seria o meu primeiro dia (para valer) de trabalho.

Dia 3: Ainda bem que sao so 3 horas

(Domingo, 5 de fevereiro) No domingo, o dia amanheceu mais feio do que de costume (o tempo aqui nao e dos mais simpaticos). Mas nosso destino era Sestriere, para nos apresentarmos oficialmente. Embora eu tivesse um horario marcado, ja tinha sido avisado que nao havia pressa, porque nao havia o que fazer naquele dia (de fato a inauguracao "soft" so foi na terça).

Entao, saimos com calma para pegar o onibus para pegar o trem para Oulx para pegar o onibus até Sestriere (so para voces verem o caminho). Chegando na estaçao de trem (Porta Nuova), vimos que perdemos o trem por 5 minutos e o proximo so ia sair dentro de 2 horas e meia (afinal de contas e domingo).

O jeito entao foi pegar a rota alternativa. Para chegar a Sestriere por Torino tem dois caminhos, o Norte (que eu expliquei acima) e o Sul, que consiste em pegar o trem ate Pinerolo, um onibus ate Pragelato e outro onibus até Sestriere. O caminho do Norte e mais longo, mas e mais rapido (por conta das paradas e esperas), mas ao inves de esperar no frio da estaçao de trem, resolvemos tomar o outro caminho.

Chegando em Pinerolo, fizemos amizade com um senhor italiano que esta trabalhando como acompanhante da delegaçao chinesa. Logo, veio outra moça com um cachorro (que tambem entrou no onibus) e começaram a conversar sobre lugar de trabalho, horarios, etc... Como deu para perceber, basta ter dois italianos para se ter uma discussao mais acalorada (mas ordeira).

Pegamos o onibus e fomos até Pinerolo. Nesse caminho, o tempo estava horrivel, com névoa e muito frio, mas foi so passar as nuvens que finalmente vimos o sol e a paisagem dos Alpes.

Sinceramente, nao tem palavras para descrever o lugar. Qualquer foto que voce bate parece ser de cartao postal. A neve cobrindo tudo, as casas na montanha, parece tudo de cinema. Até de noite a regiao é bonita. Foi aquela levantada de animo para viajar até la.

Umas 3 horas e meia depois de sair de casa, chegamos a Sestriere e ao Pallazzetto dello Sport, uma espécie de ginasio onde é a sede de imprensa das montanhas. Devidamente acompanhados pelos nossos futuros chefes e colegas de trabalho. Demos uma volta pelo lugar, caminhamos por todos os lugares onde vamos trabalhar (e comer), encontramos o Henrique, o terceiro brasileiro que vai trabalhar la, e voltamos para casa, dessa vez pelo lugar mais rapido (SO duas horas e meia).

So que uma coisa é certa, eu sei que parece masoquismo, mas com certeza eu nao troco nunca essa viagem de duas horas e alguma coisa para chegar la por qualquer trabalho aqui em Torino. E mais tarde voces vao ver porque.

Dia 2: Saudades Imorredoras da Superstore

(Sábado, 4 de fevereiro) Nao foi proposital, mas acabou sendo uma especie de transicao de 4 anos atras.

Depois do incidente do dia anterior, tudo o que eu queria era so diminuir um pouco a rotacao. Entao, sai com o Marcio para pegar o uniforme dele. Na volta, por volta da hora do almoco (onde tudo fecha por umas 3 horas) encontramos um chines que ia passar a noite aqui em Torino la no nosso apartamento e depois ia seguir para Bardonecchia, onde arranjaram um lugar de graça (alguns tem mais sorte que os outros).

Como ele estava meio perdido, resolvemos acompanha-lo. So que o cara era muito roda presa, nao tinha vontade de visitar nada, enfim, parecia que so queria literalmente passar o dia aqui sem fazer (e gastar) nada.

Entao, acabamos indo parar na Superstore, que este ano nao esta na Olimpic Square, mas na Piazza Vittorio Venneto, que e a maior praça da cidade. Dessa vez, ela esta menor, mais baixa e mais discreta (com uma tenda vermelho escuro). Mas continua a mesma.

Quando eu entrei, parece que eu tinha retornado uns 4 anos. Era quase tudo igual, com algumas poucas modificacoes: as roupas na parte central, os collectibles no lado esquerdo, os pins e os souvenirs na parte de tras, os vendedores com cara meio cansada, meio entediada (so quem esteve la sabe como é essa cara). Até as roupas dos vendedores eram muito parecidas (o colete vermelho parecia ser exatamente o mesmo, so com o logo de Torino de diferente). Apesar de todas as semelhanças, os unicos que trabalharam em 2002 e estavam la eram os seguranças australianos, com quem eu falei com um deles e até tirei foto.

Confesso que, na hora, apesar de estar satisfeito de nao estar trabalhando de novo la, bateu uma saudade de 2002. Como eu nao tinha ainda comecado a trabalhar aqui, foi mesmo uma sensacao de transicao entre SLC e Torino.

Esse ano, entretanto, tem menos coisa para vender, e o impeto do pessoal (era sabado a noite e a loja estava cheia) parecia ser menor. Inclusive, na hora que chegamos, a loja estava meio em panico porque o sistema de cartao de crédito na cidade tinha caido. Eu mesmo tinha tentado sacar algum dinheiro e nao consegui naquele dia. O tal segurança lembrou que,uma noite em 2002, so a loja tinha derrubado todo o sistema do cartao de crédito da costa leste. Nao duvido que tenha acontecido o mesmo.

Depois disso, foi dormir e voltar para casa, porque o dia seguinte ia ser puxado.

Dia 1: O dia de 48 horas

Buon Giorno, aqui estou eu depois de um dia muito intenso ontem, por isso mesmo que eu ja havia avisado que poderia nao dar para atualizar com mais frequencia, mas vamos as novidades.

(Sexta, 3 de fevereiro) A viagem em si foi bastante tranquila, embora muito cansativa. O pouso em Paris foi muito bom, considerando que a cidade estava sob forte neblina (mereceu aplausos) e o voo até Milao foi muito tranquilo, com direito a vista panoramica do Monte Branco. O unico problema foi que eu nao consegui dormir mais do que umas 4 horas durante todo o voo, o que fez com que a quinta feira parecia nao ter terminado.

Entao....ao chegar em Milao, tive a desagradavel surpresa de ver que o voo em que o Marcio (meu colega de quarto aqui em Torino) so chegaria as 17 horas ao inves das 14:30. Culpa da Varig. Achando que saberia me virar sozinho, cansado e impaciente, la fui eu as 15:30 pegar o onibus do aeroporto Malpensa até Torino. O problema era que eu achava que sabia aonde seria o nosso ponto de encontro com os Italianos que iam fazer um comite de recepcao. (Como se diz no Beisebol = Strike 1)

Cheguei no ponto final do onibus e, surpresa, nao tinha ninguem la. Ainda assim, continuei insistindo no erro e fui de taxi ate o Centro de Credenciamento e entrega de Uniforme (veja o post abaixo) com uma mala de 26 kilos (Strike 2) e chegando la, sai perguntando para todo mundo aonde era o tal Centro, e depois de algumas tentativas, consegui deixar a mala na porta do Meridien de Lingotto (mais tarde eu explico o que e esse lugar) e fui pegar as coisas.

Peguei aquela sacola enorme que eu falei no post abaixo e fui com ela E a mala buscar um taxi (que descobri rapido), e fui ate o endereco que me dissseram, Via Roveda 13/c. (A proposito, taxista aqui nao sabe muito nome de rua) Cheguei la, fui ver os moradores e surpresa(!) nao havia ninguem com o nome de Davide, o dono do apartamento, que eu fui descobrir que tinha se mudado para la a pouco tempo e alem disso nao tinha mudado o nome na campainha do apartamento. (Strike 3 e fui eliminado)

Cansado e sem muita disposicao de esperar no frio, pedi para o motorista encontrar o primeiro hotel que tinha pela frente (que doeu um pouco no bolso, mas nessa hora é o poder do cartao de credito), comi uma pizza (que parecia ser a melhor que eu ja comi) e deitei na cama. Acordei no dia seguinte as 7, caminhei ate o apartamento (era uns 800 metros distantes do hotel) e vi que o Davide colocou o nome dele na campainha. Problema resolvido.

As boas noticias disso tudo é que, primeiro meu italiano melhorou muito rapido e que, depois desse "imbroglio", as coisas melhoraram bastante como voces vao ver (podem respirar tranquilos em casa).

Arrivederci

domingo, fevereiro 05, 2006

Vendo/Compro seu Apartamento

Bom, esta novela mexicana teve de tudo. Preparem-se para muito drama, suspense e, quem sabe, um final feliz.

Ao receber a confirmação de que tinha chance de ir trabalhar como voluntário, a primeira coisa que precisava ser feita era arranjar uma cama para dormir (allogio, em italiano).

Como os hotéis são muito caros para ficar 1 mês, e ainda não tinha vagas abertas em albergues, o jeito foi tentar dividir um apartamento com outros voluntários. Através de alguns contatos, consegui um primeiro apartamento para 5 pessoas pagando 700 Euros pelo mês de fevereiro todo. Parecia que o capítulo final estava encerrado....

Porém, após perguntar para alguns italianos sobre preço de quartos e apartamentos, o grupo começou a procurar outras alternativas mais baratas. E assim, um a um, fomos todos 'saindo' do nosso apartamento original, incluindo este que vos escreve. O problema era substituir por outras pessoas para não prejudicar aqueles que ainda estavam lá.

Bem, aí começou a confusão. Durante 6 longos meses, foi uma longa procura. Escrevendo em inglês e arranhando italiano, nos forums de voluntários, no site oficial dos voluntarios (
NOI 2006), em fóruns de discussão sobre Olimpíadas, no Orkut, aonde tivesse chance. Entre os que fizeram a primeira substituição tinham um francês e um austríaco. Mas entre os interessados haviam, belgas, húngaro, australianas, holandesas, italianos, espanhol, chinês, iugoslava, canadense, inglês, indiano e mais uns outros, de todas as idades, que já nem me lembro mais (não, não havia português na casa, de modo que não virava uma piada ambulante).

O 'destaque' negativo foi um velho grego mala sem alça (espero que não hajam muitos como ele na Grécia) que perguntou pela primeira vez em novembro, achou que o apartamento era uma farsa, botou um aviso nos classificados do site oficial dos voluntários dizendo que tinha gente vendendo gato por lebre e dois meses depois voltou implorando (mas exigindo um quarto próprio) se não tinha uma vaga para ele. O final da história foi (segundo ele) que o chefe dele não o liberou para os Jogos.

Além dele, os motivos para as desistências foram as mais impressionantes possíveis: o orientador do curso de pós-graduação não deixou viajar, chefe que só tinha interesse em fazer matérias antes dos Jogos começarem e até um tumor cerebral (com direito a foto do tumor).

Por isso, no final de dezembro, a situação estava realmente complicada, porque tinhamos que achar 4 das 5 pessoas para substituir no apartamento e, naquele momento, faltando 2 meses para o inicio dos Jogos, não haviam muitos pretendentes interessados. O motivo do desinteresse era tanto o fato de que o preço não era muito barato (embora houvesse um pouco de especulação nesse ponto) quanto pelo fato do apartamento ter que ser alugado por um mês inteiro, o que tornava o valor do aluguel alto (apesar do preço por dia estar somente acima do preço do albergue).

A virada aconteceu na hora em que, embora sem lá muita convicção, porque outros já haviam anunciado e não havia dado muito certo, resolvi escrever um anúncio "altamente profissional" (como diria um famoso garoto de 6 anos para o seu tigre de pelúcia ;) ) no fórum dos voluntários (dentro do site Noi 2006) no dia 31/12. Como o acesso é só para voluntários, cliquem nesse link do Fórum Torino 2006 Volunteers, que é aberto para qualquer pessoa, para ler o anúncio e ver se ficou bom ou não.

A resposta foi bastante positiva, embora ainda tivesse demorado mais um mês para conseguir fechar com todos. Parte do sucesso do anúncio pode ser atribuído pelo fato de que sempre tem gente que deixa para fazer tudo em cima da hora. Aparentemente, os americanos foram os mais despreocupados, porque foram os que mais se interessaram pelo lugar.

Dessa forma, a escalação "final" ficou com 3 norte americanos, 1 mexicano e 1 espanhol. Isso porque ainda tinha um outro americano que desistiu três dias depois de ter confirmado, faltando duas semanas para o fim de janeiro.

E por quê eu só estou escrevendo isso agora? Pelo simples motivo que, diante de tudo o que eu escrevi acima e considerando que esse apartamento que eu estou foi arranjado via um Fórum Italiano, com um amigo de um dos voluntários que fazem parte do Fórum (grazie Ivano) pagando só na hora em que chegasse aqui, não seria surpresa se eu chegasse e o apartamento não estivesse disponível, ou o endereço não existisse. E como se isso nao fosse suficiente, no proximo post voces vao ver o que foi que aconteceu aqui na minha chegada.... (agudardem a proxima atualizacao)

Enfim, para a tranqüilidade de todos em casa, estou bem instalado e garantido até o final dos Jogos.

Uniforme e outras coisas de voluntário

Uma das primeiras coisas que eu fiz quando cheguei aqui foi pegar meu kit de voluntário. Digo "kit" porque há muito tempo deixou de ser apenas o uniforme.

O sistema é bem simples. Voce chega, apresenta o seu passaporte (ou a carta de confirmaçao) e segue a linha pintada no chao. Tira a foto, experimenta a roupa, pega o cracha. Tudo relativamente rapido, quando nao ha fila, e depois de uma meia hora voce sai com uma sacola enorme, entupida de coisas.

Bom, clicando no título acima (ou
aqui, dá no mesmo) vocês tem uma idéia do que os voluntários ganham de presente por trabalhar de "graça" nas Olimpíadas. Essas fotos foram tiradas na época do Natal, quando um dos voluntários foi até Turim para pegar o kit dele. A cada edição eles inventam um jeito de dar uma melhorada no kit, seja com coisas úteis ou com coisas não tão úteis.

Dizem que só podemos ficar com o uniforme se trabalharmos por, pelo menos, 10 dias. Sinceramente, não sei como eles vão fazer para controlar isso, até porque teve gente em Atenas que só apareceu para pegar o Uniforme.

Como vocês podem ver, também tem jabá de patrocinador, com direito a cartão de débito pré-pago e tudo, mas faz parte. O negócio é não entrar na onda, mas se for preciso...

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

A marcha para Torino

Pessoal,

Cheguei aqui, depois eu conto como foi chegar aqui fisicamente. Por enquanto, deixa eu contar como foi a preparaçao para chegar aqui.

Inicialmente, o primeiro passo foi me inscrever no site, em 2004, e esperar, esperar, esperar, até que chega uma hora em que avisam que vão começar a ligar para as pessoas, lá por volta de maio/junho. Antes disso, eu recebi uma mensagem pela internet de final de ano dizendo ' caro voluntario' e um torpedo oferecendo ingressos para uma prova de patinação em pista curta a 1 Euro (deve ter sido inspirado na nossa 'brilhante' governadora carioca).

Por fim, você recebe a ligação do pessoal responsável pela seleção. Para Torino, foram 40.000 inscritos para 20.000 vagas durante os Jogos e 7.000 para a cerimônia de abertura. Se acham muito, para os Jogos de Verão a relação candidato/vaga é ainda pior.
Na ligação, o rapaz conferiu os meus dados, perguntou aonde eu gostaria de trabalhar (minhas opções eram uma das Vilas Olímpicas ou a parte de Imprensa, no que obviamente escolhi a segunda opção) e disse que voltaria a ligar em setembro. So que setembro passou, outubro também, e nada, aliás nem comigo nem com ninguem de fora da Itália. O jeito foi escrever um e-mail para eles. Antes disso, escrevi para pedir acesso a área dos voluntarios dentro do
site oficial, e eles autorizaram.

Depois, no início de novembro, recebi a confirmação, quase oficial, de uma pessoa que trabalha dentro da área em que vou trabalhar, de que eu estava dentro. Umas duas semanas depois, chegou o e-mail oficial confirmando minha vaga entre os voluntários que irão trabalhar na área de Imprensa, com um formulário para preencher. Logo depois, consegui a confirmação de que eu vou trabalhar nas provas de esqui alpino em Sestriere, que fica mais ou menos umas duas horas de Torino.


É, eu sei, é longe, mas considerando que eu pretendo ver outros esportes na montanha, fica mais fácil chegar cedo, trabalhar e depois ir ver algum evento do que trabalhar e DEPOIS enfrentar o translado até lá. Claro que se tivesse alguma coisa no meio do caminho ajudaria, mas nem tudo é perfeito. Além disso, nada que uma Gazzetta dello Sport saindo da impressão não resolva para passar o tempo. Outro dia eu vi na Tv a cabo uma reportagem sobre o pessoal que forma grupos nos trens que saem do subúrbio de Paris até a cidade. No final de umas três semanas deve acabar quase a mesma coisa.

Enquanto isso, tinha a questão da logística. Considerando que eu trabalho em um departamento de transporte e logística, isso seria quase que obrigação. O mais fácil foi a passagem de avião, que ficou ajustada com as férias. O problema maior foi a questão da hospedagem. So que essa epopéia merece um post a parte...

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Cerimônia de Abertura

Muito bem, se você esta lendo este blog, então existem duas grandes possibilidades:

1 - Você tem algum grau de parentesco ou relacionamento direto com este que vos escreve


ou

2 - Você foi indicado por alguma dessas pessoas

Se você nao se encaixa em nenhuma dessas possibilidades, parabéns! Você sabe usar bem o Google (ou equivalente) e é uma pessoa que adora esportes de inverno.

Deixando as apresentações de lado, este blog foi criado com a única finalidade de contar como será esta viagem para trabalhar como voluntário nos XX Jogos Olímpicos de Inverno. A idéia do blog não foi de última hora, aliás foi até com bastante antecedência, antes mesmo da criação da Blog-irmã, com endereço auto-explicativo,
http://www.brasileirasnaoceania.blogspot.com, mesmo que ela resolva dizer que fui eu que imitei ela).

Falando em irmã e fazendo uma pausa para um pequeno comercial familiar, aproveitem para visitar o site oficial dela. Quem sabe alguém esteja precisando dos seus serviços especializados e exclusivos para criação e promoção da marca para sua empresa. (Não sou lá muito bom de marketing mas o recado foi dado)

Voltando a história, o motivo para a criação do blog é que em 2002, na minha viagem para Salt Lake (explicações abaixo) tinha que ficar lembrando dos e-mails de todo mundo. Então, considerando que a viagem já era esperada, estava pensando em uma forma que não tivesse que ficar memorizando e-mails, porque webmail não tem lista de endereços funcional.

Bom, vamos ao que interessa, aos que querem entender como surgiu a viagem e outros pormenores, os posts abaixo ajudam a explicar a cronologia envolvida. Como talvez demore um pouco para fazer a primeira atualização, recomendo ler um ou dois posts a cada dia porque tem muita coisa escrita. Quem quiser ir logo para a ação pode começar a ler os post daqui para cima.

Ah, e podem divulgar a vontade, afinal de contas vai ser um blog curto (não nos textos ;) ) e com data para acabar.

Prólogo: A idéia de Salt Lake

Tudo começou em Outubro de 2001. Cansado do mestrado e sem muita motivação e paciência, estava almoçando em um domingo, quando minha irmã me chega e diz: "E aí, vamos para Salt Lake?". Resumindo, ela tinha recebido uma propaganda sobre a possibilidade de trabalhar (ganhando dinheiro) em Salt Lake durante o mês de Fevereiro de 2002. Esta empresa (nota do autor: este blog não tem merchandising explícito*, muito menos é a novela das 8, mas acredita que, ao contrário da Rede Globo nas suas transmissões esportivas, deve colocar o nome, no caso o link, aos bois) oferecia a oportunidade de trabalhar com universitários de todo o mundo, oportunidade unica, etc... sob a forma de 'intercâmbio cultural'. Para mim, do jeito que fosse era o de menos, o que importava era a oportunidade de ir para Salt Lake, trabalhar em um evento que eu gosto muto (apesar de hoje ter um ambiente bem menos amadorístico do que algumas décadas atrás) e que, além de tudo, é GRANDE (não é preciso explicar sobre o mamute que é a organização de uma Olimpíada).

Assim, após uma correria para pedir visto, pagar passagem, taxas e afins, embarcamos (eu e minha irmã) para Salt Lake em um loooongo vôo (Rio-SP-Chicago-Denver-Salt Lake) e formos trabalhar dentro da Superstore, que nada mais é do que uma enorme tenda montada por uma
empresa australiana, que também trata da comercialização dos produtos ligados a Olimpíada dentro da cidade-sede. Nossa função era apenas definida como ´vendedores´ e envolvia fazer um pouco de tudo na loja, desde controlar estoque até ficar (com as costas moídas) no caixa.

*Exceto quando o autor ache que vale a pena dedicar algumas linhas ao produto/serviço, como no caso no post acima ;-)

Recuerdos de Salt Lake - parte 1

Continuando com a história, ao invés de reescrever novamente como foi a experiência em Salt Lake City (SLC), estou reproduzindo, na íntegra, os e-mails que eu escrevi enquanto estava lá em SLC.

O e-mail abaixo foi escrito na época para o pessoal que eu lembrava dos e-mails. Infelizmente não foi para muita gente, mas foi o que deu para fazer na época. Por esse motivo mesmo é que estou escrevendo esse blog.

Comentários:

1 - Meu vôo original só iria parar em Houston, mas a passagem foi cancelada por causa do calote argentino (história longa)


2 - A tese que eu me refiro e a minha tese de mestrado.

Enjoy.

-----Mensagem original-----
Enviada em: 15/02/02 16:44
Assunto: official olympic report - 1

Ola pessoal,

Aqui estou eu na ensolarada, mas fria SLC. Antes que o pessoal implore por mais noticias, vou contar um pouco de como anda por aqui.

Sobre a viagem:

Para quem ia fazer 1 escala, foi uma viagem e tanto. 14 horas viajando,mas foram 24 horas de viagem desde que eu sai do Rio (Sao Paulo, Chicago, Denver e finalmente SLC). Tirando alguma turbulencia no voo ate Chicago, o resto foi muito bom

Sobre a cidade:

Como esperado, morta. Se nao fosse pelas olimpiadas e pelo esqui nao tem mais nada pra fazer. Noitada comeca 9, 10 da noite, param de servir bebida a 1 da manha e encerra tudo as 2. Ah sim, faz frio, 0 graus, sempre. Tenho que assoar o nariz a cada 4 horas, mesmo sem problema nenhum.

Onibus aqui, mesmo com todos os preparativos, e bem escasso. Pelo menos chega na hora. alias, nao sei ate agora que transito eles estavam esperando. Nao tem ninguem nas calcadas e mal tem carro nas ruas. No minimo eles acham que sao igual a Atlanta, mas tirando o centro, com alguns predios, o resto e casa ate perder de vista. Nos cruzamentos nao tem o famoso "Walk/Don't Walk", mas um cronometro avisando quanto tempo falta pro sinal ficar vermelho e um cuco que fica apitando para avisar os cegos. Engracado no inicio, mas se voce fica caminhando muito voce e que fica maluco.

Sobre a loja:

Como o nome diz, e grande, mas nao achei tao Super quanto parece. A variedade e grande, mas ontem a noite o estoque principal estava quasetodo a zero. Nos entramos no Sabado, por enquanto o pior dia. Comecou as 11 da manha e so acabou depois das 11 da noite. E o dia inteiro repondo coisa, avisando sobre produto, indo pro caixa. Voce e designado pra fazer alguma coisa, mas no fim do dia fez duas ou tres, depende da necessidade. E bem cansativo, porque so tem duas paradas de meia hora,o resto do tempo e em pe (So da pra improvisar uma cadeira no estoque, quando da). Quarta eles chamaram mais gente, ai ficou um pouco mais tranquilo, mas ainda assim da trabalho. Para dizer que nao estou pensando na tese, os precos aqui ja estao incluidos impostos e tem apenas em valores inteiros e de 50 centavos para agilizar os caixas, que ficam o tempo inteiro trabalhando, nao da nem pra notar o tempo passar.

Aqui vende-se tudo muito bem. Pin por exemplo, tem duas paredes, a de pins propriamente dita e a de gente. Repor pin e uma loucura, tem queficar quase dando cotovelada pra avancar na multidao. Sem falar que tem que fazer uma especie de jogo da memoria, porque tem centenas deles.

O total vendido e absurdo. A maior compra que eu bati no caixa foi de 750 dolares, mas o Dave Matthews, depois do show que fez na Medals Plaza (do lado da SuperStore, da pra ouvir os shows todos, inclusive passagem de som a tarde) gastou 1,750 (que eu saiba e a maior compra). E os precos estao bem salgados, bastam ver no site (
http://www.slc2002.org/). Mas nao importa muito o preco, o pessoal compra sem ver. Ontem tinha uma camisa que foi devolvida e o tamanho estava em falta. Eu botei na prateleira e durou 15 segundos.

Mas o campeao de procura e a boina que os atletas americanos estao usando (se voces nao notaram, prestem atencao e azul). Ja estava em falta e quarta feira veio uma remessa de 1000. A loja abre as 11, as 11:05 tinha acabado tudo! $25000 de faturamento em 5 minutos. Nao e exagero, foi um avanco absurdo. E o preco $25 dolares estao achando que esta barato. Acho que se botar um chapeu de bobo da corte na cabeca deles vende tudo por $70 cada.

Sobre as Olimpiadas:

Por enquanto correndo bem, sem problemas, tirando a polemica dos juizes da patinacao artistica, que pelo que eu acabei de ver, ja resolveram. A cidade esta toda decorada para os jogos e esta bem legal. Os ingressos ainda tem, mas o local oficial de venda e longe e de onibus demora (por causa dos horarios, passam no minimo a cada 30 min). Eu comprei os meus no centro com algum agio, embora talvez consiga abaixo do preco na hora,mas eu quis planejar com antecedencia. A principio amanha vou ver Curling (bocha no gelo) em Ogden, terca Skeleton (treno so que em vez de ficar com os pes pra frente, fica de barriga e com a cabeca pra frente) e no outro domingo Cross-Country. Eu queria ver ski alpino tambem, mas nao tinha mais ingresso nos meus dias de folga, paciencia. Mesma coisa para o Bobsleigh, principalmente o de 4 que vai ter participacao brasileira.

Falando em Brasil, amanha devo ir na vila olimpica visitar a delegacao, falta combinar o horario, gracas a certos contatos do meu pai. Ontem, o Nuzman (presidente do COB) e a Marcia Peltier apareceram na loja, ela, de bloquinho na mao, estava curiosa pra saber porque tinha tanto brasileiro na loja (somos maioria, alias nao sei aonde estao os outros estudantes estrangeiros, so tem brasileiro aqui).

E ate meio sem graca dizer que e brasileiro nessa cidade, metade ja foi ao Brasil em missao pelos mormons, e nao da pra falar sempre em Portugues porque de vez em quanto tem gente que entende

Bom, tem mais coisa, mas por enquanto nao da pra escrever mais, semana que vem eu continuo.

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Recuerdos de Salt Lake - parte 2

Continuando com o post anterior, segue o segundo e-mail que eu escrevi na época.

Antes alguns comentarios:

1 - A casa aonde nós ficamos tinha dois andares. Era relativamente barato (uns 12 dólares por dia por pessoa) porque a) Espaço é o que não falta naquela cidade e b) A casa estava em reforma. Éramos 5 no andar de cima e, embora somente todos tivessem sido apresentados na hora da viagem, conseguimos conciliar muito bem os interesses. Agora os dois que chegaram depois e ficaram no andar de baixo decididamente não tinham nada o que fazer por lá. Diz a lenda que foram demitidos da lanchonete onde trabalhavam porque, entre outras, botaram frango no lugar do sanduíche de carne

2- No dia do Curling, acabei encontrando um rapaz e duas moças da Califórnia que também perderam o ônibus de volta para Salt Lake. Eles fizeram o que eu tentei fazer, que foi ver a prova de Super G (esqui alpino) de manhã e emendar com as partidas de Curling, mas eu achei arriscado sair de manhã pelo problema crônico de falta de ônibus (leia o e-mail abaixo). O jeito foi ficar conversando dentro de um diner (porque fazia um belo frio do lado de fora) e ao chegar em SLC nos despedimos e cada um foi para o seu lado.

3 - O Trax citado abaixo foi um metrô de superfície com duas linhas que foi inaugurado na época dos Jogos (pena que o nosso alcaide ache que melhorar o sistema de transporte do Rio é supérfluo e que o bom mesmo e arranjar obra para empreiteira). Ligava o Estádio onde teve as cerimônias de abertura e encerramento, que ficava na Universidade de Utah (um monstro de universidade, deixa o Fundão no chinelo) até o centro e do centro até o sul da cidade.

4 - A questão de quem mandou reabrir a loja nunca ficou bem clara. Teve gente que disse que foi o dono da loja que mandou reabrir, outros disseram que tinham resolvido fechar mais cedo (porque o movimento durante o dia estava muito devagar). O que importa mesmo foi que todo mundo que trabalhou naquela noite passou muito frio.

Enfim, ja escrevi demais (sem falar que o e-mail ja é longo), leiam o relato abaixo
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-----Mensagem original-----
Enviada em: 01/03/02 08:34
Assunto: official olympic report - 2

Ola para todos,

Antes que eu volte, aqui estou eu escrevedo, de forma meio atrapalhada,no notebook de um cara aqui do apartamento, sobre as ultimas noticias (literalmente) de SLC. Ja estou avisando agora, esta meio longo porque tem muita coisa para escrever, e eu me empolguei um pouco. E aconselhavel imprimir para ler com calma depois.

Para comecar, se alguem estava curioso como e uma cidade no `day after´de uma olimpiada, aqui em SLC foi algo inacreditavel. Segunda feira, 9 da manha, nao tinha mais ninguem na rua. Nem mesmo o pessoal que vende jornal na rua estava la. Parecia (alias, parece) uma cidade fantasma.

Comecando com as provas que eu fui, mais o dia que eu passei na vila:

A primeira prova foi a de Curling, dia 16. Provavelmente devo ser o unico brasileiro que conseguiu assistir a uma partida inteira de Curling. O principal problema foi chegar ate la (o que, como voces vao ver vai ser uma constante). A linha de onibus mais rapida ate Ogden, 50km de SLC, nao funciona nos finais de semana. Eu liguei dois dias antes, e ainda assim nao confirmaram que ela funcionaria. Logo, peguei o mais demorado, mais o unico que tinha. Sai quase 3 horas antes de comecar as partidas (sao 4 simultaneas). Acreditem, mais eu acabei chegando atrasado 15 minutos. Nao que tenha sido algo absurdo, porque cada partida demora 3 horas (por isso sao 4 ao mesmo tempo). Sobre o jogo, a melhor analogia que eu posso fazer e com o jogo de bocha. As diferencas principais sao o fato de que e no gelo e que cada equipe tem1h20m durante toda a partida para fazer os lancamentos das pedras.Apesar das gozacoes dos comediantes americanos, eu nao achei tao macante.

Um dos jogos foi o dos Estados Unidos que precisou ir para aprorrogacao, que e mais uma rodada, alem das outras 10, para definir quem ganha. Felizmente os Estados Unidos perderam essa e acabaram sendo eliminados. Infelizmente, por causa disso, eu acabei perdendo o onibus mais rapido para voltar para SLC, que eu descobri que eles decidiram colocar a linha funcionando na noite anterior. Resultado: 1h30m de espera, dentro de um diner, jantando, esperando pelo onibus. Apesar de tudo, valeu a pena.

O segundo evento foi o de Skeleton, ou treno onde a pessoa desce de cabeca. Infelizmente, nao ha onibus para o Olympic Park, que fica perto de Park City, logo tive que ir no onibus contratado pelo comite para levar os espectadores para os locais de competicao. Neste caso, a prova comecava as 9 da manha, e o ultimo onibus saia as 5:30. Porem, as 5 da manha nao tem nenhum onibus funcionando dentro da cidade. E la fui eu as 4:30 da manha, chovendo, caminhar 14 quarteroes (uns 3km) para pegar o onibus. Chegando no Olympic Park, as 6 da manha estava nevando e escuro. O sinal mais evidente para ficar dentro do onibus foi quando uma garota foi ver o tempo fora do onibus e ela disse"Esta frio e nevando".

Fiquei mais 30min dentro do onibus, e so sai porque achava que ia pegar fila. Depois de 1 hora caminhando ate o local de partida (e uma longa caminhada), estava claro, mas continuava nevando. E nevou ate o inicio da prova, as 9. E nevou ate o final da prova, 12:30. Mesmo com o frio, e o fato dos americanos terem ganho as duas provas (masc e fem) foi muito legal porque voce fica muito perto da pista, bem mais do que parece na tv. E e muito rapido. Nao da para tirar uma foto de perto, quando voce vai tirar, o skeleton ja passou. As fotos que eu tirei sao todas amplas, para dar tempo de pegar o skeleton.

Falando nos americanos, todo mundo que esta aqui que nao e americano ficou revoltado com a ajuda que eles receberam dos juizes durante as olimpiadas. Seja na patinacao artistica, na de velocidade em pista curta, nao importa, teve umas que foram assintosas. Estava todo mundo torcendo contra. Logo, quando os americanos perderam no ultimo dia afinal de Hockey, todos os estrangeiros da loja estavam comemorando.

Voltando para as Olimpiadas...O ultimo final de semana foi meio sacrificado, mas foi excelente. Comecou sabado de manha, quando finalmente eu consegui ir para a vila olimpica. Assim que eu cheguei eu acabei encontrando com o Eric, capitao da equipe de bobsled brasileira, que ia competir horas depois. Tomei cafe da manha no refeitorio que o pessoal da vila estava. Conversei com os outros atletas brasileiros que estavam acordados e na vila (Cristiano, que e responsavel pelos freios do bobsled, o Renato, do Luge, e a Mirela, do esqui alpino), e o assesor de imprensa do COB que me deixou visitar um dos quartos onde a delegacao brasileira estava. Apesar disso, a vila parece que nao estava muito animada porque o pessoal da equipe do Brasil volta e meia aparecia em outros lugares da cidade. Logo depois fui trabalhar, de meio dia ate as 11 da noite, o ultimo dia em que a loja funcionou a pleno vapor.

Depois do trabalho, fomos para o Made in Brazil, uma das tres churrascarias brasileiras de SLC (a ultima abriu no inicio do mes no centro). Chegar la ja foi uma aventura, porque o negocio fica muito longe do centro. Eu fui com um pessoal antes. No caminho para pegar o Trax, estava uma confusao, porque afinal era o ultimo sabado dos jogos,e no dia seguinte tinha a final de Hockey, EUA x Canada, cujas torcidas estavam se provocando desde sexta. Teve policia no local e tudo, o que e uma raridade por aqui.

Pior aconteceu com a minha irma. Dentro do Trax, ela viu o pessoal chutar um cara que tinha caido no chao do trem. Depois de assistir tais acontecimentos, nao consigo mais levara serio americano que sai a noite, ainda mais para ficar gritando eberrando `USA` na rua sem nenhum proposito. Na Made in Brazil teve uma festa onde so tocou musica brasileira ruim: pagode, axe, funk, ou seja,tudo aquilo que eu justamente nao queria ouvir, mas ja que esta longe de casa acaba-se aceitando. Exatamente 3:45 o dono acabou com a festa.(Raridade, como comentei no e-mail anterior, ja que boate/bar fecha asduas) .

Cheguei em casa 4:30, tomei banho e sai correndo para pegar o onibus para ir para Soldier Hollow (naturalmente a pe, porque domingo mesmo as 5:30 da manha, ultimo dia de olimpiadas, os motoristas tambemtem que descansar), assistir a prova de cross country. Dormi na ida e na volta, mas nao fiquei com sono durante a prova. Inclusive porque, das tres provas, foi a que eu achei melhor organizado, ate porque tem que deixar as pessoas ligadas porque numa prova de 30km as vezes o tempo demora a passar. E quando comecou a prova ainda estava nevandorazoavelmente, no que parecia um replay da prova de skeleton. Felizmente o sol apareceu e deu para assistir toda a prova. Subi e desci o morro varias vezes para tirar fotos e acompanhar a prova de perto, e o esforco valeu a pena.

Quando cheguei em SLC, nao tinha quase nenhum onibus na rua (lembrando novamente, ultimo dia de olimpiada) e o Trax, que nada mais e do que o bondinho de Santa Tereza melhorado, estava fechado por motivo de seguranca, por causa da cerimonia deencerramento. Depois de perder o unico onibus que passava perto de casa, porque nao conseguiram me informar qual esquina eu deveria ficar,so me restou voltar a pe para casa e finalmente dormir.

Ironicamente, mesmo com todos os problemas, ainda assim queria assistir mais provas. Tirando a parte de transporte publico, que deu dor decabeca, o resto me pareceu bem organizado, ja que o tempo nao da para prever mesmo.

Sobre a loja:

Bom, a coisa foi tao violenta que a loja fechou nessa quarta, e nao no sabado como esperado. Durante as olimpiadas foi uma loucura. Nao dava para ficar parado. Uma hora era dobrar camiseta, a outra era no caixa, depois ficar repondo pins, depois bones, tamanha a voracidade do pessoal em comprar. Os tais berets, que tem gente ate agora alucinada por eles, chegaram poucos e foram vendidos apenas um por pessoa, o que estragou um pouco a nossa alegria, que esperava uma multidao se bicando para comprar um (sugestoes nao faltaram).

O valor das compras, como falei antes, era astronomico. A recordista foi uma mulher que e dona de uma clinica de rejuvenecimento (o comentario era que ela fazia a propaganda sendo a mulher do antes). Ela gastou mais de 19 mil dolares (chegaram a dizer que ela ia pagar em dinheiro). Eu estava no caixa ao lado acompanhando o total, que erasomado num caixa que ficou particular para ela. Antes de chamar a mulher de doida, vale um esclarecimento. Se ela doar o que ela comprou, a doacao pode ser abatida do imposto de renda da empresa. Logo, o custo total dela nao deve ser bem esse.

Aproveitando a oportunidade, vamos a algumas das frases mais ditas pelos compradores na Superstore (em ingles)

"Do you have the berets?"
"How much are the cow bells?" (outro produto bastante vendido)
"Where are you from?"
"Are you enjoying your experience here in SLC?"
"Are you selling ______?" (qualquer outro produto que a loja nao vendia)
"Can I have an extra bag?" (normalmente como lembranca)
"Do you accept checks?" (so podia dinheiro ou Cartao Visa)

E as respostas mais pronuniciadas pelos vendedores...

"Sorry"
"Sold out"
"Only Visa, no A. Express or Master Card"
"Maybe in a couple of days"
"We get new stock every night"
"Go to the entrance of the store" (quando a pessoa estava perto da saidae procurava um produto que estava na entrada)

Em relacao aos famosos, durante os dias de competicao praticamente so apareceram os artistas que tocaram durante os jogos (S. Crow, Alanis,Goo Goo Dolls, Gloria Estefan). No final que apareceram alguns atletas, inclusive usando as medalhas de ouro no peito. Aproveitei para pegar alguns autografos, mas achava que apareceria mais gente por la.

Nessa segunda foi muito estranho porque os voluntarios que trabalharam durante os jogos tinham um show no Medals Plaza, do lado da loja. A ideia inicial era fechar as 9, mas os gerentes tinham decidido fechar as 7. Foi quando o dono da loja chegou e mandou abrir de novo. A decisao foi correta, porque encheu de voluntarios na loja. Parecia um pesadelo, todo lugar que voce olhava tinha voluntario, quase todos da mesma cor (amarelo ou azul, embora tinha vermelho e verde). Para piorar, desligaram o aquecimento, e a noite estava muito fria. Toda hora tinha que procurar um aquecedor pequeno para se aquecer e voltar para trabalhar.

Anteontem, ultimo dia da loja, foi meio complicado porque tinham que se livrar dos estoques de qualquer jeito. A Libby, uma das gerentes, subiu no palco da loja, e feito vendedor da Saara, ficou vendendo os produtos que estavam encalhados. Ficou uma corrida para procurar tamanho de camiseta, exibir as garrafas de Coca-Cola douradas que estavam encalhadas, colocar os ultimos estoques guardados em exibicao, que parecia que estava em dia de olimpiada. No final do dia, o Vince, que e o outro gerente, acabou pagando um jantar num restaurante italiano.

No geral, foi cansativo, mas pelo menos para mim foi bom porque eu tive a oportunidade de mudar completamente de atividade por alguns dias.

So para terminar, faltou no e-mail anterior comentar a ida ao Templo Mormon, alias a visita por fora, porque so os mormons podem entrar notemplo. Foi no dia 7, vespera da abertura. Nos encontramos uma brasileira missionaria que estava meio perdida no shopping e nos convidou para conhecer um pouco da religiao deles. No museu que eles tem, tinham varios teloes em tela plana, multimidia, filmes em varias linguas e farta distribuicao do livro dos mormons. Mal comparando, me pareceu parecido com a igreja do bispo macedo, mas com um pouco mais de base.

O problema principal e a historia da igreja. Segundo o livro, uns judeus 500 anos antes de cristo foram para a America. Pela logica esses judeus seriam os indios americanos do seculo 18. Bom, houve uma briga entre as tribos e o ultimo sobrevivente da tribo boazinha que perdeu enterrou um livro de ouro com todos os escritos dos profetas. Seculos depois, um dos pioneiros americanos, que dizimaram a tribo dos indios malvados, recebeu um chamado dizendo a localizacao exata do tal livro de ouro, alem da indicacao de montar um templo aqui em SLC no meio do nada. Chegando aqui, depois de uma seca, veio uma praga de gafanhotos, que depois de muitas preces, foram dizimados pelas gaivotas que vieram do litoral e comiam os gafanhotos e depois vomitavam para comer outros.

Bom, tirem suas proprias conclusoes, porque eu achei meio estranha a historia (e eu nao estou exagerando). Para piorar, o chefe da igreja e um profeta. A hierarquia da igreja comeca com os 70, esses 70 escolhemos 12, dentre os 12 o mais velho e considerado o profeta. O atual,assim como os outros tambem e americano, prega entre outras coisas, quea mulher fique em casa tomando conta da familia, entre outras coisas puritanas. Como resultado, a taxa de alcool na cerveja e a metade doresto dos EUA. E o estado de Utah e o maior consumidor de gelatina nos EUA. As mas linguas dizem que, como os mormons nao podem beber, fumar ou ter outros vicios, eles ficaram viciados em gelatina. Nao e a toa que um pin com uma tigela cheia de gelatina estava sendo negociado a 200 dolares.

Resumindo, tem sido uma otima experiencia. Apesar dos contratempos descritos acima, nao tenho motivos para me arrepender da viagem, valeu a pena todo o esforco para vir ate aqui. Faz tudo parte da aventura. Desculpem alguns erros de datilografia, mas o teclado nao esta ajudando muito, bem como algumas frases talvez meio confusas mas e que esta tarde e quando acordar espero poder esquiar em Alta. No sabado, quem ainda esta aqui vai esquiar em Brighton. Como eu ainda nao esquiei aqui, agora e a chance. Segunda feira estou de volta. Se alguem quiser ligarpara ca (nunca se sabe) o telefone e 801-521-2595, ate domingo de manha. Mais detalhes eu falo pessoalmente depois.