quinta-feira, março 09, 2006

Aviso

Somente para dizer que, para os que não podem ver as fotos que eu tirei (conforme eu falei não levei máquina digital) eu devo estar incluindo nos próximos dias (mais provável semanas) algumas fotos digitais que meus amigos e companheiros de trabalho tiraram, além de algumas que eu tirei do meu celular e dar uma organizada na ordem dos dias.

De modo que antes de tirarem dos favoritos, dêem uma passada aqui de vez em quando ao longo do mês de março e um pedaço de abril para ver algumas fotos exclusivas do blog.

EDIT (16/03): Conforme prometido, estou colocando as fotos relativas aos respectivos dias, ou seja, tem coisa que está lá no início. Além disso, tem os comentários 'construtivos' do Márcio, que trabalhou comigo lá em Sestriere. Ainda terão várias outras fotos, aguardem.

Cerimônia de Encerramento


Muito bem, agora depois que a poeira baixou, vamos ao balanço final da viagem.

Antes de mais nada, a fatídica pergunta: e ai, Salt Lake ou Torino?

Torino, com certeza, mas achei que teria mais convicção ao escrever isso. Talvez pelo fato de achar que Salt Lake era uma cidade muito parada e que Torino seria mais animada, mas na prática Torino não mudou muito durante o dia e a noite. Ou talvez porque Torino durante o dia parece mais triste por conta da névoa de fumaça que cobre a cidade (a qualidade do ar é horrível, pelo menos durante o inverno).

Ainda assim, Torino é melhor pelo fato das pessoas não aceitarem simplesmente os Jogos do jeito que eles são. Se houve um prejuízo (pequeno) para os cofres públicos, isso foi (incansavelmente) discutido nos anos anteriores e a prefeitura local fez de tudo para melhorar a cidade. Isso sem falar que as obras continuam mesmo depois dos Jogos, o que tornou as Olimpíadas apenas mais um motivo para seguir com as melhorias.

O meu trabalho talvez tenha influenciado um pouco. Ao invés de ficar o tempo inteiro em uma enorme tenda, dessa vez pude ficar no meio da ação, no momento em que ela estava acontecendo, e não apenas acompanhando pela TV. Tanto que deu para ter história para contar quase todos os dias, enquanto a 4 anos atrás os dias pareciam se repetir no final das Olimpíadas.

Mas valeu a pena. Valeu a espera, o esforço para conseguir um lugar para ficar, o tempo de viagem para trabalhar, o frio e a neve (que não estava tão ruim assim), o cansaço, as roubadas, entre outros obstáculos. Podia ser melhor, claro, mas nunca vai existir uma viagem onde tudo deu 100% certo. Talvez por isso sempre dá saudade na hora de partir, desejando voltar o mais rápido possível.

Obrigado aos leitores (fiéis ou nem tanto) que acompanharam durante todo o período. Espero que tenham gostado, apesar de não poder atualizar todos os dias, das notícias e espero que tenha conseguido mostrar como é interessante e divertido trabalhar no meio dessa loucura que virou os Jogos Olímpicos, em especial os de Inverno. Outros 'causos' de outros voluntários eu conto pessoalmente ou só com os próprios.

Antes de encerrar, só duas histórias rápidas que (coincidentemente aconteceram no mesmo dia) servem para ilustrar um pouco o espírito italiano de ser:

1 - A equipe italiana feminina de revezamento do Short Track conquistou uma medalha de bronze depois de uma decisão dos juízes de desclassificar a equipe chinesa, que chegou em terceiro na final, mas acabou atrapalhando a equipe italiana.

Depois da prova, mas antes da decisão final, segundo o jornal 'La Stampa', "O Palavela (ginásio onde a prova foi disputada) enfurecido gritava e vaiava a plenos pulmões. Só faltava Russell Crowe e os leões..."

2 - Na prova de revezamento feminino do biathlon, a Itália começou bem na primeira passagem, mas a segunda atleta italiana complicou-se na hora de atirar. No final, acabou que a equipe italiana terminou lá atrás, mas ainda havia esperança quando chegou a vez da terceira atleta da equipe. Quando ela se aproximou para a primeira série de tiros (5 alvos por série), foi (mais ou menos) assim que o narrador da RAI descreveu a cena enquanto ela atirava:

- Itália 2 acertos em 2 tiros
- Erro da França
- Itália 3 em 3
- Erro da Bielorússia
- Polônia acertou mais uma
- Noruega completou a série
- Itália 4 em 4
- França completou a série
- Erro da Polônia...
...(silêncio)...
- VAI NATHALIE!!!!!!!!!!!!!!!

Ci sentiamo! Arrivederci!

segunda-feira, março 06, 2006

Dia 26: Última parada - Aeroporto de Malpensa (Milão)

(Terça de Carnaval, 28 de fevereiro) Depois de uma noite de pouco sono, pois fiquei até tarde tentando botar tudo na mala (que depois no aeroporto ainda tive que tirar um pouco porque tinha passado do limite permitido) peguei minhas coisas e parti pela última vez para a Porta Nuova. De lá, peguei o trem para Milão para fazer uma rápida visita a cidade antes de ir para o aeroporto (de onde partiu meu vôo de volta ao Rio).

Chegando lá, foi o tempo de deixar a mala no guarda volumes e ir visitar o tão falado Duomo, pois já tinha passado da hora do almoço. Felizmente, o que não falta em Milão é metrô. Pode não ser tão grande quanto Londres ou Paris, mas funciona direitinho.

Chegando na estação, a ansiedade começou a tomar conta, afinal de contas é o Duomo. Fui subindo as escadas em direção a praça do Duomo até chegar a superfície, todo animado, pensando: "Vou ver o Duomo!, Vou ver o Duomo!, Vou ver o...."

Só que, na hora em que eu chego na praça, vem a surpresa: A fachada do Duomo estava em reforma!!!!!!!!!!!!!! Um enorme pano branco cobria a frente da igreja, que sei lá quando vai ficar pronta, só sei que não seria naquele dia. Foi um balde de água fria (a foto ao lado, o pessoal que subiu comigo do Metro para fazer propaganda do PSP em plena Piazza Duomo).

Porém, somente a fachada estava em reforma. Assim, ao invés de entrar por um portal, os turistas passam por uma portinha quase escondida por conta do tamanho do lugar. E quando você entra dentro do Duomo...mas como aquilo é grande! É de cair o queixo por uns 15 minutos antes de você começar a ver o lugar com calma. É enorme, é monumental, é absurdamente grande. A nave central, com estilo gótico, parece não ter fim, as capelas nas laterais parecem pequenas igrejas separadas. Cada vitral (e devem ter milhares deles) com uma imagem diferente. É de tirar o fôlego.

Depois do susto, ainda tem o extra de poder subir até o terraço. Tem duas opções para subir: 6 Euros de elevador e 4 Euros se for de escada. Como eu estava sem tempo, foi de elevador mesmo. Chegando lá, dá para prestar atenção em todas as estátuas que de baixo nem dá para ver que existem. Além disso, tem a possibilidade de ter uma visão total da cidade (que parece ser bem melhor que Torino, ou era apenas um dia atípico na cidade).

Depois da visita ao Duomo, a visita continua ao lado, na Galeria Vittorio Emmanuele, onde o guia diz que só tem grife cara, mas não é bem assim. Tem de tudo um pouco, mas é claro que não tem lojinha de artesanato local (até porque artesanato não existe lá). O lugar também é impressionate, com um teto de vidro muito alto e bastante largo para o pessoal andar a vontade.

Também tem uma tal tradição de dar um giro de 360 graus, em um pé só, em cima das partes íntimas (que aliás não foi retratada) da imagem de um touro que fica na frente de uma das entradas da galeria. Para dar boa sorte, dizem. Sorte eu não sei se traz, mas é engraçado de ver (e fazer também, ainda mais todo paramentado com o uniforme de voluntário e com uma mochila pesada nas costas).

Depois disso, foi voltar para estação, pegar o ônibus até o aeroporto e de lá começar a minha longa noite até chegar aqui no Rio, na manhã de quarta-feira de cinzas, totalmente virado dos últimos dias e, a tarde, voltar a trabalhar.

Para quem está lendo até agora, amanhã eu faço um último post com minha avaliação geral sobre a viagem e as Olimpíadas (curta, eu prometo).

sexta-feira, março 03, 2006

Dia 25: Ressaca Olímpica

(Segunda de Carnaval, 27 de fevereiro) Como eu contei no início do blog, Salt Lake parecia uma cidade fantasma. Segunda-feira em Torino não estava tão diferente, embora tinha um pouco mais de pessoas na rua. A única diferença era que, segunda de manha, o comércio não abre em Torino, então o movimento nas ruas era igual ao de qualquer outra segunda.

E como eu já também falei em posts anteriores, se o comércio não abre de manhã, os museus simplesmente não abrem. Isso significava adeus às visitas a Armeria Reale, Borgo Medievale e Jardim Real (o Palácio Madama só abre no segundo semestre).

Além dos museus, os centros de esqui também estavam meio de ressaca e simplesmente não deu para experimentar o esqui cross-country porque os poucos lugares simplesmente não atendiam o telefone. Na foto ao lado, o pessoal da NBC empacotando as coisas.

O jeito então foi visitar o Duomo (Catedral) de Torino, onde está o polêmico Sudário de Jesus Cristo, devidamente fechado em uma caixa. O Duomo por fácil dedução, foi a igreja mais antiga que eu já visitei, pois data do século XV (considerando que os outros lugares que eu já visitei, além do Brasil, foram Argentina e Estados Unidos, fica fácil concluir), só que esse 'recorde' durou apenas 24 horas, como vocês vão ver. O lugar é bonito e tem um subsolo reformado onde tem uma exposição sobre o Sudário, explicando por A + B que esse negócio de Carbono 14 não está com nada.

Depois do Duomo, fomos a Biblioteca Real onde estava tendo uma micro-exposição (que só descobrimos depois de pagar os 6 Euros de entrada) sobre esboços e desenhos de Leonardo da Vinci, onde só valeu mesmo pelo fato de ter entendido quase tudo o que a guia explicou.

A tarde, acabei dando uma volta pela cidade para fazer algumas compras e depois ir até a estação da Porta Nuova para se despedir de mais alguns colegas de fórum, jantar e fazer a mala, já que no dia seguinte, antes de voltar para o Rio, ia fazer uma visita a Milão, que valeu a pena.

Dia 24: Pragelato (Cross Country 50 Km Masc.) - O "outro" Giorgio

(Domingo de Carnaval, 26 de fevereiro) Depois de muita comemoração, não deu muito tempo para descansar porque as 10 da manhã eu e o Marcio tínhamos que estar em Pragelato para ver a prova de 50 Km de Cross Country (porque jogar dinheiro fora depois de ter comprado o ingresso nunca). Por causa da noite anterior, não voltamos para Torino, mas ainda estávamos com muito sono.

Como eu já contei lá em baixo, uns 10 dias antes eu já tinha ido para Pragelato, e já sabia que tinha que andar muito até o lugar da prova, mas com pouquíssimas horas de sono, a caminhada foi longa e quieta até o lugar da prova.

Chegando lá descobrimos porque o lugar se chama Pra-gelato: Embora o céu estivesse azul, o sol não tinha chegado no lugar da prova, pelo fato da pista ficar no fundo de um vale.

Assim, cansado e com frio, fomos caminhando até ficarmos em cima de um morro, onde os esquiadores também passam e tinha uma visão melhor da pista. O único problema era que, uma vez começada, era impossível cruzar a pista para ver de outros lugares, porque o caminho dos espectadores era também o ponto dos fotógrafos. Desse jeito, acabamos ficando presos no lado do morro, que foi o último onde o sol bateu.

O lugar estava cheio, embora não superlotado porque é muito difícil lotar um circuito de 10 km. A organização, com bastante antecedência, botou mais ingressos a venda e anunciou na imprensa, de modo que mesmo antes de começar a prova tinha gente comprando ingressos.

A prova, felizmente, não demorou tanto quando esperado, mais ou menos o tempo de uma maratona. Os italianos, depois do fiasco do dia anterior, estavam torcendo desesperadamente por uma vitória de um italiano, depois da equipe ter ganho o revezamento 4x10 km no domingo anterior (empatando o duelo com a Noruega nas últimas 4 Olimpíadas). Então, os italianos, representados por Di Centa, Piller Cottrer, Santus e Valbusa eram praticamente carregados pelos gritos dos italianos cada vez que passavam subindo o morro, e isso foi assim durante a prova toda porque a largada foi em massa (todo mundo largando junto) e um grupo grande ficou praticamente junto a prova inteira.

A chegada foi quase apoteótica, mesmo para quem estava vendo de longe como eu. A única coisa que eu consegui descobrir era que um italiano escapou no sprint final e um segundo italiano quase conseguiu a prata, o que seria a glória total para os italianos, mas acabou perdendo o gás nos últimos 100 metros. No fim, a vitória ficou com Di Centa...Giorgio Di Centa, irmão de uma outra esquiadora de fundo famosa (que entregou a medalha de ouro durante a cerimônia de encerramento) apagando um pouco a tristeza do dia anterior.

Só que não acabou por aí. Enquanto íamos descendo o morro, os torcedores, talvez tão revoltados como eu, ou somente pela farra de invadir a pista para comemorar, começaram a pular a cerca. Nessa hora eu falei com o Márcio "Já pensou se tem alguém ainda competindo?".

Não demorou mais que 10 segundos depois do comentário quando aparece um esquiador de Andorra retardatário que estava ainda subindo o morro (ele ainda tinha que descer e completar o circuito). Os torcedores, respeitando o competidor falava "Abre! Abre!" e lá foi o esquiador subindo o morro no meio do corredor formado pelos tifosi, que começaram a incentivar o atleta.

Provavelmente quem está lendo não deve ter muita noção da cena ou não descobriu através da descrição que eu fiz a semelhança com um outro evento esportivo, mas a situação criada naquela hora era igualzinha a uma subida do Giro D´Italia ou do Tour de France.

Parecia que ia ficar só nisso, mas poucos segundos depois do esquiador de Andorra subir o morro surge na contramão, pela rampa de descida, o Valbusa segurando uma bandeira da Itália. Pronto, acabou qualquer chance de ter um mínimo de organização na saída. Invasão geral da pista, da ponte, da linha de chegada. Parecia vitória da Ferrari em Monza (só faltava as bandeiras da equipe).

A festa foi geral. Hino cantado (não teve entrega de medalha então o hino não foi tocado), paraquedistas (planejado) soltando fumaça com as cores da Itália, alegria geral.

Depois, foi voltar cambaleando para casa para dormir um pouco, ver a cerimônia de encerramento e dormir mais um pouco para aproveitar os últimos dias na Itália.

quinta-feira, março 02, 2006

Dia 23: Sestriere Colle (Slalom Masculino) - Meeeeeeeengooooo!

(Sábado de Carnaval, 25 de fevereiro) Sábado de Carnaval era o dia mais aguardado dos Jogos. Ao menos para os italianos. Era o dia do slalom masculino, onde o então mais badalado atleta italiano, Giorgio Rocca, vencedor de 5 provas consecutivas da Copa do Mundo, ia competir. Além do fato de que o slalom masculino é uma das provas mais aguardadas em todos os Jogos. Aproveitando o fato de que era o último dia de trabalho, fui com a camisa do Flamengo por baixo do colete para fazer presente o Manto Sagrado em Sestriere uma vez embora o time não esteja indo bem há muito tempo.

Sestriere estava em polvorosa. Os italianos chegaram em massa para ver o ídolo competir. A arquibancada, maior do que em Borgata, estava totalmente tomada (pelo menos o trânsito não estava caótico como no dia do Downhill). O pessoal em pé se aglomerava ao lado da pista. Era para ser um dia especial.

Era. Rocca era o primeiro a sair na primeira descida porque era o primeiro do ranking na modalidade. Ele passou pela primeira parcial, passou para a segunda, com o que seria o melhor tempo da descida, e na hora em que eu abaixei a cabeça para ajeitar a câmera, ouve-se um "Ohhhhhh!". Giorgio tinha errado (um erro até meio infantil) e tomou um senhor tombo.

O silêncio tomou conta do lugar. Primeiro para ver se estava tudo bem com ele, depois pela incredulidade de saber que a emoção da prova para grande parte do público durou menos que 40 segundos.

Como consolo, Rocca não foi o único. Dos 20 primeiros, metade caiu ou perdeu uma porta, inclusive o campeão da prova combinada, Ted Ligety, e o Bode Miller, que ainda foi sarcástico na hora que foi filmado. Aliás, Miller foi a grande decepção dos Jogos, com 3 desclassificações e sem medalhas. O que se sabe é que Miller foi curtir a 'night' em Sestriere, como foi flagrado pelo pessoal na véspera da prova Combinada.

A decepção dos italianos continuou. Veio o segundo italiano, que estava indo bem até que também caiu. O italiano que veio logo em seguida também caiu. E a carnificina continuava. Teve gente que não passou da primeira porta. Estava ficando ridículo. No final, um terço dos 97 participantes não completou a primeira descida.

Na segunda descida, mais quedas. O recorde de persistência foi um dos japoneses que caiu na primeira descida, voltou escalando para recuperar a porta perdida, chegou em último, caiu na segunda descida, voltou de novo para recuperar a porta perdida e finalmente chegou em último, mas melhor do que metade da prova que abandonou por queda ou perda de uma porta.

No final, domínio austríaco, que ficaram nos 3 primeiros lugares, liderados por Benjamin Raich, melhor esquiador dos Jogos, com 2 ouros e uma prata. E pelo vistou eu dei sorte para o meu time, que enquanto acontecia a prova ganhava o clássico contra o Botafogo. Só para constar, meu trabalho do dia foi evitar que o pessoal da imprensa começasse a pular as cercas para invadir o local de trabalho dos outros, fato que foi extremamente facilitado depois de 40 segundos de prova.

Depois da prova, festa para os voluntários, com direito a descida múltipla de espuma morro abaixo. Mais tarde, fomos para a cidade para comemorar o fim dos trabalhos na cidade. Boa música (nada de axé, pancadão, forró, sertanejo e não senti falta!) e ZERO de consumação para entrar nos lugares, como deve ser. Pena que isso não dê certo por aqui.

Dia 22 (Parte 2): Cesana Pariol (Bobsleigh de 4) - Surreal

Dois dias antes nós conhecemos o André, que era supervisor de Cesana Pariol, onde acontece as competições de Bob, Luge e Skeleton. Ele disse que arranjava uma forma de botar a gente para dentro para ver a prova de Bobsleigh de 4.

Então, logo após o trabalho, fomos os três (Eu, Márcio e Henrique) para ver a prova de Bobsleigh de 4 pessoas.

Depois de alguns desencontros, conseguimos entrar e pegamos uma carona para chegar até a largada.

Os minutos seguintes foram algo quase indescritível, quase surreal. Assim que chegamos ao local de largada, vimos o pessoal do Brasil numa sala se preparando para a primeira descida. Logo depois, chega o Bassan com o celular falando: "Vamos falar agora com o pessoal do Brasil" e lá vai ele esticar o braço para o pessoal da equipe dar uma entrevista de última hora. Enquanto isso, o clima ali perto era selvagem. Todos as equipes que saíam tinham uma torcida, que berrava alucinadamente. Engarrafamento de gente, confusão, de repente, quando eu vejo, está um monte de gente da delegação brasileira entre atletas e dirigentes assistindo a prova em uma TV na arquibancada.

Uns 5 minutos depois, chegou a vez do Brasil. Fizemos a nossa parte, eles partiram e foram descendo a pista de Cesana. Curva 1, 2, 3...,7...12, de repente, na Curva 14 o bob vira e eles vão se arrastando até a chegada.

Ficou todo mundo mudo. Claro que a chance de algum problema muito grave era pequena, mas enquanto ninguém visse os 4 inteiros não se falava uma palavra. Só depois que estava tudo (mais ou menos) bem, é que deu para ficar mais aliviado.

Depois do susto, resolvemos descer e ver a prova do meio da pista. A diferença para a prova de 2 pessoas é impressionante. A começar pelo bob, que é maior e ocupa ainda mais espaço na pista. Por isso, impressiona quando ele vai tão alto.

Mas o público parece ainda mais agitado na prova de 4. Mais torcida, mais animação, mais alegria. Não imaginava que a diferença seria tão grande.

Depois da 2a descida, a única em que eles não caíram, acabei parando na Zona Mista, onde os brasileiros tiravam fotos e davam entrevistas. A imprensa italiana no dia seguinte não perdoou a virada do bob, mas tem uma explicação: o pessoal da equipe da Jamaica, derrotada pelo Brasil nas eliminatórias para os Jogos, é patrocinado pela FIAT e a empresa fez vários anúncios metidos a engraçados com os (atores) jamaicanos. E com a notícia do doping de um dos integrantes da equipe do Brasil, havia a possibilidade da equipe da Jamaica, que estava em Torino para cumprir acordos publicitários, competir na prova caso o Brasil fosse desclassificado. Pode-se dizer que não estavam torcendo por nós.

Mas aqueles minutos na linha de largada foram simplesmente surreais.

Dia 22 (Parte 1): Sestriere Colle (Slalom Gigante Feminino) - O Porteiro

(Sexta, 24 de fevereiro) Depois de ser runner, faltava ainda trabalhar no meio da Zona Mista, que fica entre os atletas e o pessoal de TV e imprensa. Foi o que aconteceu na Sexta, dia do Slalom Gigante Feminino, que é disputado em duas descidas, sendo que a primeira aconteceu muito cedo (o que me fez acordar as 6 da manhã). Aliás, se eu participasse de alguma prova dessas, seria a de Slalom Gigante, porque a velocidade não é estúpida e também não fica naquele negócio de ficar batendo nos postes a cada meio segundo.

Os voluntários ficam basicamente fazendo o papel de porteiro, barrando jornalistas que não trabalham na imprensa e mantendo a ordem nos cercadinhos reservados para a imprensa escrita.

A minha função era ficar controlando a passagem entre o local reservado para a imprensa e o local para o pessoal da televisão. No meio da passagem, cruzam os atletas que acabaram a prova saindo por trás da área da televisão para passar pela frente do pessoal de jornal e rádio.

Considerando que essa posição ficava exatamente em frente a linha de chegada, basicamente eu tinha um dos melhores lugares para ver a prova. Dessa vez, ser porteiro tem suas vantagens.

Dessa vez, não teve (tanta) névoa, mas MUITA neve (sim, o que vocês estão vendo é um pouco de névoa, mas acreditem que era só por conta das nuvens carregadas de neve), principalmente na segunda descida. Todo mundo estava encasacado até o pescoço por conta da quantidade de neve que caía. A vencedora foi a Julia Mancuso, americana que não estava cotada para vencer, de modo que foi mais uma surpresa dos Jogos. A Mirella, única brasileira no esqui alpino, chegou em último porque foi muito cuidadosa para não cair (não foi um festival, mas houve algumas quedas antes dela) e chorou muito porque era a última prova dela.

O resultado dela era tão previsível que ela só precisou ser entrevistada pela Globo no intervalo entre as duas descidas, embora seria quase impossível fazer uma segunda entrevista com toda aquela neve caindo. Aliás, o João Pedro me entrevistou de novo (junto com o Henrique), e de novo não foi utilizado. Pelo visto vai demorar um pouco mais para aparecer na TV....

quarta-feira, março 01, 2006

Dia 21: Ma dovè eravamo? (Clique aqui para saber)


(Quinta, 23 de fevereiro) Como deu para notar, na quinta-feira foi um dia muito tranqüilo, tanto que durante o dia eu aproveitei para atualizar o blog no computador do Help Desk.

Então aproveitando o dia meio parado (antes de começar o tumulto dos dias seguintes) para mostrar aonde era (seria aonde estamos, mas como já voltei...) o apartamento e um pouco da cidade.
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O apartamento

Nosso apartamento ficava na rua Giovanni Roveda, homenagem a um ex-prefeito de Torino, já morto (não é que eu seja tão curioso, mas é que essa informação está na placa da rua). O prédio, como quase todos do bairro, lembram os prédios da Cruzada São Sebastião aqui no Rio, só que mais afastado. Então, como vocês podem imaginar, na noite em que eu cheguei e vi os prédios, fiquei meio assustado por causa do estereótipo na cabeça (porque o daqui não é la muito seguro). A foto ao lado é de um anexo ao lado da igreja que ficava na esquina da rua do nosso predio (a figura, para quem nao conhece e do Senhor dos Aneis). Ao fundo um exemplo de como era os predios (o meu ficava logo depois do predio da direita).

Porém, como eu fui descobrir mais tarde, o bairro de Mirafiori é muito tranqüilo. A razão é que fica ao lado da fábrica da FIAT (aliás normalmente a FIAT é a primeira coisa que vem na cabeça das pessoas quando se fala em Torino). Na década de 60, época da construção, a empresa construiu os prédios para os funcionários morarem. A fábrica já foi uma das maiores do mundo. Agora, com a globalização, tem somente um terço dela em operação, mas os funcionários, aposentados ou não, continuam morando lá. Os apartamentos à venda (um sala e 3 quartos) está saindo por 170 mil Euros, segundo a propaganda no ponto de ônibus. Nada mau.

A fábrica antiga, um pouco mais ao norte, na região de Lingotto, onde o pessoal da FIAT fazia do último andar uma pista de provas para os carros (a fábrica era grande) virou um enorme centro comercial, onde tem um hotel Meridien, um centro de convenções (que virou o centro principal de imprensa dos Jogos em Torino) e um shopping, que foi nosso ponto principal nos primeiros dias. Na foto ao lado, tem o enorme viaduto construído para os Jogoso, que liga a antiga fábrica a Vila Olímpica (embaixo a esquerda, bem ao fundo, a ex-fabrica, hoje shopping e centro de convençoes). O arco vermelho foi construído, além de ajudar na suspensão do viaduto, para dar um pouco de cor para a cidade (opiniao minha) e torna-lo um marco.

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A cidade

Torino pode ser considerada uma cidade grande, até nos problemas. O trânsito no final de tarde é bem problemático. Embora tenha avenidas largas, o resto das ruas da cidade são muito estreitas e fechadas. A qualidade do ar, divulgada todos os dias, é péssima. O céu fica na maior parte do tempo nublado ou com uma névoa de fumaça, de modo que ver os Alpes só em dias especiais. A cidade está tentando criar outras atividades econômicas, dado os problemas que a FIAT, principal empresa da cidade, está enfrentando. Enfim, não é uma cidade que as pessoas pensem em morar.

O resultado é que, mesmo na Via Roma e na Via Pó, as ruas mais chiques da cidade, inclusive com calçadas de mármore, os negócios não estão indo muito bem, com algumas lojas fechando nos últimos anos, daí a necessidade de buscar novas atrações, como o turismo.

O transporte público é bastante organizado. Parada de ônibus tem nome e sobrenome e em quase todos tem um mapa com todas as linhas da cidade (ao invés de só ter propaganda como os do Rio). As linhas estão bem distribuídas, o que permite que se pegue no máximo dois onibus para chegar ao destino. Os ônibus, entretanto, andam muito devagar para os padrões brasileiros, de modo que no trecho que está marcado no link acima (uns 9 kms), demorava uns 40 minutos pela manhã para chegar na Porta Nuova, a principal estação de trem da cidade. O metrô tem previsão para acabar em 2010, mas o que foi construído até agora liga o "nada a lugar nenhum" porque foi construído apenas o trecho mais fácil que chega na Porta Susa, outra das estações de trem.

Minha única reclamação ficou pela promessa da prefeitura de que a linha de ônibus que eu tomava, o 63, ia ser "potencializado" (de acordo com o anúncio em italiano) no número de linhas, mas no fim continuamos a não poder ficar até muito tarde porque os ônibus a noite só vinham a cada 30 minutos e acabavam lá pela 1:30 da madrugada.

E uma das coisas menos agradáveis da vida é ficar parado no frio de quase zero grau esperando pelo ônibus.

Dia 20: Sestriere Colle (Slalom Feminino) - Vôo Cego

Ciao, já estou de volta e aproveito para fazer a atualização final dos ultimos dias de viagem (antes que esfrie) com o teclado brasileiro (já que o italiano não é igual ao nosso).

(Quarta, 22 de fevereiro) Quarta-feira passada foi o dia do Slalom Feminino em Colle. O dia já começou animado, porque o ônibus onde eu estava quebrou pouco antes de chegar até Sestriere. O motorista fez um remendo até chegar a Vila Olímpica de Sestriere e depois foi caminhando mesmo.

O Slalom tem duas descidas, sendo que a segunda, por conta de televisão, é a noite, porque é o único evento que consegue ser todo iluminado (porque o traçado é mais curto e menos perigoso) sem atrapalhar os esquiadores. Na primeira descida, fiquei de plantão no Help Desk, sem ter muito o que fazer. (Como tirar fotos, na foto nao aparece, mas na tela so tinha caracteres japoneses, e o teclado era o QWERTY que nos conhecemos)

Na segunda descida, as coisas melhoraram, e finalmente consegui trabalhar dentro da Zona Mista. A função era de Press Runner que, como o nome sugere e como fui orientado (como se isso fosse preciso), tem que correr. Nesse caso, o correr significa ir até o Help Desk, pegar a lista de partida, e entregar para os jornalistas. Depois, voltar mais três vezes para pegar a parcial depois de 15, 30 e todos os esquiadores. E tem que ser rápido porque não pode demorar para entregar os resultados entre as parciais (de que adianta ter um resultado velho?). Então o jeito era sair oferecendo resultados para todo mundo que aparecia pela frente. Os japoneses (sempre eles) eram os que pegavam tudo, o resto nem tanto.

Sobre a prova, não há muito o que comentar...porque não se via nada. Na hora da segunda descida, uma névoa tornou impossível de ver qualquer coisa além de 50 metros da linha de chegada. O melhor seria ver pela televisão (com a vantagem que em casa é bem mais quente) e todo mundo via a prova pelo telão.

A vencedora da prova foi a Anja Paerson, sueca que era uma das favoritas, com duas austríacas em segundo e terceiro. A vitória foi fácil porque a vantagem que a Anja tinha na primeira descida era muito grande e só precisou adminstrar o resultado. Depois da prova ainda fiquei lá para bater fotos e ver a medalha de perto. E como aquela medalha é grande, parece um CD. Com certeza, a maior medalha entre todos os Jogos.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Dia 19: Coisas de Torino

(Terça, 21 de fevereiro) Terça feira (assim como hoje) estava um clima de fim de festa aqui em Sestriere (muitos esportes ja tiveram a maior parte das competiçoes), dado que nao houve nada de muito interessante no dia. Antes de viajar para cá, estava previsto no calendario do esqui alpino um treino para o Slalom feminino, que nao aconteceu. Assim, a coisa mais emocionante foi ver, na TV, o ouro do Enrico Fabbris, italiano, na patinaçao de velocidade.

Assim, vamos a algumas notas rapidas dos ultimos dias:

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Os americanos invadiram Torino depois da cerimonia de abertura. Nao ha dia que eu nao entre no trem que nao haja alguem falando ingles. O curioso é que eles so andam em bandos, nem mormon anda com tanta gente junta, e sempre parecem meio perdidos.

Pelo que eu pude ver, muitos sao universitarios que estao fazendo algum tipo de intercambio aqui na Italia, mas muitos também aproveitaram as férias nos States para dar um pulinho aqui.

Para se ter uma idéia de como tem americano por aqui, a Target, loja norte americana que nao existe na Italia, patrocinou os trens que vao até as montanhas e todo dia entregam algum negocio que faz barulho (mini corneta, apito, sino, deu para entender). Isso as 8, 9 da manha, quando a ultima coisa que eu quero é ouvir alguma coisa barulhenta, dado a hora que eu acordo para chegar até o onibus



Na foto acima, a Piazza San Carlo, onde ficava o pessoal do 'NBC Today' (da para ver um pedaço do estúdio no canto esquerdo), o programa que passa nas manhãs americanas (e que tem tantos tentando imitar no Brasil).

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Cambista aqui nao tem vez. A policia daqui acabou com a festa poucos dias depois do inicio dos jogos. Quando começaram a pegar os cambistas, os outros que ainda estavam ativos começaram a vender a preço de custo. So que isso também nao pode, senao seriam vendedores oficiais.

Assim, os carabinieri pegaram todos os ingressos que ainda tinham e aplicaram uma multa aos cambistas. Fui um dia depois em uma das lojas e os caras estavam uma arara. O problema é que como eles compraram muitos ingressos, muitos estadios nao estavam cheios, embora os ingressos tivessem sido vendidos.

O comite entao resolveu vender os ingressos resgatados a um preço muito barato (3 Euros) para os voluntarios. Sabendo disso, os cambistas menores começaram a sondar os voluntarios, mas como o anuncio de quais eventos estao disponiveis para os voluntarios é quase sempre em cima da hora, o prejuizo foi muito grande.

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Outro dia comentei que a estrada de Sestriere parece a Niemeyer. Fui injusto, a Niemeyer é muito mais larga e muito menos sinuosa do que as estradas aqui, com muitos grampos. Claro que a velocidade tem que ser mais baixa e nao da para tentar nenhuma grande ultrapassagem, mas ainda assim é muito complicado andar pelas montanhas. Dessa forma, o motorista de onibus tem que ser muito bom. Mas outro dia teve um que se superou. Enquanto dirigia, ele ainda falava no celular (com fone de ouvido) sem que nada o atrapalhasse.

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Valentino Rossi é um motociclista varias vezes campeao do muito. Para quem nao conhece, ele costuma ter um cabelo meio largado, usa brinco e tem sempre a barba meio por fazer. Embora ele ja nao tenha mais 18 anos, esse é praticamente a descriçao de um adolescente italiano. Com a diferença de que, além do que ja descrevi, ainda abusam do gel no cabelo e sempre tem uma roupa de griffe, com uma inscriçao BEM grande para que todos saibam que ele esta usando. Enfim, um visual meio metrossexual, a la David Beckham.

Como o desemprego entre os jovens é um problema sério por aqui, eles normalmente nao tem muito o que fazer. Costumam sempre se encontrar nos pontos de onibus e andam sempre meio sem rumo.

Logo nos primeiros dias, vi uma briga em um ponto de onibus e achei que ia ter problemas com alguns deles, mas foi so impressao. Alias, eles estao meio revoltados porque a prefeitura tinha prometido férias, mas depois de verem que nao ia mudar muita coisa durante o dia (quando as provas sao nas montanhas), desistiram da idéia. Ainda bem, porque se tivessem duas semanas sem ter o que fazer, ja tinham arrumado encrenca.

Mas se pudesse descrever em uma frase, seria: Mas como sao marrentos!!!!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Dia 18: Pinerolo (Curling Fem.) - Rodada de Fogo (Acreditem..)

(Segunda, 20 de fevereiro) Ja esta virando rotina: um esporte desconhecido no pais vira uma febre. Isso é o Curling. O mesmo ocorreu em 2002 e agora também chama atençao aqui em Torino. Aqui na Italia acabou ganhando espaço porque lembra a boa e velha bocha e a equipe masculina nao fez feio (quase se classificou para as semifinais). A Rai, TV italiana, antes de começar a transmissao do Curling, bota a musica de abertura dos Flintstones (porque as pedras do jogo sao de granito).

Assim, ao invés de curtir uma mesa redonda de segunda a noite, la estava eu no Palaghiaccio, em Pinerolo, para assistir a ultima rodada da fase classificatoria do torneio feminino. A data que eu escolhi para ver foi proposital, porque eu sabia que teria muita gente disputando alguma vaga. E todos os jogos valiam alguma coisa, pois quatro paises (Inglaterra, Japao, Canada e Russia) estavam brigando, cada um em uma partida diferente. E eu NAO vou dizer que varrer o chao é algo que as mulheres sabem fazer bem porque também existe a versao masculina.

Antes, a tarde, depois de algumas tentativas frustradas de encontrar uma loja de bicicleta, dei uma passada na Piazza Solferino, onde estao os estandes dos patrocinadores da Olimpiada. Entre todos, o melhor era o da Coca-Cola, que tinha varias atraçoes diferentes, o resto era muito sem graça ou tinha uma fila quilométrica.

Sobre as partidas de Curling, foram todas muito disputadas. A unica equipe que dependia dela mesma era o Canada. Se perdesse, ia disputar o desempate caso uma das outras tres ganhasse (nao existe saldo de pedras para classificar). Assim, as quatro partidas foram disputadas de forma aberta, com pontuaçao em todos os ends (cada partida tem 10 ends).

Quem fez o dever de casa mais rapido foi a Inglaterra, que encerrou a partida com os Estados Unidos em 6 ends (se o time que esta atras quiser, ele pode achar que nao ha mais o que fazer na partida e declarar encerrada). O Japao, que também estava brigando, bobeou em 2 ends e decidiu encerrar apos o 8o end contra a Suiça. Na foto de cima, a torcida japonesa "estilosa", na de baixo a torcida suiça. Elas ficaram lado a lado durante a partida. A Russia brigou até o final, mas ganhou na ultima pedra da Noruega.

So que nada disso adiantou, porque mesmo com alguns erros, o Canada ganhou da Dinamarca, também na ultima pedra e um lançamento mais dificil, e se classificou. Pode parecer meio entediante pela TV, mas quando se ve quatro jogos simultaneos faz 3 horas passarem muito rapido.

Agora sao 5 dias de trabalho seguidos em Sestriere (3 com provas), até ver o proximo evento no domingo.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Dia 17: Cesana Pariol (Bobsleigh de 2 Masculino) - Novo esporte

(Domingo, 19 de fevereiro) Depois do fiasco da noite anterior, nao me restou muito a nao ser dormir até mais tarde. Até porque nao tinha trabalho (e se tivesse nao teria entrado nessa furada) e a prova de Bobsleigh era so no final da tarde.

Quando fui pegar o trem, as 2 da tarde de domingo, começou a nevar em Torino, mas muito fraco. Isso ja era sinal do que estava por vir la em cima. Quando cheguei em Oulx para pegar o onibus até Cesana, nevava muito, e até o final da prova o tempo foi implacavel, como dá para ver na foto, embora o frio nao fosse tao intenso quanto esperado.

Ao ver uma prova de bob, voce tem idéia de que a pista foi feita para um bob e nao para um micro-luge ou skeleton. E da para ver melhor até a prova. Talvez por isso estivesse mais cheio do que a prova de luge na semana passada.

Durante o intervalo da terceira para a quarta descida, encontrei o Marcio, que esta na equipe brasileira de bob de quatro. Fomos até a largada e ficamos conversando sobre o bob e a prova enquanto o pessoal fazia a ultima descida.

A prova foi dominada do inicio ao fim pelos alemaes, que lideravam desde o dia anterior (cada dia sao duas descidas). O piloto canadense, o Pierre Lueders, bem que tentou, mas nao conseguiu, enquanto os suiços ficaram em terceiro, para a felicidade os torcedores e os seus sinos enormes (imagino o tamanho da vaca que usa aqueles troços).

Na volta, como tinha nevado muito, nao tinha onibus que subia até o estacionamento, e o teleférico de descida estava lotado. Entao, surgiu um novo esporte, "descida de publico", para pegar o onibus la embaixo.

O onibus desceu até o trem em uma velocidade de tartaruga, por conta da neve, e quando cheguei em Torino, quase meia noite, a cidade também tinha uma camada de neve, que ja derreteu hoje.

Dia 16 para dia 17: Roubada "bianca"

(Sábado a noite, 18 para 19 de fevereiro - Exatamente no mesmo horário estava acontecendo o show dos Rolling Stones em Copa, qual foi a maior roubada?) Quando cheguei de Sestriere, acabei me convencendo de me juntar aos italianos do forum para participar da "notte bianca". E uma noite onde, segundo a lenda, o comércio e os bares ficam abertos até tarde.

Como diz aquele ditado: "Em Torino, faça como os torineses" (depois eu descobri que nao era bem esse). E la fui eu andar com o pessoal.

Entao nos andamos, e andamos, e andamos, e andamos (acreditem foi muito tempo), e parecia que nada estava aberto. Muita gente fazendo a mesma coisa, porém durante o tempo todo, apesar da multidao, devia ter um milhao de pessoas andando (OK, é um pouco exagerado, mas eu estou na Italia, ora), nao vi um sinal de tumulto ou de empurra-empurra.

Voltando a caminhada, andamos por todo o centro de Turim, que nao é grande mas da para passar um bom tempo andando. Finalmente vimos alguns bares abertos, mas com 15 pessoas juntas, era impossivel entrar.

E continuamos a caminhar no friozinho agradavel de uns 3 graus (acima). Depois de umas 2 horas e meia caminhando, zonzo de fome, os italianos resolveram parar em um pub, que eu ja tinha ido antes, um pouco mais longe da multidao e comer alguma coisa.

Quando saimos, era 4:30 da madrugada e nao havia um onibus na rua. Lembrem-se que muitos eram turistas e também nao tinham a facilidade de trabalhar para o COI ou para a imprensa (que tem onibus exclusivos 24 horas por dia). Ah, taxi também nao aparecia e os poucos nao paravam. E os nossos colegas italianos que moram em Torino também nao estavam muitos dispostos a dar carona para gente.

A soluçao foi caminhar (mais um pouco) até a Porta Nuova (a estaçao de trem) e esperar na fila do taxi para chegar em casa, as 5:30 sem entender até agora qual o motivo dessa tal "notte bianca".

Dia 16: Sestriere Borgata (Super G Masculino) - Neve, MUITA neve, e sol

(Sabado, 18 de fevereiro) Como no dia anterior eu tinha sido escalado para trabalhar até tarde da noite, eu sabia que eu ia dormir em Oulx, logo nao ia precisar fazer todo o caminho de volta. Assim, eu tinha pedido para trabalhar na manha seguinte.

So que como eu NAO trabalhei no dia anterior, la fui eu acordar as 6 da manha para chegar as 9:30 no Help Desk, na "cidade" (Sestriere oficialmente tem menos de mil habitantes) e ficar até o final da prova de Super G masculino.

Enquanto eu estava chegando, eu vi que a coisa nao ia ser facil, porque o tempo estava piorando de novo. Uma hora depois que eu cheguei, começou a nevar, e depois começou a nevar MUITO, durante a prova de Super G. Resultado: prova suspensa.

Umas 4 horas depois, o sol reapareceu e a prova finalmente foi reiniciada (as condiçoes estavam muito mais favoraveis e os resultados até o momento estavam totalmte de pernas para o ar).

Com neve fresca e o sol, finalmente apareceu um favorito, o noruegues Kjetil Aamodt, veterano de 5 Olimpiadas, e ganhou a prova. Em segundo, outro favorito, o austriaco Herman Meier (alguns podem se lembrar de uma chamada antiga dos Jogos de Inverno, onde um esquiador despenca de um morro...era ele), enquanto que o Bode Miller errou de novo (deve ter entornado muito antes da prova*).

O meu trabalho no Help Desk foi tranquilo, porque estavam todos em Borgata, mas ainda bem que nao estava na Zona Mista porque senao ia ficar soterrado de neve.

A foto abaixo foi tirada na estação de Oulx. Esta meio fora de foco (foi tirada as pressas), mas foi um boneco de neve que o pessoal que trabalhava lá fez a partir do casaco amarelo que estavam distribuindo junto com o panfleto de informações sobre os horários. Já estava meio derretido nessa hora, entao fica como se fosse o abominavel guia das neves.

*OBS: O Miller deu uma entrevista uns dois meses atras dizendo que antes de uma prova tinha tomado alguma bebida alcoolica que eu nao me lembro, e o pessoal da federaçao de esqui criticou muito. Também, para descer aquele despenhadeiro, so bebado mesmo.

Dia 15: Tarde livre para compras

(Sexta, 17 de fevereiro) Sexta feira era dia de trabalho. Era, porque o tempo nas montanhas virou e começou a nevar muito forte. Estava perto da estaçao do trem quando recebi o telefonema: nao precisa vir até aqui porque esta nevando muito e a prova Combinado Alpino feminino nao deve ser realizada.

Entao, sem muita opçao, fiquei com a tarde livre, como se tivesse sido programado em uma excursao. Me juntei ao Marcio e o Henrique e fomos vistar a Basilica de Superga. Superga fica em um morro ao norte de Turim. Foi construida para pagar uma promessa feita por um dos Savoia (que mandavam por aqui no seculo XVIII) apos vencer uma batalha contra os invasores franceses. Fica no alto de um morro muito ingreme, que pode ser alcançado de bondinho ou de onibus. Claro que o de bondinho é mais divertido porque a subida é muito mais ingreme e a vista panoramica da cidade fica mais impactante(também demos sorte porque o dia estava claro, talvez o primeiro desde a sexta anterior). Na estação debaixo tem uma pequena exposição contando a historia da empresa local de transporte publico, inclusive com uma réplica em Lego da própria estaçao.

Ventava muito no dia, mas como o ceu estava bastante claro pudemos tirar fotos da parte de cima da Basilica, que é alcançada após subir uns cento e sei lá quantos degraus. La em cima, além da Basilica, que é jovem para o padrao italiano (muito bonita no estilo barroco, criada por Felipe Novara, no século XVIII), existe um anexo. No terreo, tem uma sala so com os quadros de todos os papas (quer dizer, até 1500, sao esboços do que deveriam ser os papas) e no subsolo ficam os tumulos dos restos mortais dos Savoia. Havia ainda um outro anexo, com o museu dedicado aos jogadores do Torino que morreram em um acidente de aviao em 1949, quando bateram no morro onde fica a basilica, mas infelizmente so abria no final de semana (afinal de contas, mais uma vez, nao tinha nenhum evento importante na cidade e nenhum turista na cidade interessado em ver, nao é mesmo?) .

Na volta, esperando pelo bondinho para descer, vimos pela TV que a parte de slalom, que seria disputada em Sestriere, e que eu ia trabalhar na Zona Mista (minha unica prova que estava programada para eu ficar la) estava sendo realizada. Paciencia...

Dia 14 (Parte 2): Pragelato Plan (Combinado Nórdico - Equipes) - Paisagem Lunar

....para chegar até o lugar onde a prova estava sendo realizada, tinha que caminhar uns 2 km, na neve, de bota (que aguentou bem, por sinal). Como 1) A prova tinha sido remarcada, logo ja tinha menos gente e 2) A prova tinha acabado de começar, basicamente so tinha eu andando aquele trecho todo, tomando um ventinho gelado gostoso de frente.

A paisagem lembrava algo como a superficie da lua, tudo branco, com o sol na frente, so faltava tirar as arvores e o céu estar preto. O jeito foi andar o mais rapido possivel e chegar, quase sem folego, até o lugar da prova, que ja tinha passado um terço dela (durava uns 50 minutos).No resto da prova, fiquei me recuperando perto da chegada.

Sobre a prova, um revezamento de4 x 5 km (sao sempre as melhores de se ver), na hora em que eu cheguei ja estava animada. O Japao estava tentando (sem sucesso) passar para o 3o lugar e o pessoal atras estava embolado. So que quem surpreendeu foram os austriacos, que estavam em 2o, quietinhos, até que no ultimo atleta, na subida final, deu uma arrancada e ultrapassaram os alemaes, que estavam tranquilos na liderança, e venceram a prova.

Depois da prova, a caminhada de volta e so me restou chegar em casa e dormir.

Dia 14 (Parte 1): Cesana San Sicario (Biathlon) - Legal mas....quem ganhou?

(Quinta, 16 de fevereiro) Depois de varios dias de sol, o tempo começou a virar, ao menos nas montanhas. Torino amanheceu sob forte névoa e o medo de reviver 2002 e morrer de frio me fez botar uma camisa do Bordeaux que é impossivel de ser usada no Rio.

Era para ser um dia tranquilo, porém ao abrir o jornal, a noticia: a prova de Combinado Nordico tinha sido transferida do dia 15 para o dia 16, ou seja, logo apos a prova de Biathlon, que acabava pelas 13:30 tinha que correr para Pragelato para ver a parte de Cross Country as 15 horas (os frouxos resolveram continuar a saltar as 9 da manha).

Assim, um dia que seria para atualizar o blog, lavar a roupa, fazer compras, ja estava totalmente comprometido. Enfim, ao meio dia estava la em Cesana para ver a prova de Biathlon. Nas montanhas estava nevando, massomente até a hora que eu cheguei em Cesana, quando o sol abriu e ficou assim até o fim do dia.

Ao contrario das provas de Cross Country, as provas de Biathlon sao sempre contra o relogio. Assim, se voce nao tem um narrador ou um telao, acompanhar a prova fica meio dificil. E, no melhor lugar para ver a provade pé (o ingresso menos caro) fica longe do telao e dos auto falantes.

Dessa forma, quando eu cheguei e até acabar a prova, eu nao sabia quemestava na frente e quem ganhou. No final, na hora da cerimonia das flores (as medalhas sao entregues a noite), é que eu vi que foi uma francesa que ganhou. Mas bem que eles poderiam dar mais luz para nos que ficamos na neve.

Depois disso, foi sair correndo para chegar ate Pragelato. Consegui chegar as 15 horas no portao de entrada, so que....

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Dia 13 (Parte 2): Torino Palavela (Short Track) - Eu e os Chineses

Como a prova de Combinado Nordico tinha sido suspensa, fiquei ser ter muito o que fazer durante a tarde porque estava em Pragelato e tinha outra prova para ver a noite, em Torino, e quase duas horas de viagem. Isso porque dia 15 era dia de folga no esqui alpino e, por isso, eu tinha comprado ingressos para a parte de dia e a de noite, em Torino. Por isso, acabei tendo uma tarde devagar.

A competiçao de Short Track é muito agitada. As provas sao sempre eliminatorias e normalmente sao decididas na base do patins (a chegada é sempre medida pelo primeiro patim que cruza a linha).

Fui eu e o Henrique ver a prova, além do Alberto, italiano que finalmente se juntou a nos no apartamento (por motivos familiares ele nao pode ir antes) e acabamos sentando ao lado de uma brasileira, dois mexicanos duas senhoras canadenses, uma sueca (que tem um namorado frances que participava da Olimpiada), e um monte de chineses (um monte é quase uma obviedade), que estavam torcendo pela patinadora chinesa que ganhou o ouro na prova de 500 metros. O Henrique, que é mais descolado, saiu conversando com eles, ganhou bandeirinha, enfim era quase um deles.

As provas sao normalmente rapidas, exceto o revezamento, que é uma loucura para quem ve pela televisao, mas ao vivo até da para entender por causa do angulo de visao. As duas semifinais masculinas foram emocionantes. Na primeira, os Sul Coreanos cairam, estavam em ultimo e recuperaram para garantir a classificaçao. Na segunda, as quatro equipes (EUA, Italia, Japao e China) estavam disputando metro a metro quando o Japones derrubou o Italiano. A regra nesse caso é clara e a Italia também se classificou para a semifinal.

(OBS: por conta de problemas de acesso ao blog, os outros dias eu devo atualizar no domingo)

Dia 13 (Parte 1): Pragelato (Combinado Nordico Equipes) - Agora vai...espera, nao deu...mais um pouco

(Quarta, 15 de fevereiro) Como eu falei la embaixo, o combinado nordico mistura salto com esqui nordico. E eu estava muito curioso para ver a parte de saltos, tanto que acabei pagando o ingresso mais caro para ver a prova de combinado, ao invés de comprar somente para uma prova de salto, porque era a unica prova que tinha salto que encaixava no meu horario fora do trabalho.

Assim, as 10 da manha já estava eu sentado em Pragelato, na rampa de salto de esqui (aquilo la é uma ribanceira, nao uma rampa). O tempo começava a virar, e o sol tinha sumido, o que significa uns 5 graus a menos de sensaçao térmica, mas a roupa segurou bem (resquicios de 2002, inclusive a bota aguentou bem).

No entanto, a prova de salto é digamos, monotona. Todo mundo saltando, cada um com um estilo um pouco diferente, mas quase todos iguais e aterrizando na neve um pouco na frente, um pouco atras, mas quase tudo igual.

Porém, o problema maior é que, na rampa de salto, nao pode ter vento. E quando eu digo vento, não é nenhum vendaval, é algo em torno de 10 Km por hora. Uma brisa e o saltador recua da entrada da rampa. Dizem que é por questão de segurança ou para dar igualdade de condiçoes, mas para mim, leigo, era frescura mesmo. Resultado: varias interrupçoes, varios atrasos e, por fim, a suspensao da prova (para o dia seguinte, mas isso eu so consegui saber na manha do dia seguinte).

Enfim, nao teve muito o que comentar nesse dia, porque a prova de salto parou na metade e muita coisa estava indefinida. Acabou ficando para o dia seguinte mesmo.

Dia 12: Sestriere Colle (Combinado Alpino Masculino) - Lama, gelo e mais uma zebra

(Terça, 14 de fevereiro) Depois de dois dias bastante agitados, chegar mais tarde em Sestriere foi uma bençao. Ainda mais ficando so no HelpDesk e no dia do combinado alpino masculino.

O combinado alpino é composto de uma descida de downhill e duas de slalom. E a prova mais "longa" porque começa ao meio dia e acaba la pelas 9 da noite (com um longo intervalo entre as descidas). E uma prova cansativa até mesmo para os jornalistas.

O trabalho no Help Desk foi tranquilo. Animado mesmo estava a prova. Como nao tem nevado por aqui (pelo menos até esse dia), o resultado era que a neve estava derretendo. Assim, ou tinha lama onde as pessoas passam ou a neve fica dura que vira gelo. Longe daquele paisagem branca e tao linda da neve recém caida (chamada de powder em ingles). Caminhar fora do asfalto e onde tinha neve é andar em uma poça de lama continua.

E a condiçao da neve influenciou muito no resultado final. Na primeira descida do slalom, que é bem mais técnico do que o downhill, varios favoritos ficaram pelo caminho (Miller, Kjus, entre outros menos conhecidos) deixando de passar pelas portas (aqueles postes de plastico que os esquiadores ficam batendo). O Nikokai foi uma das vitimas do percurso.

Assim, a prova estava totalmente aberta. Eu, por sua vez, depois de concluir meu turno, antes de ir jantar (a 3 minutos do lugar da prova) fui assistir a segunda e ultima descida perto do pessoal da Zona Mista (chato né, foi mal). O favorito da casa, o Rocca, decepcionou e ficou so em quinto, embora a especialidade dele é so o slalom e um americano, Ted Ligety, ganhou a prova com uma segunda descida impressionante, fazendo com que o lider da prova até entao, o austriaco Benjamin Raich, cometesse um erro durante a sua descida.

Depois da prova, voltei para Torino e encontrei o pessoal do forum italiano em uma pizzaria, porque dia 14 de fevereiro é dia de San Valentino (dia dos namorados), e o pessoal se reuniu para falar bobagem. Cansado da viagem de volta, fiquei esperando com o Marcio até quase 1 da manha pelo onibus para voltar para casa. Sem falar que tinha que acordar cedo no dia seguinte (porque tinha duas provas para assistir).

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Dia 11: Sestriere Borgata (Treino Combinado Masculino) - Treino Sem Bola

(Segunda, 13 de fevereiro) Se 8 horas de transito nao fosse o suficiente, ainda tinha que acordar no dia seguinte, novamente as 6 da manha, para voltar a Sestriere para trabalhar na Zona Mista.

A Zona Mista, o lugar onde os jornalistas entrevistam os atletas, tem que estar preparada mesmo durante os treinos, porque sempre tem alguem querendo fazer uma entrevista.

Hoje seria o meu dia de experiencia para saber o que fazer no dia 17, dia em que vou trabalhar na Zona Mista durante um dia de prova. Entretanto, parece que estava todo mundo de ressaca, inclusive os atletas, porque estava muito tranquilo. Era o treino para a prova Combinada Masculina (soma uma descida de Downhill com duas de slalom), que vai ser amanha. Fiquei praticamente o tempo inteiro assistindo o treino pelo simples motivo que nao tinha o que fazer.

No treino, comecei a entender o porque de que alguns esquiadores fazem tempos ruins. A ordem de largada é definida de acordo com o tempo do treino. Os 30 primeiros largam em ordem invertida do resultado (o restante segue a ordem da classificaçao) e, segundo as declaraçoes dos técnicos, a neve esta melhor para quem larga primeiro. O que eles fazem para fazer um tempo alto é dar tudo até praticamente a ultima curva. Nessa hora, eles simplesmente... freiam! Chegam devagar, quase parando (para quem estava andando a 120 por hora). Teve um hoje que tentou fazer isso e chegou tropeçando pela linha de chegada). Por isso, o resultado do Downhill do frances foi ainda mais impressionante. Ele ficou sempre entre os primeiros nos treinos e no "treino oficial" ele foi o mais rapido, o que fez com que ele largasse em 30o no dia da prova, o que nao seria bom pelo tipo de neve.

Nao sei quem é que acha que essa forma de determinar a largada funciona, mas é bom ver que, nem sempre quem banca o esperto acaba ganhando.

Dia 10: Sestriere Borgata (Esqui Alpino - Downnhill Masculino) - Passa uma tarde....engarrafado em Sestriere

(Domingo, 12 de fevereiro) Tudo bem, eu pedi por isso, mas nao precisava exagerar.

Dia 12 nao era meu dia de trabalho quando recebi o horario, mas eu pedi para trabalhar simplesmente porque era o dia da prova mais tradicional do esqui alpino, o downhill, ou como os italianos falam, "descida livre".

Basicamente, é velocidade pura, uma chance so, uma descida so, e o mais rapido ganha. Porém, ao contrario do que parece (e voces vao ler o porque no proximo dia), tem um pouco de estratégia.

O dia começou cedo, as 6 da manha. Me arrumei correndo, cheguei as 6:30 (prestem atençao no horario) no ponto de onibus mas, como era domingo, o onibus demorou quase meia hora para chegar (o maximo que dizia no ponto era 20 minutos). Cheguei na estaçao central da cidade, a Porta Nuova, e peguei o trem das 7:40...que so saiu as 8:05 (nas outras vezes que eu subi, sempre saiu no maximo com 5 minutos de atraso). Cheguei na estaçao de Oulx 9:10 para pegar o onibus dos volutarios, que a essa altura ja nao se sabia qual era o dos volutarios ou o dos turistas. A regra era: vai para Sestriere Borgata, entra. Mais 45 lentos minutos para chegar a praça de Kandahar (nao faço a menor idéia porque da homenagem) em Sestriere, para esperar o onibus circular que desce até Borgata, uns 5 minutos de viagem. Mas a muvuca era tanta que tinha uns 30 voluntarios tentando pegar o onibus (torcedores pegavam o teleférico). Mais alguns minutos chega o "pullmino" (também conhecido como van) para os voluntarios, que fez com que, depois da revista de segurança, quase as 10:30, eu chegasse para o trabalho.

Quando cheguei, a sala de imprensa estava no agito total. Gente sem cadeira para sentar, reporteres assistindo a outra coletiva de imprensa (a patinadora Michelle Kwan anunciando a sua desistencia), o diretor do centro de Borgata andando para tudo quanto é lado, uma loucura. Como eu nao estava oficialmente escalado, fiquei ajudando na sala de imprensa, ficando de plantao para alguma duvida ou pedido de jornalista, o que nao foram muitos, mas até o inicio da prova o lugar estava muito agitado.

Durante a prova, no entanto, a sala fica praticamente vazia, o que nao signfica que fica todo mundo quieto. Ainda mais quando o frances Deneriaz, que largou em 30o (uma posicao muito baixa para um concorrente forte), surpreendeu todo mundo, inclusive o austriaco Walchhofer, que ja achava que tinha ganho a prova, e colocou mais de 7 décimos de vantagem e ganhou a prova. O frances que estava distribuindo as fotos, parou bestificado e soltou um alto e sonoro "YES" e os reporteres que estavam la começaram a procurar no sistema quem era o tal cara que saiu la atras e ganhou a prova.

No final, o Nikolai, brasileiro que disputou a prova, ficou em 43o (de 55, nao foi tao ruim). Apos a prova, a sala volta a encher para a coletiva de imprensa dos primeiros lugares. Enquanto isso, quando eu vejo, chega o Pedro Bassan, vermelho de frio depois da prova, depois de entrevistar o Nikolai durante um bom tempo.

Parece que acabou, mas tem a volta.... Chegando no ponto do onibus, umas 4 e pouco da tarde, ficamos esperando pelo tal circular que nao aparecia, acabamos pegando carona com um brasileiro que trabalha no controle de doping e tinha um amigo italiano que estava dirigindo. No meio da subida, parou tudo, parecia engarrafamento na Niemeyer (sem as favelas). Contudo, ninguém bancou o esperto para furar fila. O jeito foi sair do carro e caminhar para pegar o onibus que ia para Torino pela rota alternativa (aquela que eu falei no dia 3, que vai por Pinerolo). No meio do caminho, eu e o Henrique pegamos o onibus direto para Torino e, la pelas 8 horas, estava chegando em Torino.

Valeu a pena ter trabalhado, mas nao imaginava que seria essa confusao.

Dia 9: Cesana Pariol (Luge Simples) - É rapido, nao foi?


(Sábado, 11 de fevereiro) Quem leu como foi a minha experiencia de 4 anos atras em uma pista de luge/bob/skeleton (vide os primeiros posts) viu como foi problematico. Neve, muito frio, sem lugar direito para ver a pista, enfim nao foi a melhor competicao que eu ja vi.

Sabado, felizmente, a coisa foi diferente. Se nao estava fazendo efetivamente calor, ao menos o sol estava la. A pista também é bem melhor do que a de Park City, porque permite ver boa parte do percurso final, coisa que para uma pista dessas (onde a subida é muito forte) é algo raro.

Logo que eu cheguei, a primeira pessoa que eu vejo é o Joao Pedro Paes Leme entrevistando o Renato Mizoguchi, que se classificou mas nao pode participar por conta de um acidente muito sério. Fui la dar um alo e quando eu vi, tinha um microfone na minha frente. Me lembro de ter falado alguma coisa mas nao sei se pode ser aproveitavel na TV.

Sobre a prova, comparando com o skeleton, o luge é um pouco mais rapido, mas parece maior, porque dava para ver mais do luge na pista mesmo de longe. O segredo do esporte (pelo pouco que eu percebi) é entrar o mais alto na curva para depois aproveitar o embalo nas retas. O problema é quando tem gente que acha que consegue ir alto e acaba batendo nas paredes, como aconteceu algumas vezes.

Tirei fotos de varios lugares da pista inclusive da largada, que dessa vez so pode entrar na arquibancada se tiver um cracha como o meu, que tem o "4". Alias, o cracha esse ano parece que esta abrindo mais portas do que em 2002.

A prova de sabado foi o primeiro dos dois dias da prova de luge simples (1 atleta). Cada dia tem duas descidas. Quem sobrou na pista no dia foi o italiano Armin Zoeggler (que tem fa clube com onibus e tudo mais), que no dia seguinte confirmou o favoritismo e defendeu o titulo de 2002. Mas ele, de fato, parecia fazer tudo mais facil do que os outros.

No intervalo entre uma descida e outra, fizeram um palco com DJs e banda de rock (ou algo parecido) para entreter e nao matar o publico de frio, porque a segunda descida foi feita totalmente a noite, e quando o sol some aqui, ainda mais no meio das montanhas, faz frio.

sábado, fevereiro 11, 2006

Dia 8: Nao é Mole nao

(Sexta, 10 de fevereiro) Estou aproveitando o fim de festa aqui no Soundtown para as ultimas do dia.

Hoje foi dia de visitar o ponto principal da cidade, a Mole Antonelliana. E a construçao mais alta da cidade e dentro tem o Museu Nacional (Italiano) de cinema. A paisagem de cima é a melhor coisa do lugar, ainda mais como hoje que dava para ver toda a cidade E os alpes, fato nao muito comum devido a nevoa de fumaça (conhecido como 'smog' em ingles) que assola a cidade.

Dentro, no museu do cinema, tem uma parte dedicada a historia do cinema, como chegou até os irmaos Lumiere (com todos os tipos de ilusao de otica e instrumentos utilizados no seculo XIX). Eles fazem uma nota importante ao mencionar que teve gente que inventou o cinematografo mas nao patenteou a invençao, enquanto quem tinha dinheiro acabou ganhando mais ainda.

Na saida, "encontrei" com a tocha olimpica, que estava dando uma passada pela Mole. Como nao pude ver ontem a noite a chegada na cidade valeu a pena os empurroes e o frio.
A noite, conforme o combinado nos dois foruns, nos encontramos para ver a cerimonia em um bar daqui chamado "Soundtown". E quando estavamos preparando para ver o Brasil entrar no estadio, entra o comercial da RAI, que so voltou quando era a vez do Canada. Tinhamos até a bandeira brasileira aqui, que acabou fazendo sucesso. O lugar agora deu uma esvaziada, mas estava bem cheio ate bem pouco tempo atras, nos dois andares, sendo que o subsolo tinha um telão na parede e a sala cheia de cadeiras. Foi a unica oportunidade de reunir todo mundo porque a partir de agora cada um vai ter um trabalho diferente em lugares diferentes e horarios diferentes.

Amanha tem as primeiras provas e vou ver a de Luge. Depois conto mais.

Arrivederci

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Dia 7: Cesana - Claviere: SAI DA FRENTE!

(Quinta, 9 de fevereiro) Ir para trabalhar em Sestriere é meio demorado, mas vale a pena, ir para o mesmo lugar (ou um pouco antes) para esquiar, vale ainda mais.

Tinha combinado com um pessoal do Forum Internacional para esquiar, e apos algumas mudancas de planos, ficou para essa quinta. A regiao de Sestriere é chamada de Via Lactea e tem varias cidades interligadas, de modo que voce pode esquiar so em algumas delas. O meu passe dava direito a regiao de Cesana e Claviere. Chegando la, aluguei os esquis e avisei que so tinha esquiado 4 dias na minha vida (em tres lugares diferentes, modéstia a parte).

Pois bem, entramos no teleférico que começou a subir...




E a subir.....




E a subir.....





E a subir um pouco mais.....




Quando chegamos la em cima o pessoal disse "Vamos". Como assim, vamos? Nao entenderam a parte do "4 dias"? Aqui as pistas sao divididas em 4 niveis. Eu so tinha esquiado nas duas primeiras na vida e, 4 anos depois da minha ultima descida, me botaram para encarar a segunda mais dificil.

O que se seguiu foi um festival de tombos e escorregoes, felizmente sem nenhuma gravidade, embora teve umas aberturas de perna que me fizeram lamentar nao me alongar um pouco mais antes de subir. O pessoal foi extremamente paciente e diante da minha experiencia prévia, fui bastante elogiado, como se tivesse alguma escolha na hora (a regiao nao é muito boa para iniciantes).

Ao final, morto de cansado, tinha uma ribanceira que eu disse "Chega" e desci sem os esquis. Quando chegamos la, o teleferico que ia levar a gente de volta ja tinha parado e fizemos a longa descida pela estrada de neve, que nao foi de todo muito ruim.

Ao chegar em Torino, a unica coisa que eu queria era comprar alguma coisa para comer em casa e dormir. Durante o jantar, fiquei vendo alguns minutos do "Grande Fratello 6". Sim, a versao italiana do Big Brother. Vocês acham que ver o Bial por 90 minutos é muito? Imaginem que o programa de eliminaçao daqui dura nada menos que 3 HORAS!!! E a eliminação ocorre no MEIO do programa!!!

Dia 6 (Parte 2): Meninos eu vi, ma che spetacolo!!

Saindo correndo do museu, fui para o ensaio geral da cerimonia de abertura, pois o horario maximo de entrada que tinham avisado era as 18:30. Quando cheguei la, uma fila enorme ainda estava se formando. A diferença para as filas do Maracana é que ninguém fica dando uma de espertinho ou fica tentando sair correndo achando que vai perder alguma coisa. Além disso, como "A Marcha dos Pinguins" mostrou muito bem, muita gente junta no frio gera um certo calor (e na hora eu me sentia como um), o que tornou a espera menos complicada.

O Stadio Comunale é um estadio antigo, e por isso nao tem as modernidades de uma "arena" multiuso, mas esta impecavel e isso é o que importa. Depois da fila, fui ao meu lugar marcado....que nao existia!!!! Tinha uma escada no lugar. Prevendo isso, o pessoal botou uma seçao inteira para esses casos, o que para mim foi uma vantagem porque o outro lugar era muito baixo.

Bom, nao vou adiantar muito do que vi, mas foi uma cerimonia muito boa. Nao vai ser nada marcante, a nao ser que alguma das surpresas façam alguma diferença. Mas teve de tudo: criancinha cantando, painel humano, peças meio surreais. A simulaçao é quase completa porque afinal de contas é o ensaio geral. Tem algumas coisas engraçadas porque, por exemplo, quando chamam o presidente do COI, aparece um voluntario (e o pessoal aplaude assim mesmo). O unico que falou (mas nao foi o discurso que vai ser feito hoje) foi o presidente do TOROC, o comite organizador, que jogou para a platéia.

O Brasil entrou ao som de Michael Jackson (podia ter sido pior, 30 segundos antes tocava "I will survive"), enquanto o estadio veio abaixo quando veio a "delegaçao" italiana, a unica que tinha muitos voluntarios entrando no estadio, ao som de YMCA. Alias, a trilha sonora estava muito boa. No mais, teve simulaçao da tocha (o que deu para descobrir é que o Alberto Tomba, famoso esquiador italiano nos anos 80 e 90) NAO vai ser quem vai acender a tocha, "revoada" das pombas (uma forma artistica para substituir a revoada das pombas, que foi proibida depois do "churrasco" em Seul 88), contagem regressiva, enfim, quase tudo igual.

A experiencia foi unica, depois do fim do ensaio fiquei caminhando mais um tempo no gramado (que tem lugares pagos) olhando para o lugar. Para quem puder ver hoje, ou ao menos gravar, a primeira meia hora e mais interessante.

OBS 1: Tenho que dar razao ao Schumacher, nao da para nao reger o hino da Italia.
OBS 2: Nunca batam palmas no frio sem luvas.

Dia 6 (Parte 1): Turismo Torino

(Quarta, 8 de fevereiro) Quarta foi dia de fazer um pouco de turismo na cidade. A primeira parada, antes de qualquer coisa, foi o Museu do Automovel (Voces achavam que eu ia aonde sendo aqui a fabrica da FIAT?).

O lugar é muito interessante para quem gosta de carro, mas pode agradar so quem esta de passagem pela historia da regiao. No inicio do Seculo XX tinham varias fabricas de carro aqui na regiao, mas so a FIAT sobreviveu.

Mas o melhor mesmo esta no ultimo andar, com os carros de Formula 1. Tem Ferrari do Schumacher, Sauber do Pedro Paulo Diniz, mas os destaques sao a Ferrari de 1980 do Villeneuve (pai), a Ferrari 156 de 1961 e a Mercedes do Fangio de 1954. Desnecessario dizer que cansei de tirar foto, pena que nenhuma de dentro do carro (mas o pessoal da NBC que estava la tirou, e so para quem pode mesmo)

Nas fotos abaixo, primeiro o Piquet de Pirelli, o depois fotos da Mille Miglia e por fim fotos do Giro. As duas ultimas da primeira metade do século passado. Fazem parte da exposição temporária que tinha no museu sobre a evolução dos pneus.



A tarde, foi a vez do Museu Egipcio. Para quem nao sabe aqui e o segundo maior museu, depois do Cairo, pelo menos e o que dizem. E como uma visita ao Egito esta longe de acontecer, serve esse aqui. No inicio parecia ser uma enganacao, com uns vasos que poderiam muito bem ter sido comprados na Ilha de Marajo, mas a partir da sala das estatuas a coisa muda. Muita gente importante estava la: Ramses, Amon Ra, a esfinge (um primo mais pobre). So Tutancamon nao apareceu. Além disso tem Papiros, Mumias (muitas), e uma parte que conta como foi o fim da civilizacao egipcia, com a entrada do imperio romano (algo que nunca tinha entendido nos livros de historia). No geral, valeu a pena.

Dia 5: The Twilight Zone

(Terça, 7 de fevereiro) Terça foi o meu primeiro dia de trabalho para valer. Quer dizer, ainda nao é aquele movimento, mas ja estava em ritmo de Olimpiadas. Antes do trabalho, fomos para a parte de Borgata (Sestriere tem duas subsedes, Colle e Borgata) para termos um mini-treinamento na zona mista, que é o lugar onde os atletas saem depois da prova e os jornalistas ficam se matando para conseguir uma declaraçao.

Logo ao chegar, vi uma coisa meio estranha. Sentados em um morro, tinham uns 6 caras com cara, e vestidos como, do pessoal que serve de guia para quem vai ao Himalaia. A sensaçao, com o frio e tudo, ao ver a cena, era de estar indo ao Everest, e nao para uma tenda em Borgata (ao invés da Mixed Zone, a cena estava mais para a Twilight Zone - "Além da Imaginaçao" no Brasil)

Na regiao da Zona Mista (que é onde todos os voluntarios querem ir, inclusive eu, mas tem até lista de espera) tivemos algumas explicaçoes e depois fizemos nosso primeiro trabalho: retirar os plasticos da empresa que fez as cercas de proteçao, que nao é "fornecedor oficial" (para voces verem como é a coisa por aqui).

Depois do almoço, fui para o Help Desk, onde a funçao principal agora é ajudar os jornalistas que estao chegando, distribuindo kits, entregando chaves de armario e preparar o lugar para os proximos dias (colocando avisos, caixas de recebimento, etc...)

Foram cinco horas doidas, porque a cabeça tinha que trocar de lingua a todo momento: de italiano para ingles para frances (e uma hora até Portugues com um argentino que tambem esta trabalhando la). No final, estava com dor de cabeça mas extremamente satisfeito, porque era isso mesmo que eu estava esperando.

Domingo volto para Sestriere, desta vez ja com as coisas andando a pleno vapor.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Dia 4: Quem é o responsavel?

(Segunda, 6 de fevereiro) Aparentemente, Torino nao parece estar ligando muito para os Jogos. Digo isso porque segunda eu tentei visitar qualquer coisa aqui na cidade, depois de dormir até um pouco mais tarde, e simplesmente NENHUM museu ou palacio estava aberto na segunda. Nao sei o que o secretario de turismo daqui pode fazer a respeito, mas realmente acho um absurdo.

O jeito foi dar uma caminhada a pé pelo centro, depois de ter tentado uns dois ou tres lugares. Assim, finalmente pude constatar o que eu achava antes de chegar aqui: quase todos os lugares turisticos estao a 15 minutos de distancia, no maximo, uns dos outros.

O centro é a regiao historica, com os prédios mais antigos, mas a cidade parece ser monocromatica (esse negocio de so ouvir italiano da nisso). Algo entre o bege e o marrom. A cidade é muito sem graça, apesar dos esforços e das obras. Alias, obra aqui nao é so para os Jogos. O metro, que esta sendo inaugurado essa semana, so vai acabar em 2010, e outras obras nao estao nem ai para os Jogos, ja faziam parte do cronograma e pronto.

A visita turistica ficou para depois. A noite, fomos encontrar com os italianos do forum Amici Noi, um dos dois forums que eu entrei para me informar sobre a cidade e os Jogos. No dia seguinte, seria o meu primeiro dia (para valer) de trabalho.

Dia 3: Ainda bem que sao so 3 horas

(Domingo, 5 de fevereiro) No domingo, o dia amanheceu mais feio do que de costume (o tempo aqui nao e dos mais simpaticos). Mas nosso destino era Sestriere, para nos apresentarmos oficialmente. Embora eu tivesse um horario marcado, ja tinha sido avisado que nao havia pressa, porque nao havia o que fazer naquele dia (de fato a inauguracao "soft" so foi na terça).

Entao, saimos com calma para pegar o onibus para pegar o trem para Oulx para pegar o onibus até Sestriere (so para voces verem o caminho). Chegando na estaçao de trem (Porta Nuova), vimos que perdemos o trem por 5 minutos e o proximo so ia sair dentro de 2 horas e meia (afinal de contas e domingo).

O jeito entao foi pegar a rota alternativa. Para chegar a Sestriere por Torino tem dois caminhos, o Norte (que eu expliquei acima) e o Sul, que consiste em pegar o trem ate Pinerolo, um onibus ate Pragelato e outro onibus até Sestriere. O caminho do Norte e mais longo, mas e mais rapido (por conta das paradas e esperas), mas ao inves de esperar no frio da estaçao de trem, resolvemos tomar o outro caminho.

Chegando em Pinerolo, fizemos amizade com um senhor italiano que esta trabalhando como acompanhante da delegaçao chinesa. Logo, veio outra moça com um cachorro (que tambem entrou no onibus) e começaram a conversar sobre lugar de trabalho, horarios, etc... Como deu para perceber, basta ter dois italianos para se ter uma discussao mais acalorada (mas ordeira).

Pegamos o onibus e fomos até Pinerolo. Nesse caminho, o tempo estava horrivel, com névoa e muito frio, mas foi so passar as nuvens que finalmente vimos o sol e a paisagem dos Alpes.

Sinceramente, nao tem palavras para descrever o lugar. Qualquer foto que voce bate parece ser de cartao postal. A neve cobrindo tudo, as casas na montanha, parece tudo de cinema. Até de noite a regiao é bonita. Foi aquela levantada de animo para viajar até la.

Umas 3 horas e meia depois de sair de casa, chegamos a Sestriere e ao Pallazzetto dello Sport, uma espécie de ginasio onde é a sede de imprensa das montanhas. Devidamente acompanhados pelos nossos futuros chefes e colegas de trabalho. Demos uma volta pelo lugar, caminhamos por todos os lugares onde vamos trabalhar (e comer), encontramos o Henrique, o terceiro brasileiro que vai trabalhar la, e voltamos para casa, dessa vez pelo lugar mais rapido (SO duas horas e meia).

So que uma coisa é certa, eu sei que parece masoquismo, mas com certeza eu nao troco nunca essa viagem de duas horas e alguma coisa para chegar la por qualquer trabalho aqui em Torino. E mais tarde voces vao ver porque.

Dia 2: Saudades Imorredoras da Superstore

(Sábado, 4 de fevereiro) Nao foi proposital, mas acabou sendo uma especie de transicao de 4 anos atras.

Depois do incidente do dia anterior, tudo o que eu queria era so diminuir um pouco a rotacao. Entao, sai com o Marcio para pegar o uniforme dele. Na volta, por volta da hora do almoco (onde tudo fecha por umas 3 horas) encontramos um chines que ia passar a noite aqui em Torino la no nosso apartamento e depois ia seguir para Bardonecchia, onde arranjaram um lugar de graça (alguns tem mais sorte que os outros).

Como ele estava meio perdido, resolvemos acompanha-lo. So que o cara era muito roda presa, nao tinha vontade de visitar nada, enfim, parecia que so queria literalmente passar o dia aqui sem fazer (e gastar) nada.

Entao, acabamos indo parar na Superstore, que este ano nao esta na Olimpic Square, mas na Piazza Vittorio Venneto, que e a maior praça da cidade. Dessa vez, ela esta menor, mais baixa e mais discreta (com uma tenda vermelho escuro). Mas continua a mesma.

Quando eu entrei, parece que eu tinha retornado uns 4 anos. Era quase tudo igual, com algumas poucas modificacoes: as roupas na parte central, os collectibles no lado esquerdo, os pins e os souvenirs na parte de tras, os vendedores com cara meio cansada, meio entediada (so quem esteve la sabe como é essa cara). Até as roupas dos vendedores eram muito parecidas (o colete vermelho parecia ser exatamente o mesmo, so com o logo de Torino de diferente). Apesar de todas as semelhanças, os unicos que trabalharam em 2002 e estavam la eram os seguranças australianos, com quem eu falei com um deles e até tirei foto.

Confesso que, na hora, apesar de estar satisfeito de nao estar trabalhando de novo la, bateu uma saudade de 2002. Como eu nao tinha ainda comecado a trabalhar aqui, foi mesmo uma sensacao de transicao entre SLC e Torino.

Esse ano, entretanto, tem menos coisa para vender, e o impeto do pessoal (era sabado a noite e a loja estava cheia) parecia ser menor. Inclusive, na hora que chegamos, a loja estava meio em panico porque o sistema de cartao de crédito na cidade tinha caido. Eu mesmo tinha tentado sacar algum dinheiro e nao consegui naquele dia. O tal segurança lembrou que,uma noite em 2002, so a loja tinha derrubado todo o sistema do cartao de crédito da costa leste. Nao duvido que tenha acontecido o mesmo.

Depois disso, foi dormir e voltar para casa, porque o dia seguinte ia ser puxado.

Dia 1: O dia de 48 horas

Buon Giorno, aqui estou eu depois de um dia muito intenso ontem, por isso mesmo que eu ja havia avisado que poderia nao dar para atualizar com mais frequencia, mas vamos as novidades.

(Sexta, 3 de fevereiro) A viagem em si foi bastante tranquila, embora muito cansativa. O pouso em Paris foi muito bom, considerando que a cidade estava sob forte neblina (mereceu aplausos) e o voo até Milao foi muito tranquilo, com direito a vista panoramica do Monte Branco. O unico problema foi que eu nao consegui dormir mais do que umas 4 horas durante todo o voo, o que fez com que a quinta feira parecia nao ter terminado.

Entao....ao chegar em Milao, tive a desagradavel surpresa de ver que o voo em que o Marcio (meu colega de quarto aqui em Torino) so chegaria as 17 horas ao inves das 14:30. Culpa da Varig. Achando que saberia me virar sozinho, cansado e impaciente, la fui eu as 15:30 pegar o onibus do aeroporto Malpensa até Torino. O problema era que eu achava que sabia aonde seria o nosso ponto de encontro com os Italianos que iam fazer um comite de recepcao. (Como se diz no Beisebol = Strike 1)

Cheguei no ponto final do onibus e, surpresa, nao tinha ninguem la. Ainda assim, continuei insistindo no erro e fui de taxi ate o Centro de Credenciamento e entrega de Uniforme (veja o post abaixo) com uma mala de 26 kilos (Strike 2) e chegando la, sai perguntando para todo mundo aonde era o tal Centro, e depois de algumas tentativas, consegui deixar a mala na porta do Meridien de Lingotto (mais tarde eu explico o que e esse lugar) e fui pegar as coisas.

Peguei aquela sacola enorme que eu falei no post abaixo e fui com ela E a mala buscar um taxi (que descobri rapido), e fui ate o endereco que me dissseram, Via Roveda 13/c. (A proposito, taxista aqui nao sabe muito nome de rua) Cheguei la, fui ver os moradores e surpresa(!) nao havia ninguem com o nome de Davide, o dono do apartamento, que eu fui descobrir que tinha se mudado para la a pouco tempo e alem disso nao tinha mudado o nome na campainha do apartamento. (Strike 3 e fui eliminado)

Cansado e sem muita disposicao de esperar no frio, pedi para o motorista encontrar o primeiro hotel que tinha pela frente (que doeu um pouco no bolso, mas nessa hora é o poder do cartao de credito), comi uma pizza (que parecia ser a melhor que eu ja comi) e deitei na cama. Acordei no dia seguinte as 7, caminhei ate o apartamento (era uns 800 metros distantes do hotel) e vi que o Davide colocou o nome dele na campainha. Problema resolvido.

As boas noticias disso tudo é que, primeiro meu italiano melhorou muito rapido e que, depois desse "imbroglio", as coisas melhoraram bastante como voces vao ver (podem respirar tranquilos em casa).

Arrivederci